segunda-feira, 3 de abril de 2017

Comemorar 60 anos


Se sessenta anos é um período de tempo bastante curto no que respeita à vida dos países, já o mesmo não se pode dizer quanto à duração de períodos de paz e de prosperidade.
É hoje uma moda generalizada desfazer na União Europeia e considerá-la responsável pelos problemas com que se debatem diversos países da União, esquecendo tudo o que de positivo trouxe durante a sua existência e as extraordinárias potencialidades que ainda contém, pesem embora os erros evidentes que têm sido cometidos.
Há sessenta anos, em 25 de Março de 1957, os representantes plenipotenciários de seis países europeus, a França, a Alemanha Ocidental, a Itália, a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo sentaram-se à mesa numa sala magnífica do “Pallazo dei Conservatori” na “Piazza del Campidoglio” em Roma, para assinar uma declaração conjunta, que ficou conhecida como o Tratado de Roma. Assim nascia a Comunidade Económica Europeia que estabelecia uma união económica e um mercado comum. Foi aí que surgiram instituições como a Comissão Europeia, o Conselho de Ministros, o Parlamento Europeu e o Tribunal Europeu de Justiça, hoje bem conhecidos de todos nós.
Aquele acto fundacional não surgiu, contudo, do nada. As duas grandes guerras europeias da primeira metade do século XX que, pela sua dimensão acabaram por ser tornar mundiais, haviam sido tão terríveis e tinham criado feridas tão profundas, que aqueles países europeus decidiram escolher um caminho novo que evitasse novos conflitos bélicos europeus. Fundamentalmente a Alemanha e a França, a que se vieram a juntar os outros 4 países, tinham que ultrapassar velhos e graves sentimentos de ódio e enterrar rivalidades, encontrando caminhos comuns de paz e progresso. Assim, logo em 1951, escassos anos após o fim da guerra, os seis países começaram por assinar em Paris a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço com o objectivo declarado de obter uma paz duradoura através da colaboração, como sintetizou o ministro francês Robert Schuman na sua afirmação feliz e célebre: “tornar a guerra, não só impensável, mas materialmente impossível”. Logo aí ficou estabelecido que a paz e a prosperidade no continente europeu exigiam a perda de alguma soberania nacional a favor de instituições comuns, com integração económica e política.
A CEE foi evoluindo e crescendo. O primeiro alargamento deu-se em 1973 com a entrada do Reino Unido, da Irlanda e da Dinamarca. Em 1986, Portugal entrou juntamente com a Espanha e em 1993 a CEE passou a ser a União Europeia. O alargamento continuou e os últimos países a entrar na UE foram a Bulgária e a Roménia em 2007 passando para um total de 28, havendo neste momento vários países na fase de transição para entrarem. O sonho da criação de uma moeda única, objectivo oficial da CEE desde 1969, concretizou-se em 2002, com o início da circulação do Euro em substituição das moedas nacionais dos países que aderiram à zona euro.
O Reino Unido não entrou na CEE no seu início fazendo-o apenas em 1973, nunca tendo aderido ao Euro, mantendo a Libra como a sua moeda própria. A relutância da participação do Reino Unido foi sempre evidente, tendo terminado agora com o pedido definitivo de saída, formulado quase simbolicamente em 29 de Março de 2017, quatro dias depois da celebração dos 60 anos da União Europeia.

Como se imagina, a governação de uma união internacional que agora ficou com 27 países nunca poderá ser uma tarefa fácil. A integração económica e monetária sem uma profunda cooperação financeira dificulta as coisas, quando da união fazem parte países com características tão diferentes como Portugal e a Suécia, por exemplo. Daí o desafio, que não pode ser transformado numa cedência a nacionalismos que mais não significam que o regresso a um passado sombrio que tanta desgraça trouxe aos povos europeus. Um pormenor que não devemos esquecer é que, dos actuais países que constituem a União Europeia, apenas 12 eram democracias aquando da fundação em 1957.
Apesar das diferenças entre os 27 países, qualquer um deles é uma miragem de sonho para os cidadãos da maior parte do mundo e daí vem uma boa parte das dificuldades actuais. Aos nossos jovens deixo aqui apenas um desafio: sejam exigentes com os políticos e não se deixem enganar por palavras encantatórias que apenas pretendem trazer um passado que era solo fértil para todos os extremismos políticos e imaginem o que seria voltar a uma Europa em que tivessem de parar e mostrar passaporte em fronteiras restabelecidas.

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