O que se tem
passado com o chamado Metro Mondego, agora Sistema de Mobilidade do Mondego é
demasiado grave para que alguém de Coimbra se possa abster de tomar posição
sobre o mesmo.
Chegámos a um
ponto em que pouco interessa quem fez ou deixou de fazer o quê. Essa análise far-se-á
certamente quando chegar a hora do ajuste de contas político, que ocorrerá mais
depressa do que se possa pensar e, ou muito me engano, ou gerará muitas
surpresas.
O que agora
verdadeiramente interessa é que, num tempo de comissões destinadas a suportar
decisões políticas, não se deixe de manifestar que tudo tem um custo, pago por
alguém.
As obras de
reabilitação da antiga “linha da Lousã” já absorveram mais de cento e vinte
milhões de euros. Faltará menos de metade disso para colocar os veículos (de
rodas metálicas) a circular entre Serpins e Coimbra. Em tempo de reafectação de
verbas do QREN conviria garantir a reserva do valor necessário para acabar as
obras que, ao que se sabe, já pouco ou nada necessitarão do orçamento de
estado. A necessária rentabilização da despesa já feita só se poderá fazer com
actividade comercial, isto é, com a venda dos bilhetes, pelo que acabar a obra
e colocar o sistema em funcionamento faz todo o sentido.
Mas tudo tem um
custo, mesmo o que agora se passa. E os custos que estão a ser suportados pelos
municípios atravessados pela linha e pelos seus munícipes, em resultado da
actual situação, é elevadíssimo. Numa região que já evidencia algum grau de
metropolização, não se pode eliminar um transporte de massa pré-existente, sem
custos sociais e económicos insuportáveis.
Já não falo dos
custos sociais e políticos consequência da consciencialização, por parte das
populações, de que os decisores políticos eleitos democraticamente não cumprem
as suas promessas concretas nem mostram diligência na gestão competente dos
dinheiros públicos. Mais cedo ou mais tarde será o próprio sistema político ou
mesmo o regime a ressentir-se disso.
Mas há de facto
custos concretos, decorrentes da paragem do projecto, que eram evitáveis e que
se podem contabilizar.
Os munícipes da
Lousã, Miranda e Coimbra que utilizam os autocarros em vez do comboio têm os
seus tempos de percurso diários e outros aumentados de uma forma extrema; para
não falar da falta de conforto, o aumento de tempo médio associado ao nº de
viagens dará uma ideia clara de uma das parcelas dos custos. Outra parcela
advém das alterações no mercado da habitação da Lousã e de Miranda do Corvo que
somará quer os prejuízos privados da descida de valor gerado, quer as receitas
municipais perdidas.
Mas o município
de Coimbra é claramente o mais prejudicado e aquele que suporta uma factura
maior. Desde logo, pelos prejuizos semelhantes aos dos dois outros municípios
já referidos, na parte do concelho atravessada pela linha. Depois, pelas
dificuldades e aumento de custos associados aos atrasos na reabilitação urbana
do centro histórico de Coimbra. Mas não podemos esquecer o caos induzido no
sistema rodoviário da cidade, pela eliminação da alternativa ferroviária da
linha da Lousã. E esse custo é também calculável: atrasos por causa das filas
em todo o eixo Portela/Estação Velha de manhã e ao fim da tarde, que se repercutem
no resto da rede viária urbana. Os custos ambientais são igualmente pesados e
hoje em dia mensuráveis: o fumo dos escapes dessas filas de pára-arranca compostas
em boa parte por pesados de passageiros é claramente visível a olho nu, podendo
e devendo os níveis de poluição do ambiente passar a ser medidos nesses locais.
Os pavimentos das ruas estão a ser sujeitos a cargas pesadas com uma frequência
muito superior ao suposto, o que se reflectirá em custos de reparação também
certamente necessários nas infraestruturas enterradas.
Os municípios
afectados pela actual situação andariam bem se preparassem mensalmente uma
factura mensal dos custos que suportam (actuais e futuros, mas reais) pela
falta de decisão de terminar o que está começado e quase acabado, factura essa
a integrar de forma consistente os elementos que servirão de base à decisão
final.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Junho de 2012
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