segunda-feira, 7 de abril de 2008

MAIOR DESIGUALDADE SOCIAL

De uma forma incompreensível, a comunicação social praticamente ignorou um relatório do INE sobre a distribuição dos rendimentos das famílias portuguesas publicado na passada semana. De facto, apenas a imprensa especializada em assuntos económicos lhe dedicou atenção, apesar do seu importantíssimo significado para a compreensão das actuais tensões da sociedade portuguesa e para a avaliação social dos resultados das actuações políticas governamentais entre 1995 e 2005.

Entre os vários aspectos referidos naquele relatório, destaca-se o acentuar da diferença entre os rendimentos das famílias mais ricas e mais pobres. Numa década, esse fosso duplicou. Enquanto em 1995 o rendimento médio das famílias mais ricas era 4,6 vezes superior ao das famílias mais pobres, em 2005 esse valor passou a ser de 8,9.

Significam estes números que nesta década os rendimentos das famílias mais ricas cresceram muito mais do que os rendimentos das famílias mais pobres. Muito significativo e com consequências sociais mais gravosas é o facto de as famílias mais ricas terem visto os seus rendimentos crescerem 1,4 vezes mais que as famílias da chamada classe média, que, por sua vez, ainda conseguiu afastar-se cerca de 1,3 vezes das famílias mais pobres.

Trata-se de uma tendência generalizada para a qual a OCDE tem lançado avisos, pelo que Portugal não está sozinho neste problema. Já a Espanha e a Irlanda viram diminuir o fosso na mesma década, o que é politicamente muito significativo.

A globalização será uma das causas deste fenómeno, ao eliminar as protecções das sociedades dos vários países, colocando-as em competição directa na produção económica e acentuando assim as desvantagens das menos preparadas.

Um dos aspectos cruciais a ter em conta para dar a volta a esta situação, e o mais rapidamente possível, sob pena de a nossa sociedade se tornar cada vez mais terceiro-mundista, é a educação. De facto, a maior vantagem comparativa das famílias mais ricas relativamente às outras está na qualidade da educação que podem oferecer aos seus filhos e que lhes permite aceder mais facilmente a carreiras em áreas competitivas a nível internacional.

É absolutamente crucial alterar radicalmente o panorama da educação em Portugal se queremos uma sociedade menos desigual. Se a escola pública continuar a ser dominada por teorias educativas ultrapassadas centradas no aluno e no seu bem estar, a desigualdade social continuará a aumentar e a média geral a descer. Não adianta atribuir diplomas para melhorar artificialmente as nossas estatísticas a nível internacional. O que é necessário e urgente é esquecer todo este passado e introduzir sem receios critérios de rigor e exigência absolutos, desde o 1º ao 12º anos e obrigar as escolas a cumpri-los sem contemplações.

Publicado no Diário de Coimbra em 7 de Abril de 2008

domingo, 6 de abril de 2008

SONDAGENS E PERSPECTIVAS

Sem que tal tivesse suscitado grandes comentários dos responsáveis partidários (et pour cause...), o Expresso publicou ontem os resultados de uma sondagem sobre as perspectivas actuais dos portugueses sobre os partidos políticos e a governação:
- PS: 42,1%
- PSD: 29,4%
- CDU: 9,6%
- BE: 8,4%
- CDS: 6,0%
Partindo destes valores, o Expresso conclui que há uma viragem à esquerda no país, somando os partidos à Esquerda do PS 18%, o que já não sucedia desde 1979, verificando-se que a descida do PS corresponde a um ganho desses partidos, não sendo absorvida pela Direita.
Esta lembrança de 1979 não deixa de ser curiosa, já que foi precisamente nesse ano que a AD ganhou as eleições pela primeira vez.
Claro que as indicações desta sondagem são preocupantes para a Direita, quer para o PSD, quer para o CDS.
Parece óbvio que os eleitores, ao afastarem-se do PS e do Governo, não encontram respostas aos seus problemas nos partidos da Direita, indo refugiar-se à Esquerda.
Os eleitores querem respostas e vão tentar encontrá-las onde pensam que elas estão e já poderão ter retirado a maioria absoluta ao PS.
Quer isto dizer que o PSD necessita urgentemente de mostrar que tem essas respostas e a credibilidade para as concretizar, sob pena de não estar à altura das suas responsabilidades, com as consequências que se adivinham.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

HERBERT VON KARAJAN

Passam hoje cem anos sobre o nascimento do maestro Herbert von Karajan, considerado por muita gente como o maestro mais importante do século XX.
Como não podia deixar de ser, aqui fica um momento único da sua carreira e da história da música:
o primeiro andamento da 5ª de Beethoven, com a sua filarmónica de Berlim

AMVOX

O amigo JPF a quem dediquei a primeira mensagem sobre o AMVOX2 Chronograph DBS acaba de me informar sobre o seu verdadeiro custo, o que agradeço.
Como agora se diz, "então é assim":
O brinquedo para o pulso custa uns meros 23.000 Euros; se for comprado com o carrito, fica apenas em 15.000 Euros o que convenhamos, é uma pechincha. Ver aqui e aqui.
Três notas importantes:
1)
Fico satisfeito por estes comentários já terem despertado o interesse de mais alguém por estas matérias.
2) Garanto aos visitantes mais politizados que estes comentários não têm qualquer mensagem política subliminar.
3) Para evitar mal-entendidos, informo que não possuo qualquer máquina deste género, nem conto algum dia vir a possuir.




