segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Morreu Alexandre Soljenitsyne



Dia triste para a humanidade.
A sua obra é um monumento de amor aos homens e à humanidade em geral.
Nunca esquecerei como ele descreveu passagens da revolução soviética e do regime de Lenine que eram exemplos simples do "verdadeiro socialismo".
Por exemplo, o chamado "partido dos engenheiros". A certa altura o "partido" necessitava que os comboios andassem ininterruptamente de um lado para o outro. Pois bem, os engenheiros de manutenção dos caminhos de ferro informaram que os comboios deveriam parar para olear e outras coisas o género. O "partido" entendeu que os engenheiros tinham formado o seu partido reaccionário e contra-revolucionário e deu-lhes o respectivo destino. Claro que passados poucos meses o sistema ferroviário bloqueou por falta de manutenção.
Para azar do Vasco Gonçalves e seus camaradas de 75 havia por aí muita gente que já tinha lido o "Pavilhão dos Cancerosos", o "Arquipélago de Goulag" e "Um dia na vida de Ivan Denisovitch" pelo que as tentativas de atitudes deste género fracasaram.
No seu tempo Alexandre Soljenitsine fez mais pela liberdade que muitos outros que se consideram a si mesmos verdadeiros arautos da mesma.
A propósito, não consta que após a queda do regime da ex-URSS o escritor tenha constituído uma fundação , nem recebido um monumento nacional do Estado para se instalar.

PAGAR A HORAS




Existe um problema quase endémico na economia portuguesa, que consiste no sistemático atraso nos pagamentos.
A Associação Industrial Portuguesa publicou recentemente dados sobre este problema, tendo concluído que 75% das empresas portuguesas têm problemas com atrasos de pagamento.
Refira-se que atraso de pagamento significa que o comprador do bem ou serviço não efectua o pagamento dentro do prazo que foi acordado entre as partes, seja esse prazo de 30 dias, seja de qualquer outro prazo. O que interessa aqui é que o pagamento seja feito quando a outra parte está legitimamente a contar com ele.
De acordo com a Intrum Justitia, os países europeus em que as facturas são pagas com mais atraso são a Grécia, Chipre e Portugal, sendo os países do Norte da Europa aqueles que revelam maior grau de cumprimento nesta área.
É possível verificar assim uma certa permissividade quase cultural em alguns países do Sul da Europa no que toca à falta de pontualidade nos pagamentos, mas onde já não constam a Espanha ou a Grécia.
O atraso no recebimento das facturas traduz-se para qualquer empresa numa taxa escondida, que a leva muitas vezes a defender-se, atrasando os pagamentos aos seus próprios fornecedores. De facto, é a própria sobrevivência dessa empresa que pode ser colocada em causa. Assim se entra numa espiral com grandes custos para a economia na sua globalidade.
Com vista a transformar este “ciclo vicioso num que seja antes virtuoso”, a ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores), lançou um programa chamado “Compromisso Pagamento Pontual”.
Ao aderirem voluntariamente a este compromisso, as empresas comprometem-se, sob sua responsabilidade, a efectuar o pagamento pontual aos seus fornecedores.
Por algum lado se teria que cortar este ciclo vicioso. Está provado que os meios coercivos não funcionam em Portugal, por motivos culturais, por falta de responsabilidade generalizada, por puro oportunismo e cupidez, ou ainda por falta de resposta dos tribunais em tempo útil.
O estabelecimento de uma cultura de responsabilidade e de respeito pelos outros actores na economia é essencial para uma sã competitividade, que se reflecte obrigatoriamente na competitividade nacional.
Para quem está há muito habituado ao actual estado de coisas nesta área, este desafio pode parecer ingénuo ou até inútil. Não é ingénuo, porque parte de quem conhece a fundo o funcionamento da economia, e só seria inútil se por distracção ou falta de responsabilidade os responsáveis das empresas não lhe prestassem atenção.
Sucede que neste momento já largas dezenas de responsáveis de empresas assumiram publicamente o “Compromisso Pagamento Pontual”, colocando uma boa parte da economia portuguesa dentro do tal ciclo virtuoso.
Ao contrário de muitas más notícias da economia, estas são claramente boas notícias, esperando-se que muitos mais gestores e empresários sejam chamados a esta linha de responsabilidade, para o que poderão ir ao portal da Internet com o endereço:
http://www.ver.pt

