segunda-feira, 26 de julho de 2021

A MANGA

 


À partida o título desta crónica poderá, na sua simplicidade, nada significar para os leitores do Diário de Coimbra. Contudo, tanto por mim próprio como por muitos outros clientes, é assim que carinhosamente é designado um restaurante de Coimbra cujo nome completo é “Jardim da Manga”.

Como são as pessoas que fazem as instituições, não é possível a um cliente já com alguma antiguidade falar da “Manga” sem referir quem faz o restaurante. Dirigido desde os anos 70 pelo Sr. Xico de saudosa memória que nos deixou há poucos anos, está hoje sob a responsabilidade dos filhos Pedro e Francisco que, com o resto do pessoal de que saliento a excelente cozinheira Sra. D. Judite e o Sr. Miguel na recepção personalizada, sabedora e inexcedível de simpatia aos clientes, souberam dar continuidade a esta casa marcante da gastronomia conimbricense. A ementa que varia todos os dias responde aos mais diversos gostos, mas pessoalmente não posso deixar de salientar o cozido à portuguesa, o cabrito assado, os crepes de bacalhau e a tarte de laranja. Tudo o que descrevi acima, e muito mais, permitiu a criação de um ambiente quase familiar que proporcionou, ao longo dos anos, a criação e manutenção de diversas mesas quase constantes, de diversos grupos profissionais, associativos, familiares e mesmo institucionais que frequentam a “Manga” como se de a sua cantina se tratasse. Por isso mesmo, a “Manga” não é um segredo bem guardado de Coimbra, mas um restaurante bem conhecido mesmo fora de portas.

Mas a “Manga” tem ainda algo de distintivo. A vista privilegiada de que se usufrui, quer no interior, quer na esplanada, é a de uma obra de arte que é classificada como Monumento Nacional desde 1934 e que dá o nome ao restaurante. De facto o restaurante está localizado por trás do interessante e belíssimo conjunto arquitectónico que actualmente tem a designação de “JARDIM DA MANGA”. Para descrever esta obra, socorro-me de um reconhecido especialista da História e da Arte Conimbricense, o meu estimado Amigo Doutor Pedro Dias que, na sua obra «Coimbra, Arte e História» propõe um Roteiro de Coimbra que inclui precisamente o “Jardim da Manga”. 


É assim que ficamos a saber que se trata de uma construção renascentista datada de 1533, construída portanto durante o reinado de D. João III, da autoria de João de Ruão que traçou o plano e executou os baixos-relevos para o interior das quatro capelas, tendo a obra de pedraria ficado a cargo de Pero de Évora, Diogo Fernandes e Fernando Luís. A sua construção foi promovida pelo Prior do Mosteiro de Santa Cruz, Frei Brás de Braga e localizou-se num dos três claustros do Mosteiro. Ainda de acordo com o Prof. Pedro Dias, trata-se de “uma das primeiras obras arquitectónicas inteiramente renascentistas feitas em Portugal e alia-se a este facto o seu valor simbólico, e a sua estrutura evocativa da Fonte da Vida, a que não terá sido estranha a intervenção de Frei Brás de Braga”.

Ainda de acordo com os professores Pedro Dias e Nelson Correia Borges, citados a partir do livro «Património Edificado com Interesse Cultural – Concelho de Coimbra editado pela Câmara Municipal, “o complexo do jardim é formado por um conjunto de construções circulares, interligadas entre si e rodeadas por pequenos tanques, tendo no centro um templete de planta circular, com um tanque ao centro…Este conjunto representa a Fonte da Vida, com o templete central a representar a Eternidade, ao qual dão acesso escadas com sete degraus, que simbolizam a Caridade, a Graça e o Espírito Santo, enquanto que os oito tanques unidos em pares simbolizam os quatro rios do paraíso e os jardins o próprio paraíso”.


Trata-se de uma obra arquitectónica que mais parece uma escultura, que permite uma visita informal dada a sua abertura que permanente, servindo ainda de cenário a belas fotografias, o que aliás acontece diariamente. Os pormenores de alvenaria são pequenas maravilhas, destacando por exemplo as gárgulas ou as oito colunas coríntias do templete central que sustentam uma abóbada esférica.

A designação antiga do conjunto seria «Fonte da Manga», mas a partir de certa altura generalizou-se a tradição de que o próprio rei D. João III o teria desenhado na manga do seu gibão. E assim ficou a ser conhecido como «Jardim da Manga» e é esta a designação que actualmente prevalece. E, como se costuma dizer, se não é verdade, é uma história bem encontrada. O que importa é que, à frente do excelente Restaurante Jardim da Manga, se encontra este Monumento sempre aberto ao público, coisa rara nos dias que correm.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 26 de Julho de 2021 

Fotos retiradas da internet

domingo, 25 de julho de 2021

Edith Piaf - NON, JE NE REGRETTE RIEN - legendado

OTELO

 Para além do que toda a gente recorda sobre Otelo, como estratega do 25 de Abril, como responsável das FP25, etc., etc., há algo que recordo, porque ainda hoje é a base do pensamento político de muitos portugueses, com as consequências que vemos todos os dias.