AMVOX

O amigo Fernando questionou-me sobre o preço do relógio AMVOX2 Chronograph DBS a que me referi dois comentários abaixo.
Não sei qual o preço, embora possa fazer uma ideia por comparação com outras peças do mesmo género, isto é, não me surpreenderia se custasse à volta dos 40 ou 50 mil euros. Tal como o Aston DBS deverá custar uns 250 a 300 mil euros.
Nestes casos o preço não me interessa para nada. Como disse, trata-se apenas de admirar construções mecânicas absolutamente excepcionais realizadas pelo génio humano, que se aproximam de verdadeiras obras de arte. No caso do relógio, basta imaginar o que serão mais de trezentas peças em movimento perfeitamente coordenado e controlado, a funcionarem num espaço reduzido, em condições de falta de estabilidade e mantendo a máxima precisão. Quanto ao automóvel, será uma das construções mecânicas mais sofisticadas dos dias de hoje, recorrendo a soluções de engenharia mecânica, de materiais e de electrónica extremamente avançadas que, eventualmente, um dia serão mais ou menos comuns nos restantes automóveis a preços já abordáveis pela maioria dos mortais. Claro que o luxo de materiais e acabamentos também ajuda ao preço destes produtos.
Como disse, estas peças aproximam-se muito de obras de arte. As obras de grandes artistas, como as pinturas de Paula Rego na actualidade,
por exemplo, atingem igualmente valores astronómicos, acessíveis a muito poucos afortunados.
Não é o facto de atingirem valores astronómicos que nos vai impedir de admirar estes produtos do engenho humano, sabendo-se bem que a sua posse é de facto privilégio de um número reduzido de pessoas, esperando-se apenas que os possuam não só por os poderem adquirir, mas porque conhecem bem o que significam culturalmente.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Governo pelo privado

Os senhores Secretários de Estado do Ministério da Educação reuniram-se hoje com representantes dos professores em Coimbra.
A reunião decorreu nas instalações de uma escola privada, no caso a Bissaya Barreto. Sem ironia, regista-se o bom gosto e o sinal dado à sociedade em geral sobre a opção pelo privado dos senhores Secretários de Estado.

terça-feira, 1 de abril de 2008

AMVOX2 Chronograph DBS

Penso que nesta altura do campeonato os meus fieis leitores já terão percebido o meu interesse por relógios mecânicos, principalmente se forem bonitos e tiverem grandes máquinas lá dentro.
Hoje apresento uma das peças mais extraordinárias que apareceram nos últimos tempos.
Trata-se do AMVOX2 Chronograph DBS. Alguns notarão as letras AM e DBS e poderão achar algo estranho o seu aparecimento na designação de um relógio.
De facto não é uma coincidência. AM são mesmo as iniciais de ASTON MARTIN. E DBS, bem, é isso mesmo, refere-se a essa máquina impressionante e o sonho de qualquer amante de bons automóveis que é o Aston Martin DBS.
O relógio a que me refiro é pois o resultado de uma colaboração entre a Jaeger-LeCoultre e
a Aston Martin e como tal só podia ser uma coisa absolutamente extraordinária.
Trata-se de um cronógrafo produzido numa série extremamente reduzida em que em vez de se carregar nos botões tradicionais para o fazer trabalhar, se carrega muito simplesmente no cimo e no fundo do mostrador.
Para além do feliz e merecidamente bem sucedido comentador que consegue fazer do círculo um quadrado, só conheço uma pessoa que mereceria inteiramente possuir uma jóia destas que é o meu amigo JPF.
Aqui fica a imagem daquilo que estou a descrever, se conseguirem desviar a vista do animal de quatro rodas que está ao lado:



