O dia 7 de Outubro de 2023 vai ficar tragicamente marcado na História de Israel, mas também de todo o Médio Oriente e da própria Humanidade. Nas primeiras horas desse dia, enquanto lançavam milhares de rockets sobre Israel, mais de mil combatentes do Hamas entraram em Israel através da fronteira com a faixa de Gaza. Se o lançamento dos rockets já não constitui novidade, apenas surpreendendo pela quantidade, o que foi levado a cabo no terreno pelos combatentes do Hamas foi algo de chocante, ficando nos anais de terror da História da Humanidade.
O Hamas aproveitou uma festividade judaica para fazer o ataque, como já tinha acontecido há 50 anos na Guerra do Yom Kippur. Só que se aí foi o início de uma guerra de exércitos, aqui foi diferente. Os atacantes do Hamas, dando execução a uma acção premeditada e meticulosamente preparada, passaram a fronteira da faixa de Gaza com Israel e atacaram civis. Primeiro dirigiram-se a um festival onde jovens dançavam e cantavam. Chegaram e descarregaram friamente as metralhadoras sobre os jovens, matando logo ali mais de 200 pessoas. Muitas que tentaram fugir, de carro pelas estradas ou a pé pelos campos, foram perseguidas e eliminadas a tiro, com granadas e até rockets. Depois percorreram as quintas agrícolas da região, entrando nas casas onde ainda muitos habitantes dormiam e eliminaram imediatamente todas as pessoas que encontraram, fossem homens, mulheres ou crianças e bebés. Centenas de judeus foram assim mortos no que foi a maior barbárie que se possa imaginar. Aquelas famílias que se esconderam nos refúgios das casas cujas portas os elementos do Hamas não conseguiram ultrapassar foram pura e simplesmente queimadas vivas por as casas serem incendiadas com esse objectivo. Tudo isto durou quase três dias até que as forças militares de Israel conseguissem terminar com a acção do Hamas. Na retirada, o Hamas levou consigo para Gaza pela força, como reféns, mais de uma centena de pessoas das mais diversas idades e nacionalidades.
É evidente que a provocação do Hamas a Israel foi o mais longe possível, pior não se imaginaria, com o simples objectivo de que a reacção seja também violenta e que provoque o maior número de mortos civis entre os palestinianos de Gaza. Em princípio o seu próprio povo.
Esta acção teve lugar num contexto internacional muito específico, não tendo nada a ver com a libertação do povo da Palestina que, na prática, ele próprio é refém do Hamas. O Hamas conseguiu retirar de cena os outros movimentos palestinianos como a Al-Fatah e a OLP, eliminando qualquer hipótese de aplicação dos Acordos de Oslo de 1994 e criação de dois Estados, que permitiria a paz na região.
É visível a mão do Irão na preparação do que aconteceu. Os xiitas não podiam permitir que as negociações em curso entre Israel e a Arábia Saudita chegassem a bom porto e que o país enorme onde se localizam as cidades santas de Meca e Medina reconhecesse o Estado de Israel. Já a Rússia não condena o ataque. Para Putin é muito conveniente este novo foco de guerra com um aliado dos EUA, que assim passam a ter outro destino imediato urgente de apoio financeiro e de armamento, para além da Ucrânia.
Com tudo o
que se está a passar, não deixa de ser surpreendente que, enquanto decorria o
massacre de judeus perpetrado pelos terroristas do Hamas, a própria comunicação
social praticamente não começava os comentários sobre este assunto, sem que surgisse
um “mas” relativo à política interna de Israel ou mesmo sobre a existência
deste Estado. O que se está passar é algo completamente novo e o Hamas e seus
mentores internacionais estão a manter como reféns, não só os raptados em
Israel, mas toda uma comunidade internacional. Para além dos desgraçados que
vivem em Gaza sobre os túneis e paióis subterrâneos do Hamas. As regras e
convenções sobre guerra que supunhamos minimamente estabelecidas e aceites
foram completamente estilhaçadas e atiradas para o lixo.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 16 Outubro 2023
Imagens recolhidas na internet