segunda-feira, 4 de junho de 2012

Nigel Kennedy / Purple Haze

CUSTOS A PAGAR


O que se tem passado com o chamado Metro Mondego, agora Sistema de Mobilidade do Mondego é demasiado grave para que alguém de Coimbra se possa abster de tomar posição sobre o mesmo.
Chegámos a um ponto em que pouco interessa quem fez ou deixou de fazer o quê. Essa análise far-se-á certamente quando chegar a hora do ajuste de contas político, que ocorrerá mais depressa do que se possa pensar e, ou muito me engano, ou gerará muitas surpresas.
O que agora verdadeiramente interessa é que, num tempo de comissões destinadas a suportar decisões políticas, não se deixe de manifestar que tudo tem um custo, pago por alguém.
As obras de reabilitação da antiga “linha da Lousã” já absorveram mais de cento e vinte milhões de euros. Faltará menos de metade disso para colocar os veículos (de rodas metálicas) a circular entre Serpins e Coimbra. Em tempo de reafectação de verbas do QREN conviria garantir a reserva do valor necessário para acabar as obras que, ao que se sabe, já pouco ou nada necessitarão do orçamento de estado. A necessária rentabilização da despesa já feita só se poderá fazer com actividade comercial, isto é, com a venda dos bilhetes, pelo que acabar a obra e colocar o sistema em funcionamento faz todo o sentido.
Mas tudo tem um custo, mesmo o que agora se passa. E os custos que estão a ser suportados pelos municípios atravessados pela linha e pelos seus munícipes, em resultado da actual situação, é elevadíssimo. Numa região que já evidencia algum grau de metropolização, não se pode eliminar um transporte de massa pré-existente, sem custos sociais e económicos insuportáveis.
Já não falo dos custos sociais e políticos consequência da consciencialização, por parte das populações, de que os decisores políticos eleitos democraticamente não cumprem as suas promessas concretas nem mostram diligência na gestão competente dos dinheiros públicos. Mais cedo ou mais tarde será o próprio sistema político ou mesmo o regime a ressentir-se disso.
Mas há de facto custos concretos, decorrentes da paragem do projecto, que eram evitáveis e que se podem contabilizar.
Os munícipes da Lousã, Miranda e Coimbra que utilizam os autocarros em vez do comboio têm os seus tempos de percurso diários e outros aumentados de uma forma extrema; para não falar da falta de conforto, o aumento de tempo médio associado ao nº de viagens dará uma ideia clara de uma das parcelas dos custos. Outra parcela advém das alterações no mercado da habitação da Lousã e de Miranda do Corvo que somará quer os prejuízos privados da descida de valor gerado, quer as receitas municipais perdidas.
Mas o município de Coimbra é claramente o mais prejudicado e aquele que suporta uma factura maior. Desde logo, pelos prejuizos semelhantes aos dos dois outros municípios já referidos, na parte do concelho atravessada pela linha. Depois, pelas dificuldades e aumento de custos associados aos atrasos na reabilitação urbana do centro histórico de Coimbra. Mas não podemos esquecer o caos induzido no sistema rodoviário da cidade, pela eliminação da alternativa ferroviária da linha da Lousã. E esse custo é também calculável: atrasos por causa das filas em todo o eixo Portela/Estação Velha de manhã e ao fim da tarde, que se repercutem no resto da rede viária urbana. Os custos ambientais são igualmente pesados e hoje em dia mensuráveis: o fumo dos escapes dessas filas de pára-arranca compostas em boa parte por pesados de passageiros é claramente visível a olho nu, podendo e devendo os níveis de poluição do ambiente passar a ser medidos nesses locais. Os pavimentos das ruas estão a ser sujeitos a cargas pesadas com uma frequência muito superior ao suposto, o que se reflectirá em custos de reparação também certamente necessários nas infraestruturas enterradas.
Os municípios afectados pela actual situação andariam bem se preparassem mensalmente uma factura mensal dos custos que suportam (actuais e futuros, mas reais) pela falta de decisão de terminar o que está começado e quase acabado, factura essa a integrar de forma consistente os elementos que servirão de base à decisão final.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Junho de 2012

domingo, 3 de junho de 2012

No fundo

Soube agora que Portugal perdeu ontem com a Turquia. Por 3 a 1.
Pois.
Chamem o de paris para montar um "plano de recuperação seleccional". Pode ser que resulte.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fontes abertas e fontes fechadas.

Estamos sempre a aprender.
Fontes abertas seriam as que têm a água sempre a correr, enquanto as fechadas seriam as que têm torneira. Seria, mas já não é.
País da treta.

