Nestes tempos em que o pragmatismo parece sobrepor-se até mesmo às opções ideológicas, que lugar restará para a Ética na política?
Em termos simplistas, pode colocar-se a questão da Ética na consideração de haver ou não dicotomia entre Felicidade e Virtude na actividade política.
Pode um político ter sucesso (ganhar eleições) e exercer o poder, qualquer que seja o tipo de poder, e ser simultaneamente “boa pessoa”?
Esta questão não é nova, acompanhando desde sempre a história das organizações humanas, e tendo sido claramente documentada pelo menos desde a Grécia Antiga. Nesses tempos, enquanto Pitágoras afirmava que ter sucesso é diferente de ser boa pessoa, Sócrates defendia que “para ser feliz, tenho que ser boa pessoa”.
Todos nós conhecemos igualmente a ideia generalizada de hipocrisia associada à actividade política. Já no século XIX, um célebre caricaturista português apresentava a política como uma porca que amamentava muitos bácoros. E também nos nossos dias encontramos políticos que fogem à verdade, ou não a contam toda, o que acaba por ser o mesmo; outros prometem mundos e fundos sem a mínima intenção de cumprir as promessas e há ainda os que, com métodos mais ou menos sofisticados, mais não fazem do que comprar votos.
Ao contrário de outras actividades, a política não é regida por normas especiais, que apenas existem para regular o exercício de determinados cargos. Por isso, é frequente ouvir políticos de grande responsabilidade dizerem que, para si, a ética é a lei da República. Assim sendo, para estes políticos o que não é ilegal é aceite por eles, pelo menos no que lhes interessa.
No fundo, é a própria consciência dos políticos que determina se a sua acção se desenvolve dentro de regras éticas (que sim, existem e decorrem mesmo da lei natural), ou não. E normalmente essa consciência torna difícil que alguém consiga separar as suas vidas, sendo “boa pessoa” na vida particular e falho de ética na pública, ou vice-versa.
Em resumo, se a política não tem um código de conduta ética, é absolutamente crucial que os políticos disponham, antes de o serem, de uma consciência que os informe sobre o carácter ético das suas acções. Já os eleitores deverão ter em consideração este aspecto nas suas escolhas, para não virem depois a sofrer grandes desilusões.
Publicado no Diário de Coimbra em 18 de Agosto de 2008
1 comentário:
Comentário de um leitor identificado do DC:
Parabéns pelo seu artigo no DC de 18 do corrente.
Opina sobre questões que me têm preocupado e desiludido. A mediocridade e a falta de ética, infelizmente, grassam nos nossos políticos.
À sua frase “Ao contrário…determinados cargos.” eu acrescentaria: E sem normas não pode haver responsabilização nem penalização por inexistência de desvios perceptíveis.
Quanto ao último parágrafo, difícil se torna escolher por não ser fácil penetrar e analisar as consciências dos candidatos. Cá para mim, que ninguém me ouve, desconfio que naquelas cabecinhas, nada há para além de projectos pessoais que lhes garantam um futuro bem acima do que seria aceitável e ético.
Exemplos não faltam
Accionei as minhas memórias e tentei procurar nelas alguma excepção que justificasse a regra. Talvez seja procurar agulha no palheiro e se calhar num palheiro só com palha como nos da minha aldeia.
Cansei-me da longa viagem e sujei-me com a palha seca, alguma já com mofo. Mas, Eureca! Consegui encontrar alguém. António Arnault. Digo eu!... porque não encontrei melhor. Ou estarei enganado?
Saudações
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