jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
segunda-feira, 4 de junho de 2012
CUSTOS A PAGAR
O que se tem
passado com o chamado Metro Mondego, agora Sistema de Mobilidade do Mondego é
demasiado grave para que alguém de Coimbra se possa abster de tomar posição
sobre o mesmo.
Chegámos a um
ponto em que pouco interessa quem fez ou deixou de fazer o quê. Essa análise far-se-á
certamente quando chegar a hora do ajuste de contas político, que ocorrerá mais
depressa do que se possa pensar e, ou muito me engano, ou gerará muitas
surpresas.
O que agora
verdadeiramente interessa é que, num tempo de comissões destinadas a suportar
decisões políticas, não se deixe de manifestar que tudo tem um custo, pago por
alguém.
As obras de
reabilitação da antiga “linha da Lousã” já absorveram mais de cento e vinte
milhões de euros. Faltará menos de metade disso para colocar os veículos (de
rodas metálicas) a circular entre Serpins e Coimbra. Em tempo de reafectação de
verbas do QREN conviria garantir a reserva do valor necessário para acabar as
obras que, ao que se sabe, já pouco ou nada necessitarão do orçamento de
estado. A necessária rentabilização da despesa já feita só se poderá fazer com
actividade comercial, isto é, com a venda dos bilhetes, pelo que acabar a obra
e colocar o sistema em funcionamento faz todo o sentido.
Mas tudo tem um
custo, mesmo o que agora se passa. E os custos que estão a ser suportados pelos
municípios atravessados pela linha e pelos seus munícipes, em resultado da
actual situação, é elevadíssimo. Numa região que já evidencia algum grau de
metropolização, não se pode eliminar um transporte de massa pré-existente, sem
custos sociais e económicos insuportáveis.
Já não falo dos
custos sociais e políticos consequência da consciencialização, por parte das
populações, de que os decisores políticos eleitos democraticamente não cumprem
as suas promessas concretas nem mostram diligência na gestão competente dos
dinheiros públicos. Mais cedo ou mais tarde será o próprio sistema político ou
mesmo o regime a ressentir-se disso.
Mas há de facto
custos concretos, decorrentes da paragem do projecto, que eram evitáveis e que
se podem contabilizar.
Os munícipes da
Lousã, Miranda e Coimbra que utilizam os autocarros em vez do comboio têm os
seus tempos de percurso diários e outros aumentados de uma forma extrema; para
não falar da falta de conforto, o aumento de tempo médio associado ao nº de
viagens dará uma ideia clara de uma das parcelas dos custos. Outra parcela
advém das alterações no mercado da habitação da Lousã e de Miranda do Corvo que
somará quer os prejuízos privados da descida de valor gerado, quer as receitas
municipais perdidas.
Mas o município
de Coimbra é claramente o mais prejudicado e aquele que suporta uma factura
maior. Desde logo, pelos prejuizos semelhantes aos dos dois outros municípios
já referidos, na parte do concelho atravessada pela linha. Depois, pelas
dificuldades e aumento de custos associados aos atrasos na reabilitação urbana
do centro histórico de Coimbra. Mas não podemos esquecer o caos induzido no
sistema rodoviário da cidade, pela eliminação da alternativa ferroviária da
linha da Lousã. E esse custo é também calculável: atrasos por causa das filas
em todo o eixo Portela/Estação Velha de manhã e ao fim da tarde, que se repercutem
no resto da rede viária urbana. Os custos ambientais são igualmente pesados e
hoje em dia mensuráveis: o fumo dos escapes dessas filas de pára-arranca compostas
em boa parte por pesados de passageiros é claramente visível a olho nu, podendo
e devendo os níveis de poluição do ambiente passar a ser medidos nesses locais.
Os pavimentos das ruas estão a ser sujeitos a cargas pesadas com uma frequência
muito superior ao suposto, o que se reflectirá em custos de reparação também
certamente necessários nas infraestruturas enterradas.
Os municípios
afectados pela actual situação andariam bem se preparassem mensalmente uma
factura mensal dos custos que suportam (actuais e futuros, mas reais) pela
falta de decisão de terminar o que está começado e quase acabado, factura essa
a integrar de forma consistente os elementos que servirão de base à decisão
final.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Junho de 2012
domingo, 3 de junho de 2012
No fundo
Soube agora que Portugal perdeu ontem com a Turquia. Por 3 a 1.
Pois.
Chamem o de paris para montar um "plano de recuperação seleccional". Pode ser que resulte.
Pois.
Chamem o de paris para montar um "plano de recuperação seleccional". Pode ser que resulte.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Fontes abertas e fontes fechadas.
Estamos sempre a aprender.
Fontes abertas seriam as que têm a água sempre a correr, enquanto as fechadas seriam as que têm torneira. Seria, mas já não é.
País da treta.
Fontes abertas seriam as que têm a água sempre a correr, enquanto as fechadas seriam as que têm torneira. Seria, mas já não é.
País da treta.
Regime jurídico da reorganização administrativa territorial autárquica
Lei nº 22/2012
Publicada em 30/5/2012
Coimbra é classificada como Município de nível 2.
Os mesmos critérios inteligentes e perfeitos colocaram Valongo, a Moita, etc. como municípios de nível 1.
Quem bolsou esta lei pode limpar as mãos à parede.
Os Exmºs Deputados eleitos por Coimbra pelo PSD aprovaram esta coisa?