Regime jurídico da reorganização administrativa territorial autárquica

Lei nº 22/2012
Publicada em 30/5/2012
Coimbra é classificada como Município de nível 2.
Os mesmos critérios inteligentes e perfeitos colocaram Valongo, a Moita, etc. como municípios de nível 1.
Quem bolsou esta lei pode limpar as mãos à parede.
Os Exmºs Deputados eleitos por Coimbra pelo PSD aprovaram esta coisa?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Bancarrotas (ou quase)



Há um ano estávamos em situação de pré-bancarrota, isto é, o Estado português não dispunha de fundos para cumprir as suas obrigações nem sequer para pagar aos seus funcionários, não havendo quem nos emprestasse dinheiro, a não ser em condições de agiotagem pura. Foi o ministro das Finanças dessa altura que nos avisou do facto, obrigando o então primeiro-ministro a chamar a “troika” que nos trouxe o dinheiro que os mercados nos negavam, a troco de condições que fomos obrigados a aceitar. Ficámos assim, durante algum tempo, com acesso a dinheiro emprestado sem ter que ir ao mercado pedi-lo, o que significa uma segurança temporária, mas uma segurança, apesar de tudo.
Mas há uma área da actividade económica que, quer entre nós, quer a nível mundial, continua a provocar as mais fundadas preocupações e que é aquela que deu origem ao termo que dá o título a esta crónica: precisamente a banca.
Não se passa praticamente um dia em que não nos cheguem más notícias da banca. Ontem foi a colocação do Facebook no mercado. Apesar de montada por um dos mais prestigiados bancos, o Morgan Stanley, a sensação é de que a operação foi uma autêntica barracada. Claro que uma barracada gigantesca, da ordem de 16 mil milhões de dólares, o que deu muito dinheiro a ganhar a alguns “felizardos”, já que a avaliação da rede social foi claramente inflacionada, antes da entrada em bolsa. Pelos vistos, dentro do próprio Morgan Stanley alguém se apercebeu da “bolha” que se estava a encher, avisando alguns investidores privilegiados do facto. Claro que, entretanto, as acções já desceram uns 17% e continuam a cair.
Ainda ontem, mas mais perto de nós, soube-se que, em apenas cinco dias, os três maiores bancos privados portugueses perderam 660 milhões de euros na sua capitalização. As acções do Millennium BCP, por exemplo, já não chegam a valer 10 cêntimos.
Anteontem foi a notícia chocante para todo o mundo, da descoberta de uma perda de mais de 2 mil milhões de dólares no banco que até agora era o paradigma mundial de segurança nos investimentos, o JPMorgan Chase. O único banco de investimentos que passou incólume pela tempestade financeira de 2008/2009, que tem no seu interior uma segurança contra falhas ao mais alto nível que pode existir, em que o responsável pela área ganhou o ano passado 15 milhões de dólares, veio agora descobrir no seu interior uma carteira de investimentos que é afinal um buraco de 2 mil milhões. É obra; até porque essa carteira destinava-se precisamente a precaver os resultados do banco contra baixos crescimentos económicos. Lá está, vai-se a ver e trata-se de “produtos derivados”, quase impossíveis de gerir racionalmente por pessoas, para além dos programas automáticos hipersofisticados que fazem perder a relação com a realidade. Os tais “derivados” a que Warren Buffet costuma chamar “armas de destruição maciça”, mas de que até o JPMorgan não consegue fugir.
Aqui entre nós, anteontem o fundador do BCP Eng. Jardim Gonçalves chamou dramaticamente a atenção para o que está a acontecer na banca portuguesa em consequência das medidas de recapitalização impostas pelos burocratas europeus e que a curto prazo vão acabar por entregar os bancos portugueses a estrangeiros, por valores ridículos.
A economia portuguesa anseia pelo dinheiro que os bancos não são capazes de lhe fornecer em condições aceitáveis. Provavelmente, porque não o têm, já que o seu problema é sobreviver, gerir a dívida pública que tiveram que comprar e ainda responder às exigências de recapitalização inventadas pela União Europeia. Um país pequeno como o nosso, que está pejado de auto estradas do lá-vai-um e que têm que ser pagas, endividado até ao tutano, com a economia estagnada, com um Estado habituado a gastar muito mais do que recebe em impostos, não está provavelmente em condições de exigir nada perante a União Europeia e baixar a cabeça, já que o seu problema é safar-se da tempestade.
Mas não podemos deixar de ter consciência de que grande parte dos males europeus actuais vem dos erros gigantescos da actividade financeira, em particular da banca, havendo uma enorme responsabilidade das entidades que a deviam regular como os bancos centrais. Acresce que os dirigentes políticos europeus estão claramente impreparados para lidar com forças tão poderosas como os gigantescos fluxos financeiros que diariamente dão várias voltas à Terra, não se sabendo nunca exactamente onde estão, nem para onde se dirigem. Os mercados são essenciais à vida económica nos seus mais diversos níveis, mas os Estados e neste caso a União Europeia têm que ter capacidade e meios para se defender, evitando dar o ouro ao bandido como se costuma dizer e preservando os seus cidadãos dos predadores de que individualmente não se podem defender.
Publicado originalmente no diário de Coimbra em 28 de Maio de 2012