A economia italiana aparece normalmente associada a factores negativos endémicos, fazendo parte daquilo a que os anglo-saxónicos, depreciativa e insultuosamente chamam países PIGS: Portugal, Itália, Grécia e Espanha (Spain).
No entanto são sobejamente conhecidos os sectores da alta costura (moda) e indústrias pesadas (como a automóvel) em que a Itália ainda consegue dar cartas.
Curiosamente, os últimos anos viram a Itália tornar-se no produtor mais importante do mundo de algo que exige em simultâneo inovação, tecnologia, design e capacidade de distribuição ao mais alto nível: o fabrico de óculos.
Duas empresas italianas localizadas na região de Milão produzem actualmente a esmagadora maioria das armações, lentes de prescrição médica e óculos de sol: a Luxxottica e a Safilo.
A Luxxottica tem vindo a comprar as maiores empresas do ramo em todo o mundo, como por exemplo a bem conhecida Ray-Ban que de americana passou a italiana. Produz ainda sob licença várias marcas de luxo, como por exemplo, Prada, Bulgari, entre tantas outras.
Para se perceber a importância do potencial de crescimento desta indústria a nível mundial, basta sublinhar que cerca de 90% dos chineses sofrem de miopia. Se bem que a China produza muitos óculos de baixo custo, a qualidade dos óculos italianos tem vindo a impor-se naquele mercado absolutamente gigantesco. Por outro lado, todos conhecemos os conselhos médicos que nos levam a usar cada vez mais óculos de sol, para proteger os olhos de radiações prejudiciais. Também o crescimento do número de horas à frente do computador está a levar a que muito mais pessoas necessitem de óculos.
Embora a Safilo seja mais antiga, a Luxxottica, que foi fundada apenas em 1961, já ultrapassou o valor de 3 biliões de euros de vendas anuais.
Eis um exemplo de como um mercado muito específico pode ser atacado a nível global, por um número extremamente reduzido de empresas.
Ao contrário do que muitas vezes se diz, a economia italiana consegue muitas vezes produzir o melhor que há no mundo. Já não falamos apenas da Ferrari ou da Prada, de artigos exclusivos, mas de produtos acessíveis, e muitas vezes necessários, a muitas pessoas.
Por outro lado, não consta que a autêntica hecatombe do mundo financeiro leve as pessoas a deixar de usar óculos.
É um excelente exemplo para todos nós, de como a economia real, com uma base industrial forte, pode sobreviver e apresentar mesmo rentabilidades superiores aos negócios puramente financeiros.
Publicado no Diário de Coimbra em 22 de Setembro de 2008
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