O título é tirado do artigo de João César das Neves publicado hoje no Diário de Notícias.
Basicamente o grande erro é a aposta nas obras públicas para enfrentar a crise.
Recomendo vivamente a leitura do artigo, que termina assim:
"Em momento de crise financeira seria tolice preocupar-se com o equilíbrio das contas. Esta é a altura de o Estado se endividar, como todos os parceiros fazem e o permite o Pacto de Estabilidade. Mas com a sua abordagem o Governo não cria apenas um défice conjuntural. Ao privilegiar as obras de longo prazo, em vez de descer impostos ou dar subsídios, Sócrates compromete a solidez estrutural das contas públicas. Após a crise, o próximo primeiro-ministro, quem quer que seja, repetirá o que o actual Governo teve de dizer em 2005 sobre austeridade. O erro de Sócrates é o mesmo de Guterres: bloquear com dívidas o próximo surto de crescimento económico."
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
(In)dependências
O facto de Portugal ser membro de pleno direito da União Europeia não nos deve fazer esquecer que somos igualmente um país com uma longa História de independência política, e que o primeiro dever dos nossos responsáveis é para com os portugueses.
As políticas comunitárias são, em teoria, boas para a Comunidade, o que não significa que sejam todas vantajosas para nós. Por isso mesmo, não podemos prescindir de duas coisas: em primeiro lugar, garantir que as políticas comunitárias sectoriais não nos prejudicam; em segundo lugar, evitar que as políticas internas não secundarizem o nosso próprio desenvolvimento económico relativamente à UE.
Olhando para os sectores agrícola e pecuário, é evidente que a taxa de cobertura das nossas necessidades é cada vez menor, contribuindo este sector de forma pesada para o défice das nossas contas externas. A diferença entre o que importamos e o que exportamos, em termos de alimentos e bebidas (incluindo carne, peixe, leite, ovos e mel), atingiu nos primeiros dez meses de 2008 o valor de 4.487 milhões de euros. No mesmo período, o défice total das nossas contas externas atingiu o montante de 13.900 milhões de euros; a parte referente aos alimentos absorve uma parcela de 32% daquele défice. Até nas pescas, sector em que tradicionalmente produzíamos o que necessitávamos e ainda conseguíamos exportar, se verificou naquele período um défice de 714 milhões de euros, o que diz bem das consequências do abate da nossa frota pesqueira, promovido e pago pela União.
Isto é, aquilo que todos vemos ao percorrer o país, o progressivo abandono do interior e das terras de agricultura, tem consequências terríveis em termos da nossa sustentabilidade económica. Claro que se olharmos para a Europa, só a Alemanha e a Polónia produzem o suficiente para alimentar todos os países da União. Compreende-se bem que estes países façam os possíveis para proteger a sua produção, baixando as quotas dos restantes. Nós é que não podemos deixar-nos ir nessa cantiga, devendo, isso sim, proteger o mais possível a nossa auto-sustentação em termos alimentares.
Acresce que o abandono das terras tem graves implicações na falta de equilíbrio da ocupação do território, com um crescimento exagerado das áreas metropolitanas, particularmente de Lisboa, e da desestruturação social inerente.
Está à vista de todos o resultado de mais de 20 anos de aceitação de subsídios europeus que se traduziram na destruição da nossa agricultura e da frota pesqueira. Tendo nós a maior ZEE da Europa, temos hoje em dia que importar a maior parte do peixe que consumimos, o que não deixa de ser espantoso.
Pugnar pela maior auto suficiência possível em termos alimentares, não é sinónimo de patriotismo serôdio ou de anti-europeísmo, mas de pura sensatez perante a possibilidade de crises como a que actualmente atravessamos.
Para além das discussões sobre a distribuição de verbas comunitárias, importa definir uma estratégia clara de recuperação da capacidade de produção agrícola e pecuária que nos permita obter um grau de independência mínimo.
Publicado no Diário de Coimbra em 9 de Fevereiro de 2009
As políticas comunitárias são, em teoria, boas para a Comunidade, o que não significa que sejam todas vantajosas para nós. Por isso mesmo, não podemos prescindir de duas coisas: em primeiro lugar, garantir que as políticas comunitárias sectoriais não nos prejudicam; em segundo lugar, evitar que as políticas internas não secundarizem o nosso próprio desenvolvimento económico relativamente à UE.
Olhando para os sectores agrícola e pecuário, é evidente que a taxa de cobertura das nossas necessidades é cada vez menor, contribuindo este sector de forma pesada para o défice das nossas contas externas. A diferença entre o que importamos e o que exportamos, em termos de alimentos e bebidas (incluindo carne, peixe, leite, ovos e mel), atingiu nos primeiros dez meses de 2008 o valor de 4.487 milhões de euros. No mesmo período, o défice total das nossas contas externas atingiu o montante de 13.900 milhões de euros; a parte referente aos alimentos absorve uma parcela de 32% daquele défice. Até nas pescas, sector em que tradicionalmente produzíamos o que necessitávamos e ainda conseguíamos exportar, se verificou naquele período um défice de 714 milhões de euros, o que diz bem das consequências do abate da nossa frota pesqueira, promovido e pago pela União.
