Evangelho do dia: (Jo 1, 1-18) No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo se fez por meio d'Ele e sem Ele nada foi feito. N'Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam. Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu. Veio para o que era seu e os seus não O receberam. Mas àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho d'Ele, exclamando: «Era deste que eu dizia: 'O que vem depois de mim passou à minha frente, porque existia antes de mim'». Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos graça sobre graça. Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer.
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jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
BOM ANO
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
2010, um ano de centenários
O correr inexorável do tempo trouxe-nos o fim do ano de 2009. Como sabemos, a numeração dos anos corresponde a uma pura convenção, sendo em quase todo o mundo seguido o calendário gregoriano que em 1582 aperfeiçoou e substituiu o calendário juliano que vinha desde os tempos do império romano.
Já a duração dos anos não tem nada de convencional, correspondendo à duração de uma translação da Terra à volta do Sol. Embora o esqueçamos com alguma frequência, todos nós vivemos em ritmos impostos pela Natureza que não está nas nossas mãos mudar.
Nas passagens de ano é frequente recordar as efemérides que ocorrem no ano que vai começar. Trazem-se assim à lembrança factos do passado que marcaram a nossa história colectiva, definindo boa parte daquilo que somos hoje.
No ano que começa esta semana ocorrem dois centenários muito importantes para o Portugal actual: os duzentos anos das invasões francesas e os cem anos da instauração da República.
Não sendo um facto muito conhecido, passam no próximo dia 1 de Outubro duzentos anos sobre a data em que o exército francês de Massena ocupou e saqueou Coimbra durante vários dias. A batalha do Buçaco em que os exércitos portugueses e ingleses comandados por Wellington derrotaram os invasores, tinha ocorrido pouco antes, em 27 de Setembro. Após a batalha, os exércitos aliados retiraram para sul, na sua estratégia de ir dando luta aos franceses até às Linhas de Torres Vedras que protegiam a capital. Foi assim que Coimbra ficou à mercê dos soldados derrotados de Napoleão, famintos e maltratados. A quase totalidade dos cerca de 40.000 habitantes da nossa cidade fugiu enchendo as estradas atrás dos soldados portugueses e ingleses. Os soldados franceses destruíram e pilharam tudo o que puderam e não tinha sido escondido não escapando nada, nem sequer laboratórios da Universidade. Muitos habitantes terão sido mortos, sem distinção de sexo nem idade. Antes que as milícias portuguesas comandadas pelo coronel inglês Trent tivessem recuperado a Cidade em 7 de Outubro, centenas de edifícios haviam sido incendiados. As Guerras Peninsulares marcam o início de um definhamento da economia portuguesa que nunca mais recuperou totalmente em relação ao resto da Europa.
Igualmente em Outubro, comemoram-se os cem anos da República. Dois anos depois do regicídio, uma revolta em Lisboa deu origem ao fim da Monarquia, velha de oitocentos anos. O regime estava de tal forma apodrecido, que nem se defendeu. Já D. Carlos costumava dizer que era rei numa monarquia sem monárquicos. Não vale a pena estarmos hoje a branquear o que foi a 1ª República. Claro que teve alguns aspectos positivos. Mas os negativos foram tantos e tão graves, que criaram um fosso entre a esmagadora maioria da população e a reduzida clique do PRP que governou Portugal como se fosse sua propriedade. Em poucos anos conseguiu criar uma reacção que levou ao 28 de Maio de 1926. Aliás, nem republicanos escaparam à desgraça que foram esses tempos, como o chefe do governo António Granjo morto pela carbonária na tristemente célebre noite de 21 de Outubro de 1921, tal como sucedeu com outras figuras de relevo. Nem se diga que a 1ª República trouxe mais democracia a Portugal do que o regime que derrubou. Após o 5 de Outubro de 1910, o número de recenseados desceu mais de 50%, já que a nova república tinha medo dos votos do povo. Em 1926, Portugal era mesmo o único país europeu sem sufrágio universal, como lembra Rui Ramos na sua recente História de Portugal.
A História pode ajudar a criar um espírito colectivo de pertença a uma comunidade, mas deve servir também e sobretudo, para evitarmos erros do passado e sermos capazes de preparar um melhor futuro para os que nos sucederão.
Bom ano de 2010 para todos os leitores.
