jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
quinta-feira, 18 de julho de 2019
quarta-feira, 17 de julho de 2019
terça-feira, 16 de julho de 2019
António Barreto sobre a Justiça em Portugal
"Há maneiras legais de destruir a justiça. Há processos legais de
salvar cúmplices e favorecer criminosos. Há garantias suficientes para
adiar indefinidamente processos. A justiça, em todas as suas fases,
necessita de mais escrutínio, menos garantias, menos burocracia, menos
chicanas processuais, menos favores prestados aos poderosos e aos
advogados potentes e menos facilidades oferecidas aos profissionais da
política e do tráfico de influências"
(António Barreto, Justiça e democracia, Público, 14/07/2019).
segunda-feira, 15 de julho de 2019
O OCIDENTE AINDA EXISTE?
Não foi, certamente, por
acaso que os portugueses de 1.400 largaram deste cantinho da Europa, abrindo
caminho para toda uma nova organização mundial, com consequências que perduram
até aos dias de hoje. Em 1434 Gil Eanes foi o primeiro a navegar para
além do Cabo Bojador e
em 1487 Bartolomeu Dias dobrou o Cabo das Tormentas passando, finalmente, do
Atlântico ao Índico.
Em Maio de 1453 o sultão
Maomé II conquistou Constantinopla ditando o fim do Império Romano do Oriente e
estabelecendo o Império Otomano que durou até 1922. No ano marcante de 1492 foi
descoberta a América e os mouros foram finalmente expulsos da Península
Ibérica, razões que levam a que se considere este ano como o fim da Idade
Média.
Como se verifica pelo
cruzamento das datas, a chamada expansão marítima portuguesa coincidiu com um
“cerco” da Europa pelo Islão a Oriente e a Sul não lhe restando senão virar-se
para o Ocidente, onde o Atlântico era a barreira natural e Portugal a última
fronteira. Desde a sua fundação até essa altura, Portugal era uma nação
completamente integrada na Europa medieval de então, através de trocas
culturais e comerciais mas, fundamentalmente, pela íntima ligação das casas
reais portuguesa e do resto da Europa.
Exemplo marcante é o casamento da Infanta
D. Leonor, filha do Rei D. Duarte, com o Imperador Frederico III do Sacro
Império Romano e Germânico, negociado por Dom Pedro Duque de Coimbra, numa das
suas muitas acções diplomáticas por toda a Europa, vindo a Imperatriz Leonor a
ser mãe de Maximiliano I e avó de Carlos V, personalidades europeias de enorme relevância.
Portugal foi nessa altura
capaz de corporizar a “libertação” da Europa do cerco que a sufocava e que
inclusivamente tinha cortado as antigas ligações terrestres com o Oriente. Além
de conseguir restabelecer essa ligação, agora pela via marítima, criou todo um
novo mundo com as ligações às américas. Essa importância ficou marcada para
todo o sempre através da assinatura do Tratado de Tordesilhas em 1494 que
dividiu o mundo a descobrir entre Portugal e Espanha, assim ditando o futuro
das Américas do Sul e Central. A América do Norte seria depois colonizada pela
Inglaterra e pela França, que definiriam o futuro daquele continente,
umbilicalmente ligado à Europa.
A Europa e as Américas
passaram assim, na sequência de todos estes acontecimentos históricos, a
constituir uma entidade informal mas cultural e politicamente relevante, a que
se convencionou chamar Ocidente.
E o Ocidente marcou indelevelmente a História
da Civilização dos últimos séculos, tendo tido, apesar de algumas tentativas em
sentido contrário como se viu com o Nazismo e o Comunismo no séc. XX, um papel
extraordinário em avanços humanos em áreas como a Ciência, os Direitos Humanos,
a Arte e muitos outros, tendo a Liberdade como símbolo maior.
Contudo, hoje vemos esta
antiga “comunidade”, que demorou séculos a ser construída, a ser diariamente
destruída. O fim da ameaça comunista da ex-URSS veio alterar os anteriores equilíbrios.
A China tornou-se uma nova potência económica global, prevendo-se que se torne
também em militar, a curto prazo. A União Europeia vê um dos seus países
membros mais importantes, o Reino Unido, a desligar-se por completo. A Rússia
assume que a democracia liberal não é o caminho que pretende seguir enquanto
influencia, cada vez mais às claras, os processos eleitorais europeus, com a
estratégia de enfraquecer a União Europeia.
Os Estados Unidos (EUA)
escolheram um presidente que, deliberadamente, destrói todas as alianças com a
Europa que foram sendo construídas principalmente após a II Guerra Mundial.
A
pós-globalização está aí, com uma nova ordem mundial a estabelecer-se. Os EUA
que desde o fim da I Grande Guerra se assumiram como motor do Ocidente parece
não quererem mais esse papel, preferindo antes relacionar-se directamente com
as restantes potências, em vez de participar em alianças multilaterais.
