Contrariamente ao que à primeira vista possa parecer, os nomes do título não são de um casal de actores famosos de Hollywood envolvidos em alguma acção humanitária.
São antes os nomes das duas agências americanas fundadas para apoiar a concessão de crédito para compra de habitação nos Estados Unidos.
O Fannie Mae existe desde que o presidente Franklin Roosevelt o fundou em 1938, tendo sido privatizado em 1968 no tempo de Richard Nixon, que precisava de dinheiro para a guerra do Vietnam.
O Freddie Mac nasceu em 1970 e foi igualmente privatizado, em 1989.
Após a sua privatização, decorrente da venda das acções no mercado, ambos mantiveram no entanto um estatuto semi-público que obrigava – e obriga – o Estado a avalizar as suas operações.
Em conjunto, representam mais de metade do crédito imobiliário dos EUA, cerca de 12 biliões de dólares.
Estas agências actuam através da compra dos créditos concedidos pelos bancos a quem compra casa por empréstimo bancário, vendendo posteriormente essas carteiras de créditos a investidores sob a forma de títulos de dívida.
Quando funciona bem, todos ganham: os construtores vendem as suas obras, os compradores de casa têm financiamento, os bancos ganham a sua taxa, as agências cobram o seu juro e os investidores negoceiam as suas carteiras no mercado.
Só que há um ano surgiu a crise do crédito hipotecário de alto risco nos EUA.
Com problemas de liquidez e de desemprego, muitos compradores de casas deixaram de pagar as prestações aos bancos, que se viram com elas nas mãos, para descobrirem que os valores anteriores das casas estavam altamente inflacionados e as garantias reais afinal não existiam.
Foi todo um edifício que ruiu como um castelo de cartas e que está a ter efeitos em todo o mundo. As consequências ainda não são claras, havendo grandes bancos a ser salvos com verbas públicas, como o Northern Rock em Inglaterra e o Bear Stearns nos EUA, podendo o Lehman Brothers ir pelo mesmo caminho.
A vez do Fannie Mae e do Freddie Mac chegou agora. A Reserva Federal americana resolveu comprá-los, para o que gastará uns 200 mil milhões de euros.
Há quem se regozije com a situação, decretando a falência do capitalismo e definindo mesmo a actuação do estado americano como sendo socialista.
De facto, é uma situação estranha, mas significa que no fundo o sistema se defende, embora à custa dos cidadãos americanos que vão pagar cada um mais de 80 dólares dos seus impostos para esta solução.
É mais uma prova de que o mundo está perigoso, particularmente no que se refere ao sistema financeiro. É preciso que os Estados exerçam efectivamente e a tempo a sua competência reguladora, para não terem que intervir financeiramente mais tarde, como sempre à custa dos impostos pagos pelos contribuintes.
Publicado no Diário de Coimbra em 15 de Setembro de 2008
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