O ano de 1969 encerrou uma década de enormes transformações sociais e de acontecimentos que vieram a marcar impressivamente a História posterior da humanidade, para o bem e para o mal.
Foi a década da guerra do Vietname e respectiva contestação política nos EUA, do desenvolvimento da música popular e do rock com o festival de Woodstock, do surgimento de novos hábitos sociais com a democratização da moda, do aparecimento da pílula e divulgação da sua utilização com novos comportamentos sexuais, das convulsões sociais surgidas com as revoltas da juventude nas universidades americanas e do Maio de 68 em França, da Revolução Cultural chinesa e do recrudescimento da Guerra Fria.
Foi também a década da nossa guerra Colonial e das revoltas estudantis de 62 e de 69, da emigração em massa para a Europa e os “bidonvilles”, da construção da magnífica ponte suspensa em Lisboa, do assassinato de Humberto Delgado, da substituição de Salazar por Marcelo Caetano, da Ala Liberal e da breve Primavera política e dos golos de Eusébio contra a Coreia do Norte no Mundial de 66.
Foi uma década de crescimento económico generalizado como nunca se tinha visto antes na História, mesmo entre nós.
Mas um acontecimento marca esse ano de 1969, pelo seu simbolismo e significado.
Faz hoje precisamente 40 anos que o primeiro homem pisou a Lua. Ainda me lembro de ser quase criança e ficar a ver a televisão a preto e branco para correr a chamar a família quando as imagens surgissem. O comandante da Apolo XI, Neil Armstrong, depois de uma descida perfeita do módulo Eagle sobre o Mar da Tranquilidade, pisou a superfície lunar e proferiu a frase inesquecível: “Um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a humanidade”. Para além das marcas físicas das pegadas e da bandeira cravada no solo, foi esta a frase que marcou o momento para sempre.
Para nós, portugueses, a comparação com os nossos navegadores de há 500 anos é inevitável. Trata-se de feitos de exploradores que foram até onde nunca ninguém tinha ido antes. Mesmo aquele desenvolvimento tecnológico que há 40 anos nos maravilhava, aparece hoje aos nossos olhos tão frágil como as cascas de noz em que viajaram Vasco da Gama e tantos outros. Aqueles sucessos não surgiram por geração espontânea. Os descobrimentos portugueses foram fruto de uma preparação sistemática, desde a plantação das árvores que permitiram a construção das naus até ao desenvolvimento de técnicas de navegação e conhecimentos astronómicos. A Apolo XI foi o resultado de uma manifestação deliberada de vontade do Presidente Kennedy, que em 1962 estabeleceu que até ao fim da década os americanos colocariam um homem na Lua.
Provavelmente. ainda hoje muita gente não acredita que já houve homens a caminhar no solo lunar. Mas tudo isto não faz esquecer a emoção e sensação estranha que foi sair para a rua naquelas noites, olhar para o nosso satélite natural e saber que estavam lá homens a fazer nem eles sabiam bem o quê, para além de trazer umas pedras, mas com a consciência clara de representarem um marco gigantesco na História da Humanidade.
Publicado no Diário de Coimbra em 20 de Julho de 2009