jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Se recebemos recados de Belém, é justo mandar recados de volta
Amiguinho, o poder executivo não é em Belém. Para isso é preciso concorrer para S. Bento. Eu sei que começa tudo por B, mas ainda não é bem a mesma coisa.
A BANCA NA ECONOMIA E NA SOCIEDADE, HOJE
Um dos aspetos mais curiosos e menos falados da atual crise internacional tem a ver com o comportamento dos responsáveis dos bancos que, desde sempre, constituem uma classe à parte na sociedade em geral e económica em particular: os banqueiros. Longe de afirmar que os Bancos são os únicos responsáveis pela situação em que nos encontramos no ocidente, e sem embarcar nas teses da vulgata marxista sobre o assunto, parece-me no entanto estar à vista de todos que nos últimos quatro anos os bancos têm sido genericamente um problema em toda esta situação e não a solução. Nos Estados Unidos houve a falência do Lehman Brothers, mas os restantes bancos de grande (ou mesmo enorme) dimensão, foram alvo de uma gigantesca operação de resgate por parte das autoridades federais, que colocaram as rotativas a imprimir dólares a grande velocidade para fazer face à situação. Já na Europa, com medo da inflação, seguiu-se política diferente, tendo-se montado uma operação complexa entre os Estados, o BCE e os bancos em estes se puseram a defender as dívidas públicas ganhando dinheiro com isso, mas à custa da sua própria capacidade de financiamento do resto da economia, com as consequências que estão à vista de todos.
Há muito boa gente que pensa que se aos banqueiros fossem aplicadas as regras do mercado de exigir mais equidade e prémio do mérito que são aplicadas a toda a restante economia, nenhum deles estaria ainda hoje à frente das suas instituições bancárias. Ao contrário, o que se vê é que, apesar de tudo, os dirigentes supremos dos bancos continuam calma e placidamente a dirigir as suas operações financeiras e a receber prémios de milhões de euros ao fim do ano. Soube-se há poucas semanas que um banqueiro português a presidir a um banco inglês, se recusou a receber o seu prémio anual de milhões de euros, por o achar injusto, já que esteve incapacitado por doença durante uns meses; ficou bem a António Horta Osório, mas se não tivesse tido essa atitude, nenhum de nós saberia do valor daquele bónus, para além do seu ordenado de presidente do Lloyds Banking Group.
A crise, porque é muito profunda, está aí para durar ainda muito tempo. Infelizmente. Como se tem visto nas últimas semanas, o clima social não está muito calmo, com o surgimento de afirmações infelizes donde menos se esperaria, bem como reações as mais das vezes destemperadas e desajustadas. Mas as questões de fundo permanecem e a discussão do papel da banca na economia e da necessidade de mais equidade não é só necessária, mas mesmo urgente.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 30 de Janeiro de 2012
domingo, 29 de janeiro de 2012
Gente tonta a dirigir a UE
Há dias escrevi aqui sobre o disparate que representa a União Europeia lançar um embargo petrolífero ao Irão quando os seus membros em situação mais complicada, como a Grécia, França e Itália, estão absolutamente dependentes do petróleo iraniano. Parece, no entanto, que a Baronesa Catherine Ashton que, por escolha não se sabe de quem, dirige brilhantemente a política externa europeia, achava que depois de anunciar o embargo o conseguia realizar a prazo ou às pinguinhas, sem que o Irão reagisse. Mas o Irão acaba de demonstrar que está disposto a subir a parada neste jogo de poker que lhe propõem e ameaça cortar o petróleo à Europa já na próxima semana. A União Europeia vai por isso confrontar-se de imediato com um choque petrolífero a somar aos inúmeros sarilhos em que está envolvida. Eu só me pergunto como é que é possível termos tanta incompetência e falta de sentido da realidade à frente dos destinos da União Europeia. Porque o que os líderes europeus andam presentemente a fazer chama-se brincar com o fogo.