Numa visita à «social democracia» da Suécia, Otelo virou-se para Olof Palme e disse-lhe que em Portugal íamos acabar com os ricos. Ao que o primeiro-ministro sueco lhe respondeu: pois cá, andamos a tentar acabar com os pobres.

terça-feira, 20 de julho de 2021

Sweet Memories

Homem na Lua

 Faz hoje 52 anos que o primeiro homem pisou a Lua. Coube-me ficar de pé toda a noite até aparecer a emissão de televisão da Lua e chamar o resto da família.

Os heróis da Apollo 11 chamavam-se Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins, só os dois primeiros tendo descido ao nosso satélite natural.




segunda-feira, 19 de julho de 2021

“Seja um dador salvador”

 


Dar sangue é, com toda a certeza, uma das acções mais meritórias que cada um de nós pode fazer ao longo da vida. Trata-se de partilhar algo que nos é absolutamente vital, ainda por cima sem sabermos quem virá a beneficiará dessa partilha. Depois da dádiva, eventualmente, o dador virá a receber um SMS do Hospital a informar que o sangue dado «ajudou hoje a salvar uma vida», gratificação mais que suficiente para justificar o pequeno sacrifício da recolha do sangue.

A dádiva de sangue só não é feita de forma totalmente anónima porque se torna necessário rastrear determinado tipo de doenças que não podem ser transmitidas pelo doador ao receptor, sendo feitas determinadas análises de cujo resultado é depois dado conhecimento ao dador. A segurança em toda a cadeia de doação de sangue é absolutamente necessária, e é uma questão médica e científica, razão pela qual os partidos políticos se deveriam abster de se intrometer no processo.

Por razões de idade, deixei há algum tempo de poder ser dador de sangue, razão pela qual me sinto hoje à vontade para abordar este assunto de forma que inclui a visão pessoal resultante de experiência própria. Aliás, na última vez que dei sangue, já depois de passada a idade tida como limite habitual, senti pela primeira vez que o corpo reagiu de forma negativa com alguma intensidade, assim me provando caso tal ainda fosse necessário, que a idade não perdoa pelo que a nossa actividade deve ter isso em conta e que as regras estabelecidas têm toda a razão de ser.


Durante anos doei sangue nos HUC, sendo testemunha, quer do espírito espantoso de partilha humilde dos doadores desconhecidos que ali encontrava no Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do CHUC, quer de todo o pessoal que ali presta serviço, de um cuidado e mesmo carinho para com os doadores que é digno do maior apreço.

Para rematar esta fase da vida, tive há dias a grata surpresa de ter sido um dos dadores distinguidos com um Certificado de dador de sangue assinado pela própria ministra da Saúde entregue numa sessão que decorreu no auditório dos HUC, num momento cultural e cívico do maior significado. Ali fiquei a saber que o CHUC conta com cerca de 18.000 dadores inscritos que anualmente permitem a obtenção de 14.000 unidades de sangue. É um número elevado, mas por vezes insuficiente para as necessidades do Centro Hospitalar. Razão por que foi lançada uma campanha para promover a dádiva de sangue neste Verão. Não sei a razão, mas nesta época do ano faz-se normalmente sentir mais a necessidade de sangue. Pessoalmente, e como o meu sangue é do tipo dador universal, várias foram as vezes ao longo dos anos em que recebi mensagens do Hospital a solicitar dádiva com urgência por falta de capacidade de resposta momentânea para um ou outro tipo de sangue. O que eu fazia, sempre que possível, lembrando-me das trágicas consequências de uma possível situação de emergência sem haver capacidade de resposta.

A pandemia COVID 19 teve também consequências a nível das dádivas de sangue, pelos mais diversos motivos, de entre os quais o isolamento sanitário de muitas pessoas, incluindo dadores habituais.

Por isso mesmo, o Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do CHUC, em articulação com a Associação de Dadores de Sangue de Coimbra, está a promover uma campanha que visa alertar a comunidade para a importância de dar sangue, em particular nesta época estival. Estabelecendo uma feliz associação de ideias com a praia e os necessários nadadores salvadores a campanha recebeu a designação “Neste Verão, seja uma dador salvador”. Como se pode dar sangue a partir dos 18 anos, o objectivo é aliciar os jovens a dar sangue neste Verão. Num tempo em que tanto se fala, e bem, de igualdade e fraternidade, a doação de sangue permite a qualquer pessoa transformar-se em salvador participando nessa grande família de dadores beneméritos de sangue de todo o mundo. E, sim, na verdade todos somos iguais sendo o sangue de todos nós da mesma cor, não havendo ninguém com sangue azul.

Caro leitor, neste Verão dê sangue e seja também um “dador salvador”, pelo menos para compensar a falta do autor desta crónica.

Texto publicado originalmente no Diário de Coimbra em 19 de Julho de 2021

Imagens retiradas da internet