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sábado, 9 de novembro de 2019
sexta-feira, 8 de novembro de 2019
segunda-feira, 4 de novembro de 2019
DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA DOS PORTUGUESES
Das últimas eleições saíram dez partidos com representação
parlamentar, um número até hoje nunca visto. Como novidades entraram o Livre, a
Iniciativa Liberal e o Chega, cada um com um representante. O PAN surpreendeu
ao obter 4 lugares, apenas menos um que o CDS que viu a sua representação
diminuída em treze lugares. Já o PSD perdeu dez lugares, ficando com 79
deputados. O BE manteve os seus 19 lugares, tendo a CDU perdido cinco lugares e
ficando com 12 deputados. O PS, ao ser vencedor das eleições, obteve mais vinte
e dois lugares ficando o seu grupo parlamentar com 108 deputados. Sobre quem
ganhou e perdeu, estes são os números.
Contudo, os números têm ainda outros significados, para além
da conversa habitual para enganar crédulos que é afirmar que o eleitorado quis
isto ou aquilo. Um significado profundo é o da abstenção que subiu a um valor
nunca antes visto, acima de metade do eleitorado: 51,43%. Pese embora se pressinta
um empolamento artificial dos cadernos eleitorais, é certo que há uma grande
parte de eleitores que não participam nesse momento crucial da vida
democrática, que são as eleições.
Como resultado das eleições, tudo mudou. O partido
Socialista é, desta vez, o maior partido e o PSD o segundo, numa alteração
radical da situação. Embora não tenha tido a almejada maioria absoluta, desta
vez o PS sente que está à vontade para governar, não necessitando de firmar
acordos escritos com os partidos que o apoiaram durante a anterior legislativa.
Basta-lhe lembrar, como o fez com completa clareza o ministro Santos Silva no
encerramento do debate do programa do Governo, e cito: "Só é possível retirar as condições básicas
de governação ao Governo do PS através da constituição de uma coligação negativa e contranatura entre o
centro-direita e direita e
todas as forças à esquerda do PS - e todos sabemos, na maioria parlamentar, que
isso seria uma traição ao nosso eleitorado".
Isto é, o PS sente-se finalmente na confortável situação de
ser o fiel da balança da democracia portuguesa que desde sempre almejou. Se na
anterior legislatura os acordos foram com a esquerda apenas para evitar o
governo da direita, nesta nova situação o PS considera-se o centro, o que lhe
permite ir acordando à esquerda ou à direita. Entretanto vai fazendo juras de
amor com a esquerda que lhe proporcionou a vantagem da paz nas ruas e nos
sindicatos nos últimos quatro anos, pelo que serão de prever negociações, mas
desta vez privadas.
O que nos traz à situação da direita, principalmente do PSD,
já que o CDS está com outros problemas que têm mais a ver com a sobrevivência a
curto prazo.
A questão do défice, que foi motivo de discussão e de
querela ideológica durante todo o século XX, foi finalmente ultrapassada por
força da pertença à União Europeia e ao Euro. À sua maneira, claro, o PS aderiu
às “boas contas” e mesmo o resto da esquerda fala agora apenas em evitar
grandes excedentes orçamentais que coloquem o investimento em causa, como o
disse o BE no Parlamento. Isto é, deixou de ser uma bandeira típica da direita
para ser hoje um consenso. Se houve alguma vantagem trazida pela “Geringonça”,
esta não será certamente a menor.
O PSD está, assim, perante uma situação completamente nova,
tendo que se assumir como alternativa ao PS, eliminando todo e qualquer
sentimento de que lhe possa servir de “muleta” como fizeram o BE e o PCP
durante 4 anos inteiros. Não poderá nunca deixar que se instale a ideia de que
o PS é o centro do regime e terá que encontrar os temas que lhe permitam
afirmar-se como a alternativa ao PS, sem o que se verá reduzido à irrelevância.
Até porque o sistema mexicano de um grande partido ao centro produz a
normalidade de que hoje tanto se fala como necessária, mas normalidade essa que
foge à mudança, não produz crescimento que se veja e só ajudará a esse lento
deslizar que já está a levar Portugal para o lugar de “lanterna vermelha” da
Europa.
Desenho reproduzido do jornal Público
Desenho reproduzido do jornal Público
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Novembro de 2019
Poupar na (des)educação
Houve um tempo em que se dizia qualquer coisa como isto: se pensas que a educação é cara, experimenta um mundo sem educação.
Agora parece que as contas socialistas sobre educação andam nisto.