Publicado no Diário de Coimbra em 28 de Dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Equilíbrios e balanços
OBAMA
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
MAGNIFICAT
Naquele tempo, Maria disse: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Solistício de Inverno
Um Santo e Feliz Natal
De mansinho, estamos de novo no Natal. Apesar de todas as preocupações e ralações que os últimos tempos têm trazido a todos nós, a passagem inexorável dos dias fez-nos chegar à altura do calendário em que a tradição cristã nos faz recordar o nascimento de Cristo.
A força da mensagem do Natal é tão grande, que mesmo uma sociedade laicizada como é a nossa actual não prescinde da sua comemoração.
É verdade que é possível ler artigos sobre o Natal em que não se fala uma única vez do nascimento de Jesus Cristo, embora não se deixe de referir as crianças, principalmente as que mais sofrem com o abandono e a pobreza. Quase se transforma a festa cristã numa arma de luta de classes.
A sociedade mercantilizada em que vivemos tenta igualmente transformar o Natal numa festa consumista que mais não seria do que um pretexto para vender inutilidades. Curiosamente, esta festa consumista gira toda à volta de um símbolo que, embora também de tradição cristã, rodeia o essencial do significado do Natal. Refiro-me, como é bom de ver, ao Pai Natal bem redondinho e vestido com o vermelho de uma célebre campanha da Coca-Cola. Coitado dele, sinal dos tempos, já não entra nas casas pela chaminé para deixar presentes, mas aparece por todo o lado a trepar pelas paredes como se fosse um vulgar ladrão.
Mas a celebração do Natal resiste a todas estas circunstâncias, porque o seu significado profundo é o da paz, da concórdia e da fraternidade.
O facto de Deus se ter feito Homem para nos salvar através da sua morte na cruz que se celebra na Páscoa obrigou a que nascesse como todos nós. Nasceu aliás em circunstâncias muito difíceis, porque os seus Pais se tinham visto obrigados a deslocar-se a outra cidade distante da sua em mais de 150 km para se recensearem. Razão por que acabou por nascer, não no conforto de uma habitação, mas num curral de animais, único local encontrado para refúgio. Coisas maravilhosas se passaram então, como a romagem dos pastores vizinhos, o surgimento temporário de uma estrela e a adoração dos reis magos.
A inclemência do poder fez-se também sentir da pior maneira. O rei Herodes, com medo de um novo rei dos judeus, mandou matar todos os meninos de Belém com menos de dois anos, obrigando a que o regresso da Sagrada Família a casa se fizesse por outro caminho.
A representação actual do Presépio é muito antiga, devendo-se, segundo a tradição cristã, a uma iniciativa de S. Francisco de Assis no ano de 1223, nunca mais tendo sido abandonada.
Ao longo dos tempos tem havido tentativas de transformar ou mesmo de eliminar a tradição cristã do Natal. Como se o Natal só pudesse ser celebrado pelos cristãos no interior das suas casas ou das igrejas. Mas a verdade é que mesmo sob a capa do mercantilismo ou da invasão de pais natais, o significado profundo do Natal está lá, representado no sorriso inocente e confiante daquela criança acabada de nascer. Basta ver a alegria das crianças quando recebem uma prenda, por mais singela que ela seja, para perceber que o Natal é fundamentalmente delas, façamos nós adultos o que fizermos para o estragar. Mesmo Jesus Cristo já homem, muitos anos depois do seu nascimento haveria de dizer: “deixar vir a mim as criancinhas”.
A todos os colaboradores deste jornal e aos seus leitores, os meus votos de um Santo e Feliz Natal.
Publicado no Diário de Coimbra em 21 de Dezembro de 2009
sábado, 19 de dezembro de 2009
Tenho vergonha, tenho muita vergonha
"Sei que as estrelas são de general, as tiras dos outros oficiais e os acentos circunflexos do pessoal subalterno"
O frentismo social
No início do próximo mês, o casamento entre pessoas do mesmo sexo irá "aterrar" na agenda da Assembleia da República. Mas para 2010 ensaiam-se já outras discussões "fracturantes". Um deputado do PS vai propor a legalização da eutanásia. E o Bloco de Esquerda prepara-se para legislar sobre direitos de identidade dos transsexuais.
(Do DN de hoje, através do SAPO)
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Morreu a SAAB
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Casamento "alegre"
Casamento "alegre"
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
E agora, PSD?
