sábado, 17 de julho de 2021

CUBA - o início do fim do regime comunista

 Grande admiração por a maior parte da esquerda não criticar a repressão das manifestações em Cuba. Trata-se apenas da aplicação da velha máxima: é uma ditadura, mas é dos nossos. Nada de especial. O mundo muda, mas não tanto.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

A ler


 

A política de destruição da sociedade

 Esta história de o BE mais o PAN quererem que os meninos vão às casas de banho que lhes apetecer na escola é a medida da inteligência dos proponentes e do respeito que têm pelas pessoas concretas.

Aqui relembro Dostoievski





segunda-feira, 12 de julho de 2021

São as pessoas, caramba!

 



As eleições autárquicas foram marcadas para o dia 26 de Setembro, faltando, portanto, escassas onze semanas para a sua realização. Mas qualquer cidadão atento se aperceberia facilmente, sem ter que acompanhar as notícias, de que as eleições estariam para breve bastando olhar à sua volta e verificar a azáfama inabitual que vai por essas ruas, com pavimentações, plantações de flores, limpezas, etc. etc. Nada que nos possa hoje em dia escandalizar nem sequer chocar, habituados que fomos sendo a estas situações ao longo dos anos. O comentário que mais se ouve é: «quem dera que houvesse eleições todos os anos», significando o desejo de que o excepcional se tornasse normal, tal como o vemos em tantas cidades por essa Europa fora, e não só.

Constitucionalmente, as autarquias locais «são pessoas colectivas territoriais dotadas de órgãos representativos, que visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas». E ainda, «as autarquias locais são as freguesias, os municípios e as regiões administrativas». Deste princípio geral decorrem várias consequências. Desde logo, a verificação de que a Constituição não é aqui cumprida, porque nunca se criaram as regiões administrativas; neste caso há um arremedo de democracia, dado que desde há pouco tempo as CCDR’s têm órgãos executivos saídos de ditas “eleições” de autarcas das freguesias e municípios que, em concreto, foram escolhidos em conjunto pelo PS e pelo PSD e ainda por nomeação governamental. Depois, são de facto as autarquias locais que devem tratar dos interesses das suas populações, o que é facilitado pela proximidade entre eleitos e cidadãos em geral. Por isso mesmo a abstenção nas eleições autárquicas, por exemplo em Coimbra, pouco tem variado ao longo dos anos, ao contrário do que se está a verificar nas outras eleições, quer parlamentares, quer presidenciais.

Já no que respeita às autarquias locais existentes, as próxim


as eleições serão já as 13ªs, tendo as primeiras ocorrido em 1976, lembrando-me perfeitamente em quem votei na altura para presidente da Câmara no acaso logo numa mulher, o que nunca mais pude fazer. As populações estão, por isso, completamente habituadas à sua realização, ao seu significado e importância.

Se nas primeiras décadas da Democracia as autarquias tiveram um papel decisivo na criação de boas redes de infra-estruturas decisivas para a qualidade de vida local, a partir de certa altura, em particular com os fundos europeus, passou-se para uma nova fase. Foi quando começaram a surgir equipamentos, tantas vezes redundantes, como pavilhões desportivos e piscinas excedentários para a população a que se destina e causadores de despesas correntes supérfluas. Como funcionamos por modas e muitos autarcas não querem ficar atrás dos vizinhos, estamos agora na fase das ciclovias e passadiços de madeira, num claro e evidente exagero face a equipamentos que fazem sentido até certo ponto, mas que depois se tornam ridículos quando vemos municípios a anunciar centenas de quilómetros de passadiços nos seus territórios. E a necessária reabilitação urbana das cidades transformou-se em obras, as mais das vezes supérfluas, em que apenas os espaços públicos são reabilitados, gastando-se tanto dinheiro nisso que só falta mesmo forrar algumas ruas a folha de ouro.

