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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Vamos ver se entendi bem…
Segundo o Público de hoje, o actual Governo nomeou 1097 pessoas em “quase sete meses”, mais do que as 1094 nomeadas pelo primeiro governo de Sócrates em “dois meses e meio”. Título do Público: “Passos Coelho já nomeou mais pessoas do que o primeiro Governo de Sócrates”.
Devo dizer que tive de ler várias vezes a notícia para compreender a enormidade do raciocínio. O primeiro governo de Sócrates nomeou pessoas ao ritmo de 99 por semana, o de Passos Coelho ao ritmo de 37 por semana. Mas este último “nomeou mais do que o primeiro”.
Para fazer uma notícia daquelas podiam-se utilizar dois critérios: total de nomeações ao fim de um mesmo número de meses ou semanas (o método mais correcto) ou média de nomeações por mês ou por semana. Só assim se poderia comparar o que seria comparável. Comparar totais para períodos diferentes ou revela uma enorme ignorância, ou então intenções menos claras.
Já agora, por mero exercício contabilístico, vejamos o número médio de nomeações por semana dos últimos seis governos, sempre utilizando os números fornecidos pelo Público:
- Durão Barroso: 57 nomeações por semana
- Santana Lopes: 94 nomeações por semana
- Sócrates I: 99 nomeações por semana
- Sócrates II: 91 nomeações por semana
- Passos Coelho: 37 nomeações por semana
Suspeito que esta espécie de ranking não daria manchete do jornal, mas isto sou eu a pensar…
De resto, o trabalho de levantamento do Público nem sequer é muito fiável: hoje de manhã foi divulgado que, de acordo com números do próprio Governo, houve 1.682 nomeações (e não 1097), sendo que 962 foram reconduções. Há dia mais felizes na vida de um jornal.
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GUERRAS SEM GUERREIROS
Foi a partir do momento em que os militares desenvolveram os sistemas de navegação guiada por satélite, (mais tarde foram tornados disponíveis para usos civis, através do GPS que hoje usamos), que se desenvolveu toda uma tecnologia que está a definir novas formas de fazer a guerra. Quase todas semanas lemos notícias um pouco estranhas com títulos do género “Aviões teleguiados dos EUA matam quatro rebeldes no Paquistão”. São os famosos “drones”, que não são mais que pequenos aviões de guerra, equipados com mísseis, com sensores de tudo e mais alguma coisa, para além de câmaras especiais que lhes permitem “ver” de noite. Só lhes falta algo: piloto. São comandados à distância, aliás a uma distância de muitos milhares de quilómetros. A sala de comando situa-se bem no interior dos EUA, onde operadores de computadores com pequenos joysticks vão manobrando os “drones” por cima do território do outro lado do mundo, procurando os inimigos e eliminando-os um a um. O facto de usarem farda faz concluir que se trata de uma instalação militar, mas não transforma a atividade que lhes foi atribuída, que antigamente tinha um nome bem desagradável.
Como se isto ainda não fosse suficientemente mau, soube-se há poucos dias que já foi apresentado um novo avião de guerra, este de dimensões normais, que também não precisa de piloto. O software de que dispõe permite-lhe mesmo “tomar decisões” táticas por si mesmo, independentemente dos “controladores” à distância.
Muitas questões levantam estas novas e estranhas formas de fazer a guerra que, algo insolitamente, tornam cada vez mais atuais as palavras de Klausevitz sobre o significado da guerra vista como o prolongamento da diplomacia, por outros meios.
Se observarmos bem, não há guerra declarada no Paquistão. Mas os “drones” andam por lá a matar com o maior dos à-vontades, mais parecendo que desapareceram as fronteiras entre países. Por outro lado, a tecnologia que permite este tipo de guerra é demasiado sofisticada para que países pobres se possam defender. Acresce que, quem a possui, deixa de ter aquele aborrecimento de ter mortos em combate havendo, no entanto, cada vez mais “efeitos colaterais”. Na prática, o 11 de setembro fez confundir a guerra clássica com a luta internacional contra o terrorismo, levando as Forças Armadas a fazer “trabalho sujo” antes entregue a serviços secretos, o que a breve prazo bem poderá vir a tornar obsoleta a clássica organização militar dos países como Portugal.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 16 de Janeiro de 2012