quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Tantos génios!

 

 


 

 

De Luis Aguiar Conraria, no Expresso:

https://expresso.pt/opiniao/2020-09-28-Mais-um-prego-no-caixao-da-escola-publica-1


«...No exame de acesso de Matemática A, a moda — ou seja, a nota que se repetiu mais vezes — foi 19. Em Física e Química A, do 11º ano, a moda foi 18. Olhando para as médias de acesso à Universidade, ficamos com a ideia de que o futuro do país está garantido. Os gestores portugueses serão, em breve, os melhores do mundo. Os economistas, idem. Temos uma medicina que não se compara a nada. Os juristas são tão extraordinários que a nossa Justiça rapidamente se tornará uma referência internacional. Cereja em cima do bolo, temos os melhores engenheiros aeroespaciais do mundo: em 10 anos, vamos a Marte e voltamos.

(Se tivermos em atenção que mais de metade dos professores universitários tem a avaliação máxima, de Excelente, somos obrigados a concluir que a academia portuguesa há de ser a melhor do mundo.)

Como, evidentemente, não somos todos uns génios, o que isto quer dizer é que os exames foram fáceis demais, não permitindo distinguir os bons alunos dos muito bons e dos excelentes. Isto tornou o acesso a alguns cursos numa autêntica lotaria. E numa tremenda injustiça para tantos jovens. Não consigo imaginar o que é estar na pele de um adolescente que desde o 10º ano só tira dezoitos, dezanoves e vintes, que nas provas de acesso não tem nenhuma nota abaixo de 18 e não consegue entrar no curso pretendido. Ou estar na pele de alguém que, ao longo de 3 anos, tirou 20 a tudo e que teve um azar no exame de Matemática, não conseguindo mais do que 16, e que por isso não entra no seu curso de sonho. Ao tornar o acesso ao superior numa lotaria, os exames foram um fracasso..

O CHOQUE COM A REALIDADE

Costa a informar os portugueses  que o seu país não tem condições para contrair mais empréstimos. Apenas utilizará o dinheiro "oferecido", dito à borla, que alguém pagará e nós não. Aderiu ao neo-liberalismo? Não! a União Europeia pela voz da sra. Von der Leyen veio explicar-lhe os factos da vida. E agora, geringonça? O BE continua a sustentar o governo PS? E o PCP? Claro que falta pouco para deixarem o PS sozinho a assumir os resultados da governação desde 2015. Vai ser feio de ver. E o Presidente que deixou que tudo isto acontecesse vai ter de arranjar uma saída. Não preciso de fazer um esquema para ver como vai ser.




segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Um país que faz de conta, ou que é apenas fingidor?

 


Eventualmente devido à pandemia que traz a nossa sociedade tolhida de medo, Portugal parece ter entrado num modo «faz de conta», de tal forma se parece fingir que situações graves, que se passam e deviam criar fortes reacções, não estão de facto a acontecer perante os nossos olhos.

Os dois principais partidos, o PS e o PSD, decidiram entre si avançar para uma democratização de faz de conta das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional e arranjaram uns colégios eleitorais constituídos por autarcas para «elegerem» os respectivos responsáveis. Para completar o cenário da dita democratização, distribuíram previamente entre si os lugares em disputa: tantos para mim e tantos para ti e agora srs. Autarcas votem em quem nós já escolhemos. Democracia de faz de conta, pois claro.

Três juízes do Tribunal da Relação de Lisboa foram acusados das mais diversas tropelias à Lei, cometidas enquanto aplicavam a mesma aos cidadãos que lá tinham a desdita de cair. Os factos de que vão acusados passaram-se durante anos, sem que as instâncias de Justiça superiores tivessem capacidade ou vontade da acabar com a situação que seria do conhecimento de grande parte dos funcionários judiciais que lá trabalhavam. No caso de os acusados do processo Lex virem a ser ser condenados, abre-se a possibilidade de centenas de cidadãos afectados por decisões judiciais da responsabilidade do Juiz Rangel poderem requerer revisão dos respectivos processos que, em vez de justiça, podem ter trazido injustiça às suas vidas. Entre essas decisões, uma referente ao processo que já levou um ex-primeiro Ministro a prisão preventiva durante meses há seis anos, fingindo o país não reparar na gravidade de tal situação e no facto de ainda se aguardar pelo despacho de pronúncia ou não.

Entretanto, enquanto apresenta um suposto pacote para combater a corrupção que não é mais que uma mão cheia de nada, o Governo tem na AR uma proposta que visa substituir por convites directos a regra dos concursos para contratação pública e, neste caso, espero mesmo que o país não finja que não se passa nada.

O Governo pede a um cidadão respeitado e respeitável, a quem o primeiro-Ministro chama poeta-engenheiro, que elabore sozinho uma “visão” de recuperação pós-pandemia para orientar a aplicação de mais de uma dezena de milhar de milhões de euros da União Europeia e o país não mostra sinais de perceber a confissão pública de falta de estratégia nacional que isto denuncia.

Os portugueses continuam a ouvir a lenga-lenga de que a troica só veio para Portugal com o seu rol de austeridade e sacrifícios porque uns partidos malvados não aprovaram o PEC IV que lhe traria a recuperação sem necessidade daqueles problemas. E, já agora, sem necessidade de empréstimo de 78 mil milhões. Após isso, o governo andou 5 anos a afirmar que o crescimento de Portugal era superior à média europeia e o país fingia acreditar que sim e que não via que, ano após ano, íamos descendo um lugar no ranking europeu da produção de riqueza. E que, nos últimos 20 anos, o nosso crescimento médio foi de uns míseros 0,5%, sem que isso traga quaisquer dores de cabeça aos portugueses em geral e, principalmente, a quem o prazer de os governar.

