segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

AS “PESSOAS”

Nas últimas eleições não havia candidatura à mais recôndita das freguesias por esse país fora que não elegesse as “pessoas” como alvo das suas atenções. Fenómeno curioso, dado que, por definição, a política se destina precisamente a cuidar do bem comum, isto é, do que às pessoas interessa directamente.
 Suspeito que a utilização do termo “pessoas” a torto e a direito visa apenas esconder algo: a incapacidade ou, pior que isso, falta de interesse em esclarecer devidamente as opções políticas concretas com os custos e consequências económicas e sociais inerentes.
Mas mostra ainda um mal que, depois de se ter vindo a desenvolver nas profundidades no nosso sistema político, chega à superfície manifestando-se das mais diversas formas, com consequências sérias a curto prazo. Os partidos políticos portugueses, foram desenvolvendo sistemas internos de defesa perante o exterior, cortando muitas vezes as ligações ao mundo real e fechando-se em si mesmos. Os slogans passaram a ser escritos em agências de publicidade, nada mais sendo do que frases eventualmente apelativas, sem qualquer substância ou conteúdo político. Claro que na realidade não se afastam muito dos próprios candidatos que, a maior parte das vezes, são também fabricados dentro dos partidos, não apresentando quaisquer qualidades que os recomendem para os cargos a que se candidatam. Os partidos foram tomados por dentro pelas diversas lógicas que ao longo dos anos foram sustentando, desde as juventudes partidárias, aos lobbies familiares, de negócios e outros, daí surgindo as mais surpreendentes e tristes escolhas para as diversas candidaturas, seja para as autarquias, para o parlamento nacional ou mesmo para o parlamento europeu.
Em consequência, o florescimento das candidaturas independentes às autarquias locais vai certamente continuar. O que se passou no Porto vai servir de exemplo para todo o país. É provável que os partidos tenham muita dificuldade em responder à nova situação, fechando-se ainda mais. Quando se olha de fora, é quase inacreditável o autismo partidário que leva directamente às derrotas mais previsíveis não havendo, aparentemente, qualquer possibilidade de as estruturas concelhias, distritais e mesmo nacionais verem o que é óbvio para toda a gente, menos para quem lá está dentro. Hoje em dia, quem no interior dos partidos tentar falar a linguagem exterior, absolutamente normal para os restantes cidadãos, rapidamente se sente como um ser estranho que fala uma linguagem de outro mundo.
A Democracia não existe sem os partidos. Mas estes não a esgotam. E muito menos os que existem num determinado momento histórico. A sociedade portuguesa tem passado por momentos de grandes dificuldades. Todos sabemos que a origem dessas dificuldades está na actuação de agentes políticos incapazes de olhar para as receitas do orçamento de Estado como a contribuição dos portugueses e da economia para o bem comum, em vez de um montão de dinheiro para gastar e satisfazer egos, ambições pessoais e clientelas. E esses agentes políticos são o resultado das escolhas internas dos partidos. Perante a dificuldade de mudar os partidos por dentro as alternativas, á esquerda e à direita, irão naturalmente surgir e mudar toda a paisagem política.
Os partidos têm enchido a boca com a palavra “pessoas”. Rapidamente vão descobrir que são essas mesmas pessoas que lhes vão virar as costas, voltando-se para quem sentem que lhes fala uma linguagem compreensível e, acima de tudo, de confiança.
Publicado originalemnte no Diário de Coimbra em 16 de Dezembro de 2013

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

E a chuva que não vem

Que chova depressa. Todos os dias desço a Av Sá da Bandeira a pé e os sapatos colam-se ao chão, tal é a camada de porcaria da cerveja derramada na zona dos bares.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Nikon F2. Velhinha, mas mais bonita não há.


UM HOMEM INVULGAR E UM POLITICO EXEMPLAR

Quando nasceu em 18 de Julho de 1918 em Mviza, no remoto Transkei na África do Sul, o seu pai deu-lhe o nome Rolihlahla o qual, traduzido para português, significa “provocador de sarilhos”. Foi um professor que mais tarde passou a chamar-lhe Nelson.
Nelson Mandela faleceu na semana passada, mas tinha-se tornado há muito um mito, com tudo o que isso significa de bom e de menos bom.
Se o racismo é já, em si, uma das maiores vergonhas da humanidade, o regime de “apartheid” instituído na África do Sul desde os inícios do século XX que consistia num sistema de classes que limitava os direitos dos negros sul-africanos face à minoria branca Afrikaner descendente dos antigos colonos ingleses e holandeses, era absolutamente insuportável sob todos os pontos de vista.
A adesão ao ANC que lutava contra o apartheid de diversas formas, inclusivamente violentas, levou Nelson Mandela à prisão e lá esteve 27 anos por esse motivo. Durante quase 20 anos, esteve preso na prisão de Robben Island, onde as duras condições a que foi sujeito afectaram a sua visão de forma permanente.
Foi no sacrifício da prisão que foi desenvolvendo uma nova atitude para com os opressores. Como ele dizia, teve primeiro que se “vencer a si próprio” e perceber que se queria a paz e a democracia para o seu país, o racismo e a intolerância seriam os grandes empecilhos para tal, inclusivé pelo lado dos negros sul-africanos. Foi ainda na prisão que percebeu a força do perdão.
Para grande escândalo inicial do ANC, Mandela iniciou a certa altura negociações com os responsáveis do Governo branco, levando à prática todo o novo quadro mental entretanto por si desenvolvido.
A sua libertação deu-se em 11 de Fevereiro de 1990, na sequência de uma campanha internacional, mas só aceitou sair da cadeia depois de garantir que todos os seus camaradas saiam também. As negociações com o então Presidente F.W de Klerk já iniciadas anteriormente, levaram ao fim do apartheid apenas quatro anos depois, sendo Mandela eleito Presidente numa eleição geral multi-racial. Quando tantos previam que uma guerra sangrenta se seguiria ao fim do regime do apartheid, nada disso sucedeu, o que se deve em grande parte aos esforços de pacificação e de instalação de clima de tolerância por Nelson Mandela.
Como exemplo, fica a imagem poderosa mas simultaneamente simples de Mandela envergando a camisola da equipa sul-africana de Rugby, levando a assistência quase toda branca a levantar-se e gritar entusiasticamente o seu nome: ele tinha a consciência clara de que libertar os brancos dos seus medos seria ainda mais importante para obter a paz do que libertar os negros da escravidão. A criação de uma África do Sul democrática e não racial ficará certamente como o grande sucesso da sua vida.
No fim do seu primeiro mandato presidencial em 1999, declinou ser de novo candidato, ele que seria presidente toda a vida se assim o quisesse. De novo deu uma lição de humildade democrática e, acima de tudo, de cidadania, mostrando que o processo de democratização da África do Sul era maior do que qualquer pessoa, ele próprio incluído.
Mandela não era um santo, sabia disso e assumia-o. Dizia que os homens vão e vêm, mas acreditava na justiça durante a vida. Era tolerante com tudo, excepto com a intolerância.
Mais que glorificar o Homem que parte, aprendamos todos com o seu exemplo.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 9 de Dezembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Cirurgia Cardio-torácica

Fui operado neste serviço. Lá vi as máquinas a que estava ligado a ficarem com os traços horizontais e a apitar e aqui estou para contar. Excepcional de uma ponta à outra: excelência exemplar em qualquer parte do mundo e em qualquer tipo de serviço de medicina, privado ou público. Obrigado, Dr. João Bernardo e restante pessoal médico e de enfermagem.


Ora bem

Numa tasca alentejana.