Agora parece que as contas socialistas sobre educação andam nisto.
domingo, 3 de novembro de 2019
sábado, 2 de novembro de 2019
terça-feira, 29 de outubro de 2019
William Faulkner
Faulkner: “escrever por dinheiro não é propriamente prostituir o talento, mas apenas encurtar as frases.”
segunda-feira, 28 de outubro de 2019
DO ESTADO DA SAÚDE PÚBLICA EM PORTUGAL
As notícias quase diárias sobre problemas neste ou naquele
hospital, neste ou naquele serviço, só confirmam que o SNS está doente. E já
não só os portugueses que não possuem seguro de saúde nem são funcionários
públicos a saber disso. A prestigiada revista médica científica Lancet publicada
no Reino Unido noticiou há poucos dias que, em tradução livre, “como esse investimento em queda está impedindo a
modernização de hospitais e a substituição de equipamentos médicos obsoletos, a
assistência privada está em expansão. Os médicos e enfermeiros do sector
público, desencorajados por más condições de trabalho, estão a procurar emprego
no sector privado e no estrangeiro”.
O último caso é o da urgência pediátrica do Hospital Garcia
d’ Orta. A falta de médicos pediatras, dado que em vez dos 38 que deveria ter,
o serviço tem 28, associada à idade dos existentes que em elevado número já
estão legalmente dispensados de fazer urgências, leva à impossibilidade de
garantir escalas em permanência. Como resultado, aquelas urgências têm fechado
vários dias, mesmo num fim-de-semana inteiro, prevendo-se que o problema
continue, deixando Almada sem urgências para crianças e jovens, uma situação de
todo insustentável. O ministério da Saúde anunciou que autorizava o Garcia d’ Orta
a abrir vagas, mas sabe-se perfeitamente que esse anúncio é o mesmo que atirar
areia para os olhos das pessoas. De facto, já houve anteriormente abertura de
vagas, mas ficaram desertas, isto é, os médicos pediatras recusam-se a ir
trabalhar para aquele hospital, sabendo o que os espera em termos de urgências,
pelo valor de vencimento que lhes é proposto. E não se pense que o Garcia d' Horta só tem problemas naquela especialidade.
De acordo com o jornal Expresso,
há outras em que o problema é semelhante, como a Obstetrícia que só ultrapassam
o problema com os médicos especialistas a aceitar fazer escalas de 24 horas de
urgência, quatro dias por semana. Como é evidente, o serviço normal
ressente-se, e de que maneira. O ministério da Saúde lá vai dizendo,
contrariando todas as afirmações anteriores sobre os serviços privados de Saúde
que, caso necessário, irá recorrer a esses mesmos serviços.
O comentário da revista Lancet sobre a falta de investimento
em equipamentos é gravíssimo, mas infelizmente é verdadeiro, pese embora a
falta de informação sobre o assunto. Como estamos em Coimbra, podemos referir
aqui a situação do CHUC, que será paradigmática. Na semana anterior às recentes
eleições a Administração do Hospital veio informar, com satisfação, que no
corrente ano de 2019 o investimento será na ordem dos 9,5 milhões de euros, em
vez dos 4,1 de 2018 correspondendo a um aumento de mais de 100%. Ficou bem, mas
esqueceu-se de dizer que, no último ano da troika em 2015, e depois de 3 anos
de míngua dedicados a pagar as dívidas herdadas, o montante de investimentos
foi de 9,9 milhões. Isto é, terminada a austeridade e passados cinco anos contínuos
com a economia a crescer, o investimento ainda não conseguiu superar o do
último ano de austeridade.
A ideia que fica de tudo isto é que o ministério da Saúde
anda a correr a correr a tapar buracos por todo o lado, sendo evidente que a
manta é curta e não dá para cobrir o que é necessário. Lembra-se que,
actualmente, os cerca de 800.000 portugueses que trabalham para o Estado, mais
as suas famílias, já estão na prática fora do SNS por terem ADSE e que muitos
outros, que recorrem ao SNS, são canalizados para o sector privado através do
SIGIC, dada a falta de resposta do sector público. Aliás, se tal não houvesse,
o país estaria mergulhado num completo caos, no que à saúde diz respeito.
Salta à evidência que o SNS está a atingir um ponto de não
retorno, se é que já não o passou, a partir do qual só poderá sair de duas
maneiras: ou com um investimento massivo que cubra os cortes dos últimos 10/15
anos (incluindo pagar convenientemente aos profissionais da saúde, contratando
simultaneamente os quadros em falta por todo o país) ou sofre uma refundação
com uma completa reestruturação, deixando de ser aquilo que tem sido até hoje.
Se nada disto for feito, continuaremos a assistir à debandada do pessoal para o
privado, ao paraíso dos seguros de saúde e à falta de bons cuidados de saúde a
quem não tem dinheiro para tal.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Outubro 2019
sábado, 26 de outubro de 2019
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