O país dorme ou finge não ver que se está a preparar uma solução energética para o país, substituindo o gás natural por hidrogénio que será três ou quatro vezes mais caro. Tal como já aconteceu com as eólicas que nos impingiram com os portugueses a pagar alegremente uma das electricidades mais caras da Europa, porque estão na linha da frente da “descarbonização”, vejam lá a satisfação. Satisfação essa que obriga a sua maioria a não conseguir aquecer as casas no Inverno por causa da conta da electricidade.

O país finge igualmente não ver que, depois de duas auditorias a um banco que está a funcionar de portas abertas e que chegaram basicamente às mesmas conclusões, os responsáveis políticos, com o líder do maior partido da oposição à cabeça, pedem ainda outra auditoria a fazer agora, imagine-se, pelo Tribunal de Contas. Como se a oposição política se deva dirigir à gestão de um banco e não à governação do país. O que não nos deveria admirar quando se dispensa um primeiro-Ministro de ir quinzenalmente ao parlamento explicar-se e prestar contas, passando a fazê-lo de dois em dois meses lá está, porque coitado, tem mais que fazer.

Um país de fingidores, é aquilo em que Portugal se está a tornar.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Setembro de 2020

Emprego público para todos?

 Variação do emprego público desde 2012. Percebem agora a técnica do PS com a geringonça, ou é preciso explicar melhor?



O grande, enorme problema: os obstáculos. Ai de quem obstaculizae a distribuição

 https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2500/html/primeiro-caderno/em-destaque/costa-assume-supervisao-dos-novos-fundos?imp_reader_token=bfd0002e-afd0-4ca7-a328-0de8b6f3504b

 


 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Sarah Lee Guthrie "Catch the Wind" | 30-Minute Music Hour: On the Road

AMIZADE

 


Tempos estranhos estes, em que o afastamento entre as pessoas passou a ser regra e, mais que isso, mesmo obrigação legal. Meses e meses sem contactos pessoais o que, para além de consequências psicológicas evidentes, provocará alterações sensíveis no próprio funcionamento da sociedade, já que o Homem sempre foi um animal gregário. Famílias que se fecham em casa sem se visitarem. Famílias que deixam de ir ao restaurante para evitar contágio. Viagens de turismo que não se fazem e familiares que não se visitam. As consequências económicas são de todos conhecidas por evidência imediata, já as outras não, só se descobrirão mais tarde.

Mas, mesmo nestas condições sociais de isolamento pessoal há algo que resiste, porque está para além da distância e do tempo: a amizade. Desde bancos de escola onde alegrias e jogos infantis criaram relações simples e inocentes mas duradouras para a vida, até mesas de café onde discussões e conversas sobre tudo e mais alguma coisa nos levaram a conhecermo-nos melhor e aos outros, passando por férias de verão mais animadas, muitas situações ao longo da vida nos levaram a criar relações especiais com outras pessoas. Relações de amizade que, tantas vezes, acontecem entre pessoas muito diferentes em feitios, interesses imediatos, quase como se assim se obtivessem equilíbrios que acabam por tornar cada um melhor e mais receptivo à diferença, através da compreensão do outro. Relações que funcionam, tantas vezes, como estabilizadores emocionais durante as crises mais ou menos sérias que todos acabamos por ter ao longo da vida.

Quando reencontramos amigos verdadeiros, sentimo-nos como se o tempo não tivesse passado desde o último encontro. Ainda que se tenham passado dezenas de anos, é possível e mesmo frequente que a conversa seja retomada no ponto em que então ficou, como se tivesse acontecido há poucos dias. Comigo já aconteceu. Aqueles amigos que já nos deixaram para sempre mantêm-se de tal forma vivos na memória dos afectos que, quando nos lembramos deles, é possível recordar com exactidão palavras, frases, entoações, expressões. Nada disso desaparece da nossa memória e também tal me acontece em relação a amigos que já não estão fisicamente entre nós. Precisamente o contrário daquelas outras amizades que, por serem meramente circunstanciais, se evaporam para evitar situações difíceis. Como dizia Confúcio: para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça; no sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.


A amizade séria pressupõe um respeito pelo outro, mas é também uma manifestação de confiança ilimitada. Não tem a ver com o amor ou a paixão, sendo antes disso uma relação estável, que autoriza uma dádiva mútua sem nada exigir e que se mantém com a passagem do tempo. Devo dizer que já encontrei pessoas que nunca tiveram amizades, tiveram colegas e, eventualmente amores e desamores, mas nunca sentiram essa sensação de poder confiar totalmente em alguém como amigo e só posso lamentar que tenham perdido na vida algo de tão importante.

Esta crónica não nasceu do acaso. Foi suscitada pela surpresa de, mesmo em situações de confinamento pandémico, ser possível verificar como amizades pessoais de muitos anos se mantêm vivas de uma forma absolutamente espantosa e com uma capacidade de dádiva e de preocupação cuidadosa que revelam aspectos tantas vezes escondidos mas bem vivos. Redescobertas sempre agradáveis de fazer e que nos levam a recordar ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY:

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”

 

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 de Setembro de 2020