De vez em quando deparamos com uma notícia que nos atinge como um murro no estomago. De tão difícil de acreditar, até parece que alguém está a gozar connosco. Mas se a infvormação consiste no resultado de uma mega sondagem levada a cabo por uma agência credível a nível mundial como a GALLUP; o mais sensato é analisar com atenção e pensar se a nossa própria reacção não consiste num preconceito resultado da enxurrada de informação que diariamente nos inunda os jornais e os computadores.
De facto, a Gallup deu a conhecer há poucos dias o
resultado de uma sondagem que realizou nos países europeus com intervenção
financeira externa, sobre a percepção que os respectivos cidadãos têm dos seus
sistemas bancários.
O que mais surpreende é Portugal ser, dos países
intervencionados, o que manifesta mais confiança nos seus bancos. Mais, a
percentagem dos portugueses que confiam nos seus bancos é ligeiramente superior
à dos alemães, principais financiadores das intervenções financeiras. Claro que
54% dos portugueses não confiam nos seus bancos, mas os 40% que confiam são um
número que se pode considerar espantoso, até porque essa percentagem subiu 4
pontos de 2012 para 2013. Apesar do apreciável nível de confiança que ainda
manifestam nos seus bancos, os alemães estão longe dos níveis anteriores à
crise de 2008, numa queda de 20 pontos que tarda a recuperar. Os alemães sabem
bem que foram colocados mais de 640 mil milhões de euros à disposição dos seus
bancos desde 2008, para evitar mais falências no sistema bancário.
Para se perceber bem como a taxa de confiança em Portugal
é extremamente significativa, basta ver que em Espanha a percentagem dos
cidadãos que confiam nos bancos é de 11%, com descida de 7% entre o ano passado
e este ano, enquanto na Grécia é de 17%, na Irlanda de 15% e no Chipre de 11%.
Claro que em Portugal, e a Gallup não deixa de o
salientar, a crise que levou à intervenção externa foi provocada pela dívida
insustentável resultante de défice das contas do Estado exagerado e prolongado,
enquanto nos outros países foi essencialmente bancária. Mas também sabemos que
os bancos portugueses receberam uma parte do pacote financeiro da troika.
Sabemos ainda outras coisas, como seja a elevada quantidade de dívida pública
comprada pelos bancos portugueses. E todos os dias somos inundados com notícias
sobre o BPN, sobre o BPP e ultimamente sobre o Banif, que se tenta financiar
sem grande sucesso. E não esquecemos o que se passou e ainda passa como o maior
banco privado português, o BCP, que em Junho de 2012 recebeu 3 mil milhões de
euros para não desaparecer, embora o valor das suas acções seja ainda hoje
pouco mais que zero.
E mesmo assim…O que levará os portugueses a não perder a
grande confiança que continuam a manifestar nos nossos bancos? E será isso bom?
E quais as consequências da actual situação europeia para o nosso futuro
colectivo?
Na realidade, observando de fora, o elevado nível de
confiança dos portugueses nos bancos nacionais parece algo incompreensível. Mas
será necessário entender a relação pessoal dos portugueses com os seus bancos
que, no fim, ditará os valores estatísticos. E o que se vê é que, apesar da
crise, os bancos foram tentando resolver de uma maneira ou de outra os
problemas resultantes essencialmente do financiamento para habitação; ao
contrário de outros países, não se viu os bancos ficarem repentinamente na
posse de todo um património imobiliário resultante do incumprimento das
obrigações dos particulares. E deverá residir aí boa parte da razão que leva
40% dos portugueses a confiar nos bancos nacionais quando, no ano passado, eram
36%.
E é bom que os portugueses continuem a confiar na banca
portuguesa, para que ela recupere da difícil situação em que se deixou enredar,
ou em que a enredaram, particularmente num momento em que os sinais de retoma
da economia são indesmentíveis, mesmo que de dimensão ainda reduzida face às
necessidades de crescimento.
Mas a Europa continua, no seu todo, a ser a região do
mundo com mais baixos índices de confiança nas instituições financeiras. Depois
das eleições alemãs, como salienta a própria Gallup, é chegado finalmente o
momento de se encontrar acordo para aprofundar a união europeia, também no
sistema bancário.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 21 Outubro 2013
Nota: Gráficos retirados de Gallup: http://www.gallup.com/home.aspx?ref=b