De
entre as infraestruturas básicas de qualquer cidade média conta-se uma eficaz
rede de transportes públicos, podendo a circulação das pessoas ser comparada à
circulação sanguínea de um organismo vivo. Para ser eficiente a rede deverá ser
bem adequada ao tipo de ocupação urbana do território, além de prover o
necessário cumprimento de horários bem adaptados às necessidades da população
servida.
Coimbra
junta, a estes pressupostos essenciais, a obrigação de responder a uma procura
gerada por milhares de pessoas que diariamente se deslocam à cidade pelos mais
diversos motivos como sejam laborais, de utilização de serviços públicos como
justiça, educação e, sobretudo, saúde, mas também da oferta comercial. Este
acréscimo de procura tem a ver com alguma metropolização do território da Região
Centro que, embora algo incipiente, por um lado onera a autarquia, mas por
outro lado contribui para que Coimbra se afirme como capital regional.
A
rede de transportes públicos torna-se, assim, uma estrutura fundamental para o normal
funcionamento da cidade, sendo condição necessária para evitar o surgimento de
problemas como a carga excessiva de automóveis particulares em zonas de grande
atracção e o consequente estacionamento anárquico nas áreas envolventes dessas
zonas. É condição necessária, embora não suficiente já que, sem parques de
estacionamento dissuasores, os utentes dos serviços ficam sem alternativas para
o estacionamento das suas viaturas. Como sabemos, o Estado é capaz de legislar
e obrigar a cumprir a lei aos privados que construam instalações com grande capacidade
de atracção como é o caso dos centros comerciais obrigatoriamente dotados de
capacidade de estacionamento suficiente. Contudo, nas suas próprias
instituições, sistematicamente não cura de resolver essa questão, deixando os
problemas para as autarquias. Os casos dos HUC e do IPO são paradigmáticos mas
não únicos, apenas mais conspícuos pela sua dimensão que é uma vergonha para
Coimbra.
A
estas questões acresce, nos dias de hoje, a preocupação crucial com os
problemas ambientais. E também aqui os transportes colectivos públicos têm duas
tarefas importantes. Em primeiro lugar diminuindo o número de viaturas
particulares das ruas, ao oferecerem uma alternativa eficaz e muito mais
eficiente do ponto vista ecológico global. Por outro lado, podem igualmente,
por si próprios, baixar os níveis de poluição ambiental, através da utilização
de viaturas não poluentes, entrando aqui a utilização da energia eléctrica.
Coimbra
foi pioneira na utilização de veículos eléctricos. Há mais de cem anos, em
Janeiro de 1911, entrou em funcionamento o chamado “sistema de americanos”
sobre carris, tendo Coimbra sido uma das primeiras cidades portuguesas a dispor
desse meio de transporte público. A partir de 1947, Coimbra passou também a
dispor de uma rede de tróleis.
Em
boa hora a Câmara Municipal decidiu dotar a cidade de um novo sistema de
transporte público utilizando energia eléctrica, agora de uma forma mais
adaptada aos dias de hoje, em termos de rapidez e comodidade dos utentes: os
autocarros eléctricos. Foi assim que, nas ruas de Coimbra, passaram já a circular
dez novos autocarros eléctricos, dos quais oito têm uma lotação de cerca de 80
pessoas, sendo os outros dois mais pequenos e dirigidos às ruas do centro
histórico, mais estreitas. Anuncia-se ainda a vinda de mais catorze autocarros
eléctricos, no que constitui um passo importante para a sustentabilidade
ambiental do sistema de transportes públicos de Coimbra, os SMTUC, que é de
saudar vivamente.
Numa
decisão camarária não isenta de críticas, os velhinhos “eléctricos” foram
abandonados em 1980, deixando saudade a todos quantos os utilizaram até então.
Os tróleis são um sistema algo ultrapassado, pelas dificuldades de mobilidade
das viaturas “amarradas” aos fios da rede de tracção. Com os novos autocarros
eléctricos, mantém-se a tradição da cidade na utilização da electricidade nos
seus transportes públicos, agora adaptados aos novos tempos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 29 de Julho de 2019