Publicado no Diário de Coimbra em 4 de Agosto de 2008

domingo, 3 de agosto de 2008

PRAIAS

Por falar em praias,

OS RAPAZES DA PRAIA

A praia traz velhas recordações de tempos despeocupados, como esta música recorda:
BEACH BOYS a surfar na Califórnia nos anos sessenta

quinta-feira, 31 de julho de 2008

CAVACO

Cavaco Silva demonstrou que pode haver diferença fundamental relativamente à falta de rigor e de carácter que domina a nossa vida política há demasiados anos. Claro que o facto de todos os deputados da AR, incluindo os do PSD terem aprovado aquela barbaridade jurídica ajuda à manifestação de independência de Cavaco.
Mesmo assim, hoje pela primeira vez na vida, senti-me cavaquista.
Haja Deus.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 29 de julho de 2008

REGRESSO AOS CLASSICOS

Concerto nº5 de Beethoven (Imperador) tocado por Maurizio Pollini com a Filarmónica de Viena dirigida por Karl Bohm.

PONTE RAINHA SANTA ISABEL




Vinda do nada, apareceu a necessidade de responsabilizar alguém pelo atraso e pelo brutal valor de trabalhos a mais ocorridos aquando da construção da Ponte Rainha Santa Isabel inaugurada há quatro anos.
Assim de repente ocorrem-me dois ou três nomes óbvios, mas vamos aguardar no que isto vai dar.
Dois ou três aspectos são para já óbvios.
Em primeiro lugar já apareceu quem "lembrasse" que Manuela Ferreira Leite produziu o decreto que autorizou a ultrapassagem dos valores legais para trabalhos a mais existentes à altura. Como a ponte tinha que ser feita antes do Euro e os problemas foram herdados pelo governo de Durão Barroso, é um pouco como querer matar o mensageiro das más notícias.
Em segundo lugar, é no mínimo curioso que o projectista da ponte de Coimbra tenha agora sido novamente escolhido para projectista de uma ponte de grande relevância como é a terceira travessia de Lisboa, sendo conveniente limpar a sua imagem gravemente lesada com os problemas do projecto da Ponte Rainha Santa Isabel e talvez encontrar um bode expiatório conveniente, talvez mesmo a empresa construtora que até já não é portuguesa e cujo negócio nesta coisa são números.
Depois, vai entrar em vigor dentro de dias a nova legislação de contratação de obras públicas e serviços que permite apenas 5% de trabalhos a mais (no balanço de trabalhos a mais e a menos, sem referir se da mesma espécie), mas que curiosamente, ou talvez não, pode ir até 50% na soma de trabalhos a mais e erros e omissões.
Vamos ver em que dão os jogos de espelhos que nos vão ser oferecidos com esta questão e que ninguém nos tente tomar por parvos.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