E chego ao ponto que acho essencial para as próximas eleições autárquicas, não esquecendo Coimbra. É chegada a altura, e já vamos mesmo um pouco tarde, de passar do hardware para o software ou, em português corrente, deixar as políticas de betão e passar às pessoas. As consequências das políticas que têm sido seguidas estão à vista de todos nós e é necessário, urgente mesmo, cortar definitivamente com esse caminho. Têm que ser encontradas soluções para o marasmo improdutivo que vai grassando pela nossa sociedade e é pela actuação das autarquias locais que isso começa.

Em Coimbra é necessário apoiar com todas as forças as vantagens existentes e que fazem a diferença relativamente às outras cidades: saúde e ensino superior, em ambos os casos sem esquecer a investigação científica e respectiva ligação ao mundo empresarial. A Cultura deverá ser pedra de toque através da promoção do conhecimento histórico da Cidade desde as suas origens, não só para desenvolver amor-próprio mas para encontrar as vantagens competitivas que podem advir de uma História de milhares de anos à beira do Rio que definiu a sua localização e as características próprias da população da sua bacia hidrográfica com importância histórica decisiva.

E ninguém pode ficar indiferente ao elevado número de pessoas com idade para trabalhar que mendigam pelas nossas ruas para poderem comer porque não encontram trabalho ou mesmo por aqueles que dormem à noite nos recantos dos prédios, enquanto o número da carros de luxo na ruas cresce de forma nunca antes vista.

A inteligência tem que ser posta à disposição do bem-comum tendo sempre em mente que o objectivo mais importante da política, onde devem desaguar todos os outros, são as pessoas.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 12 de Julho de 2021

Imagens recolhidas na internet

TAKE ANOTHER PLANE

 O tal plano de reestruturação da TAP do ministro Pedro Santos de há 7 meses ainda não foi aprovado em Bruxelas? Deve ser o tal directório franco-alemão que ainda não sabe que foi demitido pelo Dr. António Costa. Há que avisá-los com urgência.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Cão como nós

 De Manuel Alegre:

Cão como nós

Como nós eras altivo

fiel mas como nós

desobediente.

Gostavas de estar connosco a sós

mas não cativo

e sempre presente-ausente

como nós.

Cão que não querias

ser cão

e não lambias

a mão

e não respondias

à voz.

Cão

Como nós.


SIMÃO À VARANDA


segunda-feira, 5 de julho de 2021

AH AH AH, desculpe

 


A data é Junho de 2021. Novo acto da peça com cenário mudado. Desta vez há novos actores em cena já que, aos anteriores, se juntaram juízes e polícias adivinhando-se escondido atrás do pano quem de lá não quer sair. À boca de cena juntamente com o Ministério Público, Polícia Judiciária, Autoridade Tributária e Juiz de Instrução movimentam-se agora Joe Berardo, o seu advogado de há muitos anos André Luis Gomes e, surpresa só para alguns distraídos, digamos assim, o antigo presidente da CGD Carlos Santos Ferreira, para além dos respectivos advogados.

O inquérito para investigar concessões de crédito da Caixa Geral de Depósitos sem garantias foi aberto em 2016, num acto com poucos actores pela sua própria natureza. Já em 2019, naquele que foi o acto imediatamente anterior ao actual, a representação ficou a cargo dos deputados da Comissão de Inquérito à Recapitalização da CGD (com os impostos dos portugueses, recorde-se) e de Joe Berardo acompanhado do seu advogado André L. Gomes. E que representação! De entre os Deputados salientaram-se Mariana Mortágua e Cecília Meireles tendo esta última, a certa altura, obtido de Joe Berardo a resposta que serve de título a esta crónica que não é evidentemente de bons costumes. A assistência à peça aumentou enormemente perante o desempenho excepcional dos actores, tornando aquele acto num dos momentos teatrais mais falados e mais revistos das últimas décadas. O actor principal deste acto riu-se muito, lembrou factos passados e invocou falta de memória para outros. Lembrou-se, por exemplo, de algumas conversas tidas em 2006 com o então Governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio de seu nome; nada que espante, dado ser Comendador agraciado pelo Estado Português agradecido pela sua acção meritória de cidadania por dois presidentes da República, Eanes e Sampaio, não apenas por um, que o merecimento é excepcional e a figura também. Bem escondida atrás do pano continuava a personagem que se adivinha mas que continuava sem querer aparecer.

