segunda-feira, 4 de agosto de 2008

PAGAR A HORAS




Existe um problema quase endémico na economia portuguesa, que consiste no sistemático atraso nos pagamentos.
A Associação Industrial Portuguesa publicou recentemente dados sobre este problema, tendo concluído que 75% das empresas portuguesas têm problemas com atrasos de pagamento.
Refira-se que atraso de pagamento significa que o comprador do bem ou serviço não efectua o pagamento dentro do prazo que foi acordado entre as partes, seja esse prazo de 30 dias, seja de qualquer outro prazo. O que interessa aqui é que o pagamento seja feito quando a outra parte está legitimamente a contar com ele.
De acordo com a Intrum Justitia, os países europeus em que as facturas são pagas com mais atraso são a Grécia, Chipre e Portugal, sendo os países do Norte da Europa aqueles que revelam maior grau de cumprimento nesta área.
É possível verificar assim uma certa permissividade quase cultural em alguns países do Sul da Europa no que toca à falta de pontualidade nos pagamentos, mas onde já não constam a Espanha ou a Grécia.
O atraso no recebimento das facturas traduz-se para qualquer empresa numa taxa escondida, que a leva muitas vezes a defender-se, atrasando os pagamentos aos seus próprios fornecedores. De facto, é a própria sobrevivência dessa empresa que pode ser colocada em causa. Assim se entra numa espiral com grandes custos para a economia na sua globalidade.
Com vista a transformar este “ciclo vicioso num que seja antes virtuoso”, a ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores), lançou um programa chamado “Compromisso Pagamento Pontual”.
Ao aderirem voluntariamente a este compromisso, as empresas comprometem-se, sob sua responsabilidade, a efectuar o pagamento pontual aos seus fornecedores.
Por algum lado se teria que cortar este ciclo vicioso. Está provado que os meios coercivos não funcionam em Portugal, por motivos culturais, por falta de responsabilidade generalizada, por puro oportunismo e cupidez, ou ainda por falta de resposta dos tribunais em tempo útil.
O estabelecimento de uma cultura de responsabilidade e de respeito pelos outros actores na economia é essencial para uma sã competitividade, que se reflecte obrigatoriamente na competitividade nacional.
Para quem está há muito habituado ao actual estado de coisas nesta área, este desafio pode parecer ingénuo ou até inútil. Não é ingénuo, porque parte de quem conhece a fundo o funcionamento da economia, e só seria inútil se por distracção ou falta de responsabilidade os responsáveis das empresas não lhe prestassem atenção.
Sucede que neste momento já largas dezenas de responsáveis de empresas assumiram publicamente o “Compromisso Pagamento Pontual”, colocando uma boa parte da economia portuguesa dentro do tal ciclo virtuoso.
Ao contrário de muitas más notícias da economia, estas são claramente boas notícias, esperando-se que muitos mais gestores e empresários sejam chamados a esta linha de responsabilidade, para o que poderão ir ao portal da Internet com o endereço:
http://www.ver.pt

Publicado no Diário de Coimbra em 4 de Agosto de 2008

1 comentário:

Fernando disse...

E o Estado pode aderir a este compromisso?
Ou só vale para as empresas?
É costume dizer-se que os bons exemplos vêm de cima. Também aqui se aplica, o Estado, sistematicamente, não cumpre os seus compromissos, mas ninguém estranha. É que o Estado está mesmo em baixo por isso nada de exemplos.