NOITES BRANCAS EM COIMBRA


Já por diversas vezes aqui abordei a problemática do comércio dito tradicional, que exerce a sua actividade no centro da Cidade, a chamada Baixa de Coimbra.
É frequentemente apresentado o contraponto com o comércio dos centros comerciais, sendo certo que um e outro tipo de comércio tem vantagens e inconvenientes para os compradores que são, ao fim e ao cabo, quem decide a escolha dos locais das suas compras.
Uma das desvantagens comparativas do comércio de rua é o seu horário de abertura. Outras são as acessibilidades nomeadamente o estacionamento, a animação e ainda o chamado “mix” de oferta comercial.
Com o objectivo de demonstrar que é possível diminuir ou mesmo eliminar estas desvantagens, a APBC (Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra) organizou mais uma vez aquilo a que chamou “Noite Branca” na última sexta-feira do passado mês de Junho, naquela que foi já a terceira edição da iniciativa. A “Noite Branca” consistiu numa alteração dos horários dos estabelecimentos comerciais aderentes que tiveram as suas portas abertas entre as 21 e as 24 horas. Em simultâneo, houve animação de rua que não esteve circunscrita a locais fixos, antes percorreu as ruas principais da Baixa. A animação de rua abrangeu diversos tipos de actividades culturais com actuações de grupos de fados, grupos de folclore, teatro de rua, danças de rua, grupo de jazz e um quarteto de flautas do Conservatório de Música de Coimbra.
Largas dezenas de lojas aderiram à iniciativa, um pouco por toda a Baixa. Os visitantes contaram-se por milhares. As lojas aderentes, na sua maioria, reconheceram que as vendas foram excelentes nessa noite, traduzindo-se a iniciativa num sucesso do ponto de vista comercial. Uma das áreas comerciais que mais beneficiou foi a restauração da Baixa que serviu muito mais jantares do que é habitual. Este aspecto aliás, não deverá ser esquecido em futuras edições de “Noites Brancas” que poderiam e deveriam ser mais frequentes.
Ficou provado que o comércio tradicional pode ter futuro, desde que consiga ultrapassar algumas limitações próprias e desvantagens artificiais que muitas vezes lhe são impostas, por vezes com as melhores intenções, como as limitações de acessibilidades. Provou-se ainda que o associativismo dos comerciantes é crucial para ultrapassar algumas dificuldades pontuais.
Mas se uma “Noite Branca” pode mostrar o caminho, não resolve os problemas existentes, sendo necessário e urgente encarar questões como a flexibilização dos horários de segunda-feira a sábado, a capacidade de atrair e manter formas de animação com carácter de permanência, ampliar os acordos já existentes com os parques de estacionamento da Baixa, dar a conhecer melhor os transportes públicos que já hoje servem o “canal” e, eventualmente, estudar e aumentar as zonas com acesso a táxis.
Apesar de tudo isto, esta “Noite Branca” foi realmente um sucesso, estando de parabéns os organizadores, designadamente a “Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra” que, com grande esforço conseguiram ultrapassar algumas grandes dificuldades (que as houve) e mostrar à Cidade e aos comerciantes da Baixa um caminho de sucesso que é possível trilhar.

Publicado no Diário de Coimbra em 28 de Julho de 2008

domingo, 27 de julho de 2008

SÁ CARNEIRO E A ÂNSIA DE CHEGAR AO PODER

Sérvulo Correia é um distinto jurista, advogado de sucesso e Professor Universitário de Direito de Lisboa, a quem o jornal Sol resolveu dedicar a entrevista de fundo da revista Tabu deste fim-de-semana.
Sendo um figura pública de grande merecimento nacional, percebe-se a oportunidade da entrevista, a qual tem aliás o subtítulo de "advogado do regime".
Sucede porém que na entrevista são abordados determinados aspectos relacionados com a fugaz passagem de Sérvulo Correia pela política que são muito interessantes e fazem mesmo pensar sobre o actual estado do país e, em particular, do PSD.
Recorde-se que Sérvulo Correia foi militante do então PPD desde a primeira hora, tendo abandonado o partido aquando da famosa debandada das famosas "opções inadiáveis" ocorrida em 1978 antes da formação da AD, acontecimento que deixou marcas ainda hoje detectáveis no PSD. Nessa altura 42 deputados eleitos pelo PSD abandonaram o partido, , em choque com o líder do partido Sá Carneiro, sem largarem os seus lugares na Assembleia da República. Boa parte deles vieram a integrar a ASDI, transitando posteriormente para o PS, o que aliás não aconteceu com Sérvulo Correia.
Segundo Sérvulo Correia, enquanto "Sá Carneiro tinha ânsia de chegar ao poder, nós queríamos uma oposição responsável".
E aqui bate o ponto desta entrevista. De facto, Sá Carneiro era visto como irresponsável por muito boa gente que se queria dar bem com o PS e com o PSD , porque queria a todo o custo acabar com a nefasta influência dos militares e colocar Portugal na senda das democracias ocidentais não tuteladas com a maior rapidez possível. Teve que se confrontar na altura com metade do próprio PSD, com os militares e com o próprio Presidente da República de então, Ramalho Eanes.
A análise do que se passou desde então leva Sérvulo Correia a concluir que o tempo lhe deu razão. Eu só posso concluir exactamente o contrário.
No início dos anos oitenta Portugal poderia ter dado o salto, mas acabou por perder tempo e energias que ainda hoje andamos todos a pagar, tais foram os excessos do gonçalvismo, rumo ao socialismo.
Cabe-nos recordar a memória de Sá Carneiro e não aceitar o cinzentismo das "opções inadiáveis" que por aí ainda perduram com outros nomes e que ajudam a impedir que a política seja uma actividade nobre de assumpção clara de alternativas para o doce deslizar para a bancarrota a que todos assistimos.