segunda-feira, 6 de julho de 2009

OS PROBLEMAS E AS RESPOSTAS


Assistimos nas últimas semanas à publicação de um importante documento sobre a situação económica do país assinado por um conjunto de especialistas oriundos de diversas áreas sócio-profissionais e políticas, apelando a uma reavaliação dos grandes investimentos públicos.

Esse apelo parte do conhecimento da evolução de uma série de indicadores económicos preocupantes, desde o ano de 1999, abrangendo portanto a actuação de vários governos.

Transcrevem-se esses indicadores:

“(i) A taxa potencial de crescimento da economia

caiu de um valor médio anual de 3% para

1% ainda antes da actual crise internacional;

(ii) o défice externo (corrente + capital) situou-

se, em média, em 8% do PIB desde 1999,

atingindo 10,5% em 2008;

(iii) a dívida externa líquida cresceu de 14% do

PIB, em 1999, para cerca de 100% em 2008;

(iv) a dívida pública directa (a que há que a

somar a indirecta) cresceu de 56% do PIB em

1999, para 67% em 2008;

(v) a dívida pública indirecta subiu vertiginosamente,

sendo já 10% do PIB no sector público

dos transportes e de outro tanto, com tendência

crescente, nas parcerias público-privadas

(PPP).”

A situação descrita é impressionante, ainda mais se lhe juntarmos os dados comparativos sobre a evolução da nossa economia e dos nossos parceiros neste mesmo período, como bem analisou Pedro Jordão nas páginas deste jornal há uma semana. Entre 1997 e 2002, o nosso PIB per capita cresceu a uma média de 1,9% contra 3,4% na Grécia, 4,7% na Hungria ou 6,5% na Irlanda. No período seguinte, entre 2002 e 2007, o crescimento entre nós foi de 1,1%, comparado com o de 3,5% na Grécia, 3,8% na Hungria e de 3,2% na Irlanda.

Foram dez anos seguidos em que nos afastámos consistentemente da média Europeia, para pior. Esta evolução negativa foi acompanhada por uma descida constante da nossa competitividade.

Estes números, verdadeiramente assustadores e até aflitivos, traduzem no seu conjunto uma situação de crise nacional que ultrapassa, e muito, a crise conjuntural da economia mundial que infelizmente veio adensar ainda mais as nuvens negras do nosso horizonte.

A líder do PSD tem dito que é necessária uma política de verdade, e tem razão, ainda que não gostemos de o ouvir. Bem mais fácil parece ser esquecer a realidade e acreditar em optimismos sebastianistas e demais crendices. Ao contrário do que por aí se tem escrito, uma política de verdade não é uma solução salvítica nem muito menos um programa político: é um compromisso que deve ser assumido colectivamente, primeiro para saber o que se passa e depois para uma avaliação rigorosa das diversas opções colocadas aos eleitores portugueses.

Aquele apelo publicado teve como resposta contra-documentos, de outros economistas que defendem a realização das grandes obras públicas para sair da crise. Como sabemos, em cada dois economistas haverá duas opiniões – ou mesmo três, como Churchill gracejava a respeito de Keynes.

Mas há algo que o apelo público já conseguiu: divulgar informação que normalmente só está à mercê de especialistas e colocar discussão onde só parecia haver evidências. Só por isto já não foi um serviço pequeno o prestado aos portugueses.


Publicado no Diário de Coimbra em 6 de Julho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O novo conflito de gerações

Citação:
Falando sobre conflitos de gerações, o médico inglês Ronald Gibson começou uma conferência citando quatro frases:

1. "A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus."

2. "Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível."

3. "O nosso mundo atingiu o seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe."

4. "Esta juventude está estragada até ao fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como a juventude de antigamente... A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura."

Após ter lido as quatro citações, ficou muito satisfeito com a aprovação que os espectadores davam às frases.

Então, revelou a origem delas:

- a primeira é de Sócrates (470-399 a.C.)

- a segunda é de Hesíodo (720 a.C.)

- a terceira é de um sacerdote do ano 2000 a.C.