Isto é, aquilo que todos vemos ao percorrer o país, o progressivo abandono do interior e das terras de agricultura, tem consequências terríveis em termos da nossa sustentabilidade económica. Claro que se olharmos para a Europa, só a Alemanha e a Polónia produzem o suficiente para alimentar todos os países da União. Compreende-se bem que estes países façam os possíveis para proteger a sua produção, baixando as quotas dos restantes. Nós é que não podemos deixar-nos ir nessa cantiga, devendo, isso sim, proteger o mais possível a nossa auto-sustentação em termos alimentares.
Acresce que o abandono das terras tem graves implicações na falta de equilíbrio da ocupação do território, com um crescimento exagerado das áreas metropolitanas, particularmente de Lisboa, e da desestruturação social inerente.
Está à vista de todos o resultado de mais de 20 anos de aceitação de subsídios europeus que se traduziram na destruição da nossa agricultura e da frota pesqueira. Tendo nós a maior ZEE da Europa, temos hoje em dia que importar a maior parte do peixe que consumimos, o que não deixa de ser espantoso.
Pugnar pela maior auto suficiência possível em termos alimentares, não é sinónimo de patriotismo serôdio ou de anti-europeísmo, mas de pura sensatez perante a possibilidade de crises como a que actualmente atravessamos.
Para além das discussões sobre a distribuição de verbas comunitárias, importa definir uma estratégia clara de recuperação da capacidade de produção agrícola e pecuária que nos permita obter um grau de independência mínimo.
Publicado no Diário de Coimbra em 9 de Fevereiro de 2009
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Baixa
sábado, 7 de fevereiro de 2009
GOULD E BACH
Bom fim de semana.
Para tal, nada melhor que descansar e ouvir isto:
(Concerto brandeburguês nº 5)
Para tal, nada melhor que descansar e ouvir isto:
(Concerto brandeburguês nº 5)
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
A PORSCHE COMPROU A VOLKSWAGEN
É uma daquelas coisas quase impossíveis de imaginar. Uma marca de automóveis desportivos e exclusivos que produz uns meros 100.000 automóveis por ano compra o maior fabricante de automóveis da Alemanha, tendo adquirido acções que representam mais de 50% do capital e garantido opção de 74%. Como diz a FORTUNE deste mês,David compra Golias.
Para tornar tudo ainda mais interessante, em 1992 a Porsche caminhava a passos largos para o abismo.
Hoje em dia, consegue ganhar uma média de 14.000 dolares por cada carro que vende e está sentada em cima de 20.000 milhões de dólares, que é mais do que o Estado americano está a injectar na GM, Ford e Chrysler juntas, para as salvar. Não posso deixar de comentar que o Estado português, sem mexer uma palha para o fabricar, ganha muito mais por cada Porsche vendido em Portugal que o próprio fabricante.
Tudo isto foi possível graças à acção do presidente da empresa que entrou em 1992 e deu a volta à situação, tendo transformado uma fabrica tradicional a perder qualidade numa sofisticada empresa ultra moderna e com a qualidade máxima do mundo automóvel, ainda por cima dando muito lucro, como se vê. Ao lado, apostou num "hedge fund" bem controlado que lhe permitiu chegar a um ponto em que as venda dos carros representam apenas 12% dos lucros da Porsche.
Notável. Claro que quando criticam o Eng. Wendelin Wiedeking por ganhar 100 milhões de dólares por ano, ele riposta calmamente que os merece. E nem a crise global afecta o seu negócio.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Os amigos de Alex
Não sei a que propósito, algum dos jovens cá de casa resolveu colocar o DVD "The big chill". Deve ser para provocar este cota, mas a carapaça já é grande, if you know what i mean. Para o pessoal amigo(amigos de Alex?), aqui fica o funeral do Alex, com a sua banda sonora.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
FELIX MENDELSSOHN BARTOLDY
VENDE-SE SAAB E VOLVO
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
GOVERNAÇÃO E SEXUALIDADE
Pelos comentários excitados por todo o lado (ainda há pouco no RCP) a grande vantagem da nova primeira-ministra da Islândia é ser lésbica. Por mim, pensava que a sexualidade não tinha nada a ver com as capacidades governativas de alguém, mas pelos vistos agora passou a ser uma vantagem competitiva.
Crise e confusões ideológicas
A actual crise económica e financeira tem servido para os maiores desvarios ideológicos. Generaliza-se a ideia de que a solução dos nossos problemas está exclusivamente no Estado, porque é um actor racional, ao contrário do Mercado, que deu provas de se comportar irracionalmente. Esquece-se assim, de um fôlego, a história empresarial como um dos grandes progressos da humanidade, que funcionou, com o racionalismo que usa para as decisões, como base de todo o desenvolvimento dos últimos duzentos anos. Para alguns mais saudosos dos tempos de brasa de Vasco Gonçalves, os problemas da banca resolver-se-iam mesmo pela sua nacionalização sistemática.