Publicada em 30/5/2012
Coimbra é classificada como Município de nível 2.
Os mesmos critérios inteligentes e perfeitos colocaram Valongo, a Moita, etc. como municípios de nível 1.
Quem bolsou esta lei pode limpar as mãos à parede.
Os Exmºs Deputados eleitos por Coimbra pelo PSD aprovaram esta coisa?
terça-feira, 29 de maio de 2012
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Bancarrotas (ou quase)
Há um ano
estávamos em situação de pré-bancarrota, isto é, o Estado português não
dispunha de fundos para cumprir as suas obrigações nem sequer para pagar aos
seus funcionários, não havendo quem nos emprestasse dinheiro, a não ser em
condições de agiotagem pura. Foi o ministro das Finanças dessa altura que nos
avisou do facto, obrigando o então primeiro-ministro a chamar a “troika” que
nos trouxe o dinheiro que os mercados nos negavam, a troco de condições que
fomos obrigados a aceitar. Ficámos assim, durante algum tempo, com acesso a
dinheiro emprestado sem ter que ir ao mercado pedi-lo, o que significa uma
segurança temporária, mas uma segurança, apesar de tudo.
Mas há uma área
da actividade económica que, quer entre nós, quer a nível mundial, continua a
provocar as mais fundadas preocupações e que é aquela que deu origem ao termo
que dá o título a esta crónica: precisamente a banca.
Não se passa
praticamente um dia em que não nos cheguem más notícias da banca. Ontem foi a
colocação do Facebook no mercado. Apesar de montada por um dos mais
prestigiados bancos, o Morgan Stanley, a sensação é de que a operação foi uma
autêntica barracada. Claro que uma barracada gigantesca, da ordem de 16 mil
milhões de dólares, o que deu muito dinheiro a ganhar a alguns “felizardos”, já
que a avaliação da rede social foi claramente inflacionada, antes da entrada em
bolsa. Pelos vistos, dentro do próprio Morgan Stanley alguém se apercebeu da
“bolha” que se estava a encher, avisando alguns investidores privilegiados do
facto. Claro que, entretanto, as acções já desceram uns 17% e continuam a cair.
Ainda ontem,
mas mais perto de nós, soube-se que, em apenas cinco dias, os três maiores
bancos privados portugueses perderam 660 milhões de euros na sua capitalização.
As acções do Millennium BCP, por exemplo, já não chegam a valer 10 cêntimos.
Anteontem foi a
notícia chocante para todo o mundo, da descoberta de uma perda de mais de 2 mil
milhões de dólares no banco que até agora era o paradigma mundial de segurança
nos investimentos, o JPMorgan Chase. O único banco de investimentos que passou
incólume pela tempestade financeira de 2008/2009, que tem no seu interior uma
segurança contra falhas ao mais alto nível que pode existir, em que o
responsável pela área ganhou o ano passado 15 milhões de dólares, veio agora
descobrir no seu interior uma carteira de investimentos que é afinal um buraco
de 2 mil milhões. É obra; até porque essa carteira destinava-se precisamente a
precaver os resultados do banco contra baixos crescimentos económicos. Lá está,
vai-se a ver e trata-se de “produtos derivados”, quase impossíveis de gerir
racionalmente por pessoas, para além dos programas automáticos
hipersofisticados que fazem perder a relação com a realidade. Os tais
“derivados” a que Warren Buffet costuma chamar “armas de destruição maciça”,
mas de que até o JPMorgan não consegue fugir.
Aqui entre nós,
anteontem o fundador do BCP Eng. Jardim Gonçalves chamou dramaticamente a
atenção para o que está a acontecer na banca portuguesa em consequência das
medidas de recapitalização impostas pelos burocratas europeus e que a curto
prazo vão acabar por entregar os bancos portugueses a estrangeiros, por valores
ridículos.
A economia
portuguesa anseia pelo dinheiro que os bancos não são capazes de lhe fornecer
em condições aceitáveis. Provavelmente, porque não o têm, já que o seu problema
é sobreviver, gerir a dívida pública que tiveram que comprar e ainda responder
às exigências de recapitalização inventadas pela União Europeia. Um país
pequeno como o nosso, que está pejado de auto estradas do lá-vai-um e que têm
que ser pagas, endividado até ao tutano, com a economia estagnada, com um
Estado habituado a gastar muito mais do que recebe em impostos, não está
provavelmente em condições de exigir nada perante a União Europeia e baixar a
cabeça, já que o seu problema é safar-se da tempestade.
Mas não podemos
deixar de ter consciência de que grande parte dos males europeus actuais vem
dos erros gigantescos da actividade financeira, em particular da banca, havendo
uma enorme responsabilidade das entidades que a deviam regular como os bancos
centrais. Acresce que os dirigentes políticos europeus estão claramente
impreparados para lidar com forças tão poderosas como os gigantescos fluxos
financeiros que diariamente dão várias voltas à Terra, não se sabendo nunca
exactamente onde estão, nem para onde se dirigem. Os mercados são essenciais à
vida económica nos seus mais diversos níveis, mas os Estados e neste caso a
União Europeia têm que ter capacidade e meios para se defender, evitando dar o
ouro ao bandido como se costuma dizer e preservando os seus cidadãos dos
predadores de que individualmente não se podem defender.
Publicado originalmente no diário de Coimbra em 28 de Maio de 2012
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