O Atlântico está a deixar de
ser o mar que une para voltar a ser o que separa. E a Europa tem que estar bem
consciente desta nova situação em que já não existirá o Ocidente, o que exigirá
esforços de união acrescidos e uma nova visão estratégica sobre o seu papel no
mundo.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 15 de Julho de 2019
quarta-feira, 10 de julho de 2019
"PROSSEGUIR A DIMINUIÇÃO DE IMPOSTOS"
António Costa promete "prosseguir a diminuição de impostos".
Isto é continuar a política fiscal dos últimos 4 anos. Que se traduziu assim:
É preciso ter lata!
Isto é continuar a política fiscal dos últimos 4 anos. Que se traduziu assim:
É preciso ter lata!
segunda-feira, 8 de julho de 2019
O CAMARTELO DA LEGALIDADE OBSCENA
Se me perguntarem se gosto
do prédio Coutinho em Viana do Castelo, respondo que não gosto, mas que considero
haver muito piores por esse país fora, em termos de desenho arquitectónico e
ainda que gostos não se discutem, pelo que o gosto pessoal não deve ser imposto
por ninguém, nem (ou muito menos) por políticos. Aliás, o gosto tem variado
tanto e tão rapidamente em arquitectura ao longo dos tempos, que muitos
edifícios que são hoje monumentos classificados nunca existiriam se os autores
se tivessem cingido à “moda” da época em que foram construídos. O leitor gosta
da sede mastodôntica da CGD em Lisboa?
Se me perguntarem se está
bem enquadrado, responderei que não, à semelhança de outros em muitas das
cidades portuguesas. A começar, em Lisboa, pelas Amoreiras e os novos edifícios
à beira-Tejo como a Fundação Champalimaud e hotéis vizinhos ou aquela coisa
urbanística que a Câmara da capital quer aprovar para o quarteirão da
Portugália. E o que dizer dos edifícios da Segurança Social em Aveiro e em
Viseu?
Um Estado de Direito
pressupõe direitos dos cidadãos como por exemplo, poderem contar que o Estado
defenderá os seus direitos adquiridos, nomeadamente aqueles que o próprio
Estado transmite. E que os garantirá perante mudanças de gosto dos governantes.
E esses direitos são
adquiridos, por exemplo, quando se referem a edificações aprovadas de acordo
com as inúmeras regras, locais e nacionais, existentes para o efeito, quando a sua
construção deu origem a licença de utilização e as fracções resultantes foram
devidamente registadas em Conservatória, passaram a ter artigos nas Finanças e
começaram a dar origem a pagamento das respectivas contribuições. A alteração radical
de uma situação destas só se deveria poder verificar com uma causa advinda,
como fosse o surgimento de uma falta de segurança imprevista, abandono durante
largo período com consequências ambientais ou outras, ou então por um evidente
interesse superior público justificativo de expropriação.
Nada disto se passou com o
prédio Coutinho, só por um desvio grave de interpretação da lei se podendo
argumentar com o gosto ou má localização. Mas foi isto que se passou quando a
Sociedade Polis de Viana do Castelo há cerca de 20 anos decidiu que o prédio
Coutinho tinha que ser demolido. À altura, o então ministro do Ambiente que
aprovou esta decisão ditando início do processo, tinha em construção a sua
imagem de político modernaço e determinado (que viria a evoluir para puro
autoritarismo) e chamava-se José Sócrates. Foi então estabelecido um prazo para
a demolição do prédio Coutinho e colocado mesmo um relógio na rua a contar o
tempo regressivamente. Data definida para a demolição: 2003.
Estamos em 2019, estima-se
agora que a demolição deste prédio vai custar aos contribuintes a nada módica
maquia de 35 milhões de euros e podemos assistir pelas televisões à triste
novela da saída dos últimos moradores do prédio, que nunca compreenderam nem
aceitaram as razões para lhes retirarem as casas que compraram dentro de toda a
legalidade. Com algum espanto sabe-se que, com a súbita pressa agora surgida, a
própria Câmara procedeu ao corte de energia eléctrica ao prédio,
substituindo-se ao fornecedor de energia, à margem da lei, voltando a repor a
energia novamente sem segurança, como resultado de uma ordem do tribunal.
Claro que todo o processo
que agora culmina com a saída dos últimos moradores foi sustentado em decisões
do Estado cumpridoras da letra da Lei, desde o acto administrativo da
Declaração de Utilidade Pública até às decisões de indemnização em Tribunal,
não estando isso em discussão. O que nestas linhas se contesta é a razão
primeira para o início do processo e acusa-se o Estado de incoerência e
consequente malfeitoria a cidadãos gravemente penalizados nas suas vidas sem
qualquer culpa no processo, antes tendo cumprido todas as regras ditadas pelo
próprio Estado que, a certa altura, decidiu alterá-las por puro arbítrio
político.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Julho de 2019
Subscrever:
Mensagens (Atom)