VERDADES DURAS COMO PUNHOS


No passado fim de semana, António Borges deu uma entrevista ao Público onde, a certa altura, disse o seguinte:
"Os factos são o que são. Em 2005, fui ao Congresso do PSD e apresentei uma moção onde me disponibilizei para ajudar o PSD a ter uma oposição mais activa em relação ao Governo. O congresso teve lugar no fim-de -semana e na segunda-feira, logo de manhã, fui chamado ao gabinete do ministro Manuel Pinho que me comunicou que todos os contratos com a Goldman Sachs estavam cancelados a partir daquele momento".
Após estas afirmações, o ainda ministro Manuel Pinho pretendeu desmentir António Borges garantindo que honestamente não se lembra de ter falado com ele.
Dois comentários:
-Em primeiro lugar, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. No momento em que António Borges devia ter assumido a sua candidatura não teve coragem para o fazer; se o tivesse feito, mesmo perdendo, estaria hoje numa posição completamente diferente perante os militantes do PSD que, embora tendo muitos defeitos, apreciam sobretudo quem tem coragem para ir à luta. Com isto não quero dizer que não tem hipóteses: tem apenas que sair da redoma intelectual e ir à luta pura e dura dos argumentos políticos, para além da técnica.
- Em segundo lugar, a actuação do ministro Manuel Pinho que politicamente não é ninguém, é bem a imagem dos dias de hoje, em que um Estado cada vez mais omnipresente põe e dispõe na área económica. Em vez de colocar a economia em cima e apoiar as pequenas e médias empresas como lhe competia, trata de manipular cada vez mais os grandes negócios em função de objectivos políticos.
Apesar de tudo, António Borges fez muito bem em se afirmar com esta entrevista. É de atitudes destas que o país precisa; de quem seja capaz de apresentar caminhos diferentes e de os sustentar devidamente do ponto de vista técnico.
Doutor António Borges: que não lhe doa a mão e não se fique por Alter do Chão.




A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR ALI?

Os cubanos foram autorizados a dormir em hotéis até agora reservados a estrangeiros.
Esta pequena manifestação de liberdade dada aos cubanos no seu próprio país será utilizada por muito poucos, dada o baixíssimo nível dos ordenados em Cuba, mas vale pelo significado.
Segue-se à autorização de comprar fornos de microondas, leitores de DVD, computadores e uso de telemóveis por particulares.
É o próprio regime comunista que, na sua fase moribunda, vem confirmar as correntes com que tem limitado a liberdade dos cubanos.

segunda-feira, 31 de março de 2008

ESCOLA SEM EDUCAÇÃO



Após a divulgação do vídeo do sucedido numa aula na Escola Carolina Michaëlis no Porto, reproduzido até à náusea pelas televisões, assistimos agora à reprodução de dezenas de outros, mostrando outras tantas situações semelhantes em salas de aula por todo o país.

Podemos assim concluir que aquele caso não foi isolado, antes um entre tantos, o que dá um novo significado ao sucedido. A publicação daquele vídeo, em si mesma um acto inteiramente condenável, correspondeu ao destapar de uma caixa de Pandora, expondo a toda a sociedade um problema gravíssimo que andava mais ou menos escondido em toda a sua dimensão.

Passados alguns dias, é já possível retirar algumas conclusões, mesmo por um cidadão comum, não especialista em questões educativas, ou violência no meio escolar.

Todos fomos bombardeados com inúmeras análises e teses sobre “indisciplina escolar”, “recuperação da autoridade da escola”, “estatuto do aluno”, “faltas disciplinares”, etc. etc. Foi até possível ouvir justificações da atitude daquela aluna e dos seus colegas, através daquelas análises sociológicas a que já nos vamos habituando, e que dão origem à generalizada desresponsabilização que vai grassando por todo o lado.

As imagens daquele vídeo chocaram-me, no entanto, por algo que não tem sido relevado. Perante a apreensão do seu telemóvel pela professora, a aluna reagiu exactamente da mesma forma que o faria se tivesse sido um colega a tirar-lho. A atitude e a linguagem perante a professora não se distinguem em nada do relacionamento que todos os dias observamos entre jovens daquela idade.

Isto é, para aquela aluna, dentro da sala de aula, a professora está exactamente ao mesmo nível que os seus colegas, não se apercebendo da diferença essencial de papéis entre alunos e professor.

A meu ver, este será o aspecto mais grave de toda esta situação, até por ser o mais difícil de resolver.

As situações pontuais de violência ou indisciplina são ultrapassáveis com recurso ao exercício de autoridade, seja pelos órgãos da escola, seja pelas autoridades judiciárias se a esse ponto for necessário chegar.

Mas a completa falta de formação em termos cívicos patenteadas por aquelas imagens, aquilo a que muitos chamam simplesmente falta de educação, é resultado de muitos anos de abandalhamento e de desistência do papel educador, tanto por muitos pais como por escolas.

Os processos de reformas dos últimos anos também não ajudaram nada ao colocarem nos professores o ónus público da responsabilidade pelo insucesso escolar, retirando-lhes boa parte da respeitabilidade social de que sempre gozaram de forma merecida. Nos últimos tempos os próprios professores também não ajudaram muito, ao adoptarem alguns comportamentos públicos menos próprios da sua condição de educadores, como foi possível ver nas suas últimas manifestações.

Muitos alunos, com deficiente formação de base, digerem esta agitação convencendo-se de que os professores são iguais a eles, não entendendo o erro dessa percepção.

A bem de uma formação educativa completa dos nossos jovens que tão necessária é para o nosso futuro colectivo, espera-se que todos os actores relacionados com estas questões sejam capazes de colocar interesses imediatos de lado e se entendam para inverter o caminho seguido até aqui.

Publicado no Diário de Coimbra em 31 de Março de 2008