- a quarta estava escrita em um vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilónia e tem mais de 4000 anos de existência.

Fantástico!! Não mudou nada!!

Socialismo?

Paul Krugman, o Prémio Nobel de Economia recém elevado à categoria de guru económico da nossa esquerda, respondeu taxativamente o seguinte à pergunta da HBR sobre se esta crise reabilitou o socialismo: "Não. Reabilita o capitalismo regulado".
Bom dia.

terça-feira, 30 de junho de 2009

O nosso canguru


Como a Economist viu a última cimeira de líderes europeus que designaram Durão Barroso para um segundo mandato, sem deixarem, no entanto de lhe atirar umas pedras.

Diana Krall

Sabe bem ouvir (e ver, já agora), para descansar um pouco e recuperar forças:

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O SOCIALISMO REAL CAIU HÁ 20 ANOS



Está a passar relativamente despercebida a efeméride de um dos acontecimentos mais significativos do nosso tempo.

Foi em 1989 que uma das experiências sociais mais profundas e duradouras dos últimos séculos teve o seu fim simbólico, com a queda do Muro de Berlim em 9 de Novembro desse ano.

Terminava, assim, de forma inglória uma aventura que marcou de forma indelével quase todo um século da humanidade. E foi o povo anónimo que tomando nas mãos o seu futuro acabou com um sistema que tinha levado o mundo à beira do precipício do holocausto nuclear durante a Guerra Fria.

Não vale a pena analisar aqui as causas que no século XIX levaram ao surgimento e desenvolvimento do chamado Socialismo Real no início do século XX, nem sequer descrever a tragédia humanitária que constituiu enquanto existiu. A sua História ainda é suficientemente recente para todos nos lembrarmos disso. Por outro lado, ao desaparecer aquilo a que Churchill chamou de “cortina de ferro”, não há também qualquer razão para que persistam as posições de anti-comunismo. As aberrações comunistas que ainda subsistem, como Cuba e a Coreia do Norte, não têm qualquer relevância e apenas mostram, mais uma vez, como as ditaduras são incapazes de entender a passagem da História, e só subsistem como sistemas de poder pessoal.

A queda do Muro de Berlim foi o acontecimento que simbolizou as transformações do mundo comunista que terminaram na sua extinção. Curiosamente, foi o início dos trabalhos do Congresso dos Representantes do Povo em Moscovo, em 25 de Maio de 1989 que veio a determinar a implosão comunista.

Quando o líder soviético Mikhail Gorbachev abriu a porta às críticas, a liberdade entrou pelo Congresso em torrentes de tal forma violentas que o regime soviético acabou por ser destruído pelo seu interior.

O equilíbrio mundial instável e perigoso que existia no mundo pela existência de dois blocos ficou assim destruído, pelo súbito desaparecimento de um deles.

Em termos políticos, a nação líder do anterior bloco ocidental, os EUA, ficou notoriamente desorientada pelo desaparecimento do contraponto a nível mundial.

Em termos económicos, o mundo viu surgir um novo mercado gigantesco, muito desorganizado, mas que rapidamente evoluiu e deu origem a uma nova situação de liberdade de comércio e de trocas financeiras conhecido por globalização.

As ondas de choque tremendas de há vinte anos ainda hoje se sentem pelo mundo inteiro. Os desequilíbrios que então existiam estão, porém, notoriamente atenuados, havendo centenas de milhões de pessoas com acesso a níveis de vida e uma liberdade que eram impensáveis.

Não se pode deixar de considerar que a actual crise económica e financeira é igualmente uma consequência do que então sucedeu. A adaptação das estruturas de regulação económica internacional que foram pensadas para um contexto mundial completamente diferente não foi feita. Em consequência, o próprio sistema económico reagiu à euforia e artificialidade criada no mundo financeiro impondo uma correcção que se está a fazer com grande sacrifício por toda a parte.

A efeméride do desaparecimento do Socialismo Real merece bem ser recordada, ficando o ano de 1989 como crucial para toda a humanidade, pelas consequências que teve, está a ter e terá ainda por muito tempo.