Um dos maiores
problemas da actual civilização é a energia. De facto, as exigências de
funcionamento de tudo o que nos rodeia desde a produção económica até ao
conforto doméstico passando pelos transportes e pela infinidade de serviços só
podem ser respondidas com energia. Cada vez mais energia. E o homem tem sido
incansável na busca e exploração de tudo o que possa fornecer energia. Começando
com o carvão e os diversos hidrocarbonetos naturais e acabando na fissão
nuclear, tudo tem servido como fonte de energia, porém com uma característica
comum: todas estas fontes energéticas produzem produtos que, na sua totalidade,
são ecologicamente insustentáveis para o nosso planeta. Razão para que, nos
últimos anos, tenham surgido as chamadas energias verdes ou limpas, alternativa
às fontes clássicas. O aproveitamento do vento, das barragens e da energia
solar tem crescido de forma assinalável mas à custa de tarifas eléctricas cada
vez mais elevadas: a chamada energia verde sai muito cara aos consumidores,
como todos nós podemos verificar pela análise das facturas de electricidade que
pagamos todos os meses.
Há dezenas de anos
que os cientistas perseguem uma energia que, potencialmente, poderia resolver
todos os problemas da humanidade nessa área, de forma praticamente limpa e a um
custo muito baixo: a fusão nuclear.
Toda a energia que
utilizamos tem, de forma mais próxima ou mais longínqua, a mesma origem: o Sol,
que é uma gigantesca esfera de matéria em permanente fusão nuclear. O que os
cientistas querem é precisamente replicar na Terra o que se passa no Sol, de
forma controlada para que a energia libertada possa ser utilizada. Como se pode
imaginar, não se trata de tarefa fácil. Desde há muito que nos meios académicos
corre mesmo uma piada acerca disto: “a fusão comercial estará conseguida dentro
de 30 anos, e sempre assim será”.
A fusão nuclear
consiste em obter energia através da fusão de deutério (que é um isótopo pesado
de hidrogénio) e de e de trítio (que é outro isótopo ainda mais pesado de
hidrogénio). A vantagem do processo é que quer o deutério, quer o trítio, são
materiais fáceis de produzir e de forma barata. Dessa fusão resulta hélio
juntamente com um neutrão e muita, imensa energia.
Dito assim, parece
uma tarefa fácil. Não é. Para que a fusão possa acontecer, é necessário criar
uma espécie de sopa com os núcleos atómicos do deutério e do trítio e electrões
a que se chama plasma, que constitui o combustível da fusão. E, para que a
fusão se verifique, é necessário que o plasma esteja sujeito a uma pressão
altíssima atingindo uma temperatura de cem milhões de graus centígrados e que
esteja a flutuar livremente no interior de uma espécie de contentor circular
sem tocar nas paredes, o que se consegue através de campos magnéticos, tudo
isto trabalhando de forma contínua.
Até hoje foram desenvolvidos
dois tipos de equipamentos que se mostraram com potencialidades para vir a
conseguir a fusão nuclear controlada; o “Tokamak” e o “Stellarator”.
No passado dia 3 de
Fevereiro de 2016, a Chanceler Federal Alemã Ângela Merkel carregou no botão do
Wendeelstein 7-X, do tipo stellarator, que levou o plasma no interior do
equipamento à temperatura de 80.000 graus centígrados durante um quarto de
segundo, num ensaio experimental que provou que o equipamento poderá vir a ter
sucesso (ainda que apenas experimental e não comercial). O equipamento custou
370 milhões de euros pagos pela Alemanha e pela União Europeia e os componentes
foram fabricados um pouco por toda a Europa.
Nos últimos dias
fomos favoravelmente surpreendidos pela notícia da participação de Portugal no
projecto de construção de um equipamento do tipo tokamak, mas desta vez em
França em Cadarache, pretendendo-se que esteja operacional a partir de 2027. Trata-se
do ITER (International Thermonuclear Experimental Reactor), cujo custo se
estima actualmente em pelo menos 13 mil milhões de euros, prevendo-se que só
produzirá energia comercial em meados do século.
Estes projectos
impressionantes estão a decorrer na Europa, mas nos EUA também se trabalha na
mesma área. Curiosamente, os grandes projectos estatais americanos de fusão
nuclear foram abandonados e actualmente trabalha-se em projectos privados de
escala mais reduzida com ligação às mais importantes universidades
tecnológicas, mas mais económicos e eventualmente com maior rentabilidade.
Como tantas vezes
tem sucedido na História, mais uma vez a humanidade desenvolve tecnologia
pacífica depois de já a usar para fins militares. A fusão nuclear é a base das
actuais bombas H (de hidrogénio) que são dezenas de vezes mais potentes que as
antigas bombas nucleares de fissão, como as de Hiroshima e Nagasaki. Serve para
fins militares, mas pode ser num futuro relativamente próximo a resposta para
os principais problemas da humanidade: a energia limpa e disponível de forma
económica em grande quantidade para todos.