Que a chamada “crise global económica e financeira” tem as costas largas já todos sabemos. Que a mesma crise continua a minar de forma larvar os alicerces frágeis de economias mal preparadas e com problemas estruturais, basta ver o que acontece neste momento na Grécia.
Que a nossa economia continua num caminho descendente contínuo, todos os indicadores o indicam, principalmente o quase nulo potencial de crescimento de que infelizmente quase não se fala. Também a permanentemente anémica evolução do PIB, o endividamento externo, o défice das contas públicas e o desemprego galopante são evidentes.
O turbilhão da política é visível no agastamento sistemático dos confrontos no Parlamento, que já ultrapassaram notoriamente o nível do normal e democrático debate de ideias, para se transformarem numa coisa muito feia, que não vale a pena nomear.
A situação política mudou radicalmente depois das últimas eleições em que, recorde-se, o PS perdeu a maioria absoluta e o PSD se ficou pelos 29%.
Da inexistência de maioria absoluta não vem mal nenhum ao mundo. Implica, no entanto, para que o país seja governável, que se construa uma coligação governamental ou, em alternativa, um acordo de incidência parlamentar que garanta uma estabilidade governamental mínima. Fora disso fica a hipótese de ir procurando diariamente parceiros pontuais. Face ao estado actual da economia e à conflitualidade que todos nós podemos constatar diariamente, não parece que este último caminho tenha grande futuro.
Claro que, perante o panorama descrito, a tentação de esticar a corda pelo lado do PS para provocar eleições que lhe possam restituir a maioria absoluta a curto prazo, é muito grande. E nem será muito difícil convencer os portugueses de que são os partidos da oposição os responsáveis pela situação de ingovernabilidade, se estes não adoptarem uma postura de clara e óbvia defesa do interesse nacional.
E aqui chegamos ao PSD, que se apresenta completamente “nu” perante os portugueses. Face aos resultados eleitorais desde 2005, os dirigentes do PSD, actuais e futuros, que tirem o cavalinho da chuva como se costuma dizer. Em caso algum o PSD herdará o poder: se o quiser, terá que o conquistar.
No passado, tirando a excepção de Durão Barroso que governou perante a desistência excepcional de António Guterres, o PSD teve que lutar duro para conquistar o poder. Foi assim com Sá Carneiro e a AD em 1979: teve mesmo que assumir um confronto directo com o Presidente da República de então e que arrostar com a divisão partidária das “opções inadiáveis” (os que nesse tempo se consideravam os verdadeiros social-democratas do PSD) que lhe fizeram perder mais de 30 deputados. Foi assim na década de 80 quando Cavaco Silva cortou caminho às ideias de Bloco Central e se propôs introduzir as reformas profundas de que o País precisava.
Isto é, para ganhar eleições o PSD necessitou sempre de se apresentar com vontade de mudar radicalmente o estado das coisas e de mostrar ser capaz de o fazer.
Nos tempos que se aproximam não será diferente. Perante a actual situação, é obrigação do PSD ser mais uma vez capaz de corporizar os anseios de mudança. Está nas suas mãos e é sua responsabilidade fazê-lo. Não se trata apenas de escolher mais este ou aquele líder partidário a prazo, sob pena de o PSD se tornar politicamente irrelevante. Trata-se, como sempre se tratou, de escolher quem seja capaz de propor uma plataforma política que, do centro à direita, mobilize um eleitorado que, mergulhado numa profunda crise económica e social, se sente cada vez mais desprotegido face à enorme e pouco europeia realidade da soma de votos na esquerda comunista e radical. Não esquecendo que há algo que os cidadãos exigirão cada vez com mais força: credibilidade, credibilidade e credibilidade.
Publicado no Diário de Coimbra em 14 de Dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
sábado, 12 de dezembro de 2009
Haja seriedade
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Em Coimbra é que não!
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Um mundo multipolar
Realizou-se na semana passada, em Lisboa, a cerimónia que assinalou a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Apesar de neste semestre ser a Suécia que preside à União Europeia, faz sentido que tenha tido lugar em Lisboa, dado que o tratado tem o nome da nossa capital por a sua negociação ter sido concluída há dois anos pela presidência portuguesa.
O mundo está sempre em evolução, e quem não acompanha fica para trás. Isto é válido para pessoas e empresas, mas também para os países. Depois da implosão do chamado “socialismo real” com a queda do muro de Berlim e o desaparecimento do Pacto de Varsóvia, o mundo passou de bipolar a unipolar, tendo nessa altura os EUA passado a ser a única potência ao nível mundial.
Sendo inegavelmente uma grande potência económica, a Europa tem tido grandes dificuldades em afirmar-se ao nível político. Militarmente, a questão nem se põe, preferindo os europeus abrigarem-se no guarda-chuva da NATO.
Entretanto, a emergência de novas economias rapidamente crescentes ao nível global – China, Índia e Brasil – tem vindo a colocar em causa o lugar da economia europeia no mundo.
Uma alteração muito mais importante do que se supõe normalmente foi a emergência de Barack Obama como presidente dos EUA. Não propriamente pela mudança política, embora esta seja significativa, mas pela personalidade do presidente. Trata-se do primeiro presidente americano cujas origens estão viradas para o Pacífico, em vez do Atlântico. A recente viagem de Obama ao Oriente mostrou claramente que as suas prioridades estão naquela zona do globo, e não na Europa.
A União Europeia carecia claramente de instrumentos de decisão interna e de representação externa que lhe dessem capacidade de reacção em tempo útil e uma voz única perante as outras potências. O Tratado de Lisboa foi uma resposta a essas necessidades, dentro das limitações inerentes a uma União de países que não é uma federação, em que esses países continuam a gozar de extensa autonomia em grande número de áreas, mesmo na economia.
Um dos aspectos mais importantes do Tratado de Lisboa é a criação de representantes externos: o presidente do Conselho Europeu e um Alto Representante para a Política Externa. A partir de agora, o presidente americano, o presidente russo ou os seus congéneres chinês, indiano, brasileiro ou indiano teriam um interlocutor europeu único, para atender o telefone sempre que necessário. Digo teriam, porque a UE conseguiu o mais difícil: designou para aqueles lugares duas personalidades que, independentemente de serem certamente muito estimáveis pessoalmente, não acrescentam nada à UE por serem politicamente totalmente irrelevantes.
De facto, só por piada se imagina Obama a ligar para Van Rompuy ou Clinton para Catherine Ashton para resolver rapidamente uma qualquer emergência internacional.
Os equilíbrios internos da UE continuam a ser demasiado instáveis para permitirem soluções credíveis e eficazes para os problemas graves de um mundo que, efectivamente, é cada vez mais multipolar.
Publicado no Diário de Coimbra em 7 de Dezembro de 2009
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Cair a pique
- O projecto-lei do BE para acabar com a distinção entre corrupção por acto lícito e ilícito acaba de ser aprovada no Parlamento. Só o PS votou contra.
- CDS-PP que ouvir operadores judiciários antes de se legislar sobre corrupção
- O PS vai viabilizar a criação de uma comissão eventual de acompanhamento político do fenómeno da corrupção proposta pelo PSD.
Tudo isto enquanto se vai conhecendo o estado económico do País, não augura nada de bom para os próximos tempos. Aparentemente o desnorte é total: Sr. Presidente, quanto mais ainda vai aguentar?
Incongruências
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
É urgente discutir a Regionalização
Pode dizer-se que, nas últimas décadas, o modelo de desenvolvimento do país tem sido este: Olhar para Portugal a partir do Terreiro do Paço.
De facto, apesar de a Regionalização estar prevista na Constituição desde 1976, nenhum passo concreto foi dado nesse sentido, para além do Referendo de Novembro de 1998, de triste memória. Nessa altura, o Governo de António Guterres levou a sua pulsão de tacticismo negocial a um tal ponto que conseguiu colocar uma grande parte dos regionalistas de sempre a votar contra a regionalização então proposta.
O desenvolvimento absolutamente anacrónico do país tem levado ao seu confinamento ao litoral, parecendo-se cada vez mais com uma estreita faixa compreendida entre o Oceano Atlântico e a EN1, numa imagem bem expressiva apresentada há tempos por um advogado viseense.
Os apoios financeiros da União Europeia estão hoje canalizados essencialmente para as obras rodo-ferroviárias com centro em Lisboa e à construção de auto-estradas, a maior parte delas apenas redundantes. Isto para além do novo aeroporto internacional de Lisboa, claro, a construir na margem esquerda do Tejo, o mais afastado possível do centro geográfico do país, mas certamente bem localizado em função dos interesses próprios lisboetas.
Não devemos esquecer que, hoje em dia, a Região de Lisboa e Vale do Tejo já ultrapassou o limite que permite