Como responder a isto? Basta recordar que na base da actual crise mundial estão os chamados “produtos tóxicos” financeiros. Estes tiveram origem no “subprime” norte-americano, uma criação do Estado, repleta de boas intenções, para que toda a gente pudesse ter acesso a casa própria nos EUA. Passou-se isto ainda no tempo de Clinton; entretanto, os fundos Fannie Mae e Freddie Mac cresceram de tal maneira que levaram a uma valorização excessiva do mercado imobiliário. A consequência imediata é bem conhecida: toda a chamada banca de investimento foi infectada, seguindo-se, por contágio, a banca comercial e a chamada economia real.
Ouvi alguém defender recentemente que a política é como um pêndulo: umas vezes balança para a direita, outras vezes para a esquerda. Segundo essa teoria, quem ganha as eleições é quem estiver no centro do pêndulo no momento certo. Para ganhar eleições, tudo o que então seria preciso é ter a argúcia de ocupar esse sítio no momento das eleições. Quando o pêndulo anda mais à esquerda, tiram-se do bolso umas medidas sociais fracturantes; quando o pêndulo puxa mais para a direita, arranja-se algo em conformidade.
Assim se compreende melhor a proposta abstrusa dos casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo feita neste momento específico, dois meses depois de ter sido recusada pelos actuais proponentes.
Parece que há quem ache que a aceitação dos métodos que os Estados estão a usar para combater a crise significa que o eleitorado passou a defender mais Estado, logo, está mais à esquerda no espectro ideológico. Estes métodos, recorde-se, consistem em injectar dinheiro dos impostos actuais e futuros para cima dos problemas. No meio disto, só o ministro das Finanças parece não ter perdido o Norte, porque reconhece calmamente que os actuais governos se vêem obrigados a navegar sem GPS, isto é, às cegas.
Há mesmo por aí quem recorde que já Hegel defendeu algures que o Estado é o centro da ideia ética, e que, perante a actual situação, deverá ser o mesmo Estado a moralizar o capitalismo. Doce engano. Perante a economia, se o Estado cumprir aquilo para que serve, isto é, cumprir leal e rigorosamente as suas funções reguladoras e de supervisão, já ficaremos todos satisfeitos. Ninguém na economia precisa que o Estado lhe venha dizer o que deve produzir, quando e como.
Publicado no Diário de Coimbra em 2 de Fevereiro de 2009
Como responder a isto? Basta recordar que na base da actual crise mundial estão os chamados “produtos tóxicos” financeiros. Estes tiveram origem no “subprime” norte-americano, uma criação do Estado, repleta de boas intenções, para que toda a gente pudesse ter acesso a casa própria nos EUA. Passou-se isto ainda no tempo de Clinton; entretanto, os fundos Fannie Mae e Freddie Mac cresceram de tal maneira que levaram a uma valorização excessiva do mercado imobiliário. A consequência imediata é bem conhecida: toda a chamada banca de investimento foi infectada, seguindo-se, por contágio, a banca comercial e a chamada economia real.
Ouvi alguém defender recentemente que a política é como um pêndulo: umas vezes balança para a direita, outras vezes para a esquerda. Segundo essa teoria, quem ganha as eleições é quem estiver no centro do pêndulo no momento certo. Para ganhar eleições, tudo o que então seria preciso é ter a argúcia de ocupar esse sítio no momento das eleições. Quando o pêndulo anda mais à esquerda, tiram-se do bolso umas medidas sociais fracturantes; quando o pêndulo puxa mais para a direita, arranja-se algo em conformidade.
Assim se compreende melhor a proposta abstrusa dos casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo feita neste momento específico, dois meses depois de ter sido recusada pelos actuais proponentes.
Parece que há quem ache que a aceitação dos métodos que os Estados estão a usar para combater a crise significa que o eleitorado passou a defender mais Estado, logo, está mais à esquerda no espectro ideológico. Estes métodos, recorde-se, consistem em injectar dinheiro dos impostos actuais e futuros para cima dos problemas. No meio disto, só o ministro das Finanças parece não ter perdido o Norte, porque reconhece calmamente que os actuais governos se vêem obrigados a navegar sem GPS, isto é, às cegas.
Há mesmo por aí quem recorde que já Hegel defendeu algures que o Estado é o centro da ideia ética, e que, perante a actual situação, deverá ser o mesmo Estado a moralizar o capitalismo. Doce engano. Perante a economia, se o Estado cumprir aquilo para que serve, isto é, cumprir leal e rigorosamente as suas funções reguladoras e de supervisão, já ficaremos todos satisfeitos. Ninguém na economia precisa que o Estado lhe venha dizer o que deve produzir, quando e como.
Publicado no Diário de Coimbra em 2 de Fevereiro de 2009
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