E o primeiro acto desta peça já longa de quinze anos? Teve um prólogo com a célebre OPA da SONAE à PT negada pela CGD claro, sem qualquer influência do Governo Sócrates, isso nunca, mas já com o «comendador» a fazer o V de vitória com os dedos! Contudo a “pièce de resistance” do primeiro acto consistiu naquilo que o próprio actor principal considerou ser um favor que prestou aos bancos desde logo a CGD, mas também o extinto BES e, pasme-se, o BCP. Os bancos pediram-lhe que o fizesse e Berardo aceitou, a partir de 2006, pedir empréstimos de quase mil milhões de euros a esses bancos, dos quais cerca de 439 milhões à CGD. Banco do Estado, de que todos os portugueses, ricos e pobres, são portanto de alguma maneira accionistas. E para que é que serviu essa massa toda que os bancos lhe meteram na mão? Para que Berardo pudesse adquirir acções daquele que era então o maior banco privado português e correr com a administração que o levara do nada a essa posição; Jardim Gonçalves, avesso a comprar dívida pública do Estado português como os outros bancos obedientemente faziam, tinha que ser corrido. Claro que os empréstimos da CGD tiveram que ser aprovados pelos administradores mas, lá está, parece não ser ilegal emprestar dinheiro para comprar acções dando como garantia essas acções, embora não seja muito conveniente nem prudente para as contas do banco, como se viu e se está a ver. Neste primeiro acto da peça a personagem mais importante, aquela que verdadeiramente mexia os cordelinhos e dava sentido a toda esta tramóia, já estava bem escondida atrás do pano preto.


O acto seguinte desta peça foi verdadeiramente espectacular: em 2008 os administradores da CGD passaram-se directamente para o BCP. Os actores Carlos Santos Ferreira e Armando Vara foram assim devidamente compensados e, como acontece tantas vezes nestes casos da alta finança, o crime compensou. Pelo menos para eles, já que os accionistas do BCP viram o valor dos seus investimentos no banco reduzido a 10%. E aquele actor que se mantinha atrás do pano por lá ficava, consequência da crise de 2008 e da que ele próprio provocou, já que começou tudo a correr mal impossibilitando a passagem para a boca de cena para representar o papel de banqueiro do maior banco português. Já o actor que aceitou estar sempre à frente no palco, o tal comendador, viu-se a braços com uma dívida gigantesca, tratando de colocar os seus bens próprios ao fresco incluindo imobiliário e a fabulosa colecção de arte, legal ou ilegalmente, não viesse a ser ele o único a pagar por todos.

Estamos agora a assistir ao primeiro acto em que a polícia e os agentes da justiça são também actores. O jogo de espelhos que tem caracterizado esta peça teatral pode começar finalmente a ser desmontado, passando nos actos que se vão seguir cada actor a ter um papel concreto e bem definido na trama, já sem jogos de bastidores, nem enganos. E o actor escondido, que desde o início manipulou todos os outros actores à sua vontade poderá, eventualmente, ser chamado à boca de cena, já não para desempenhar o papel de banqueiro como sonhara, nem sequer o de primeiro-ministro como tinha sido mas finalmente como origem última, ainda que pouco compreensível, das tragédias pessoais, colapsos financeiros e sacrifícios impostos aos contribuintes portugueses. 

Publicado originalmente no Diário de Coimbra, em 5 de Julho de 2021

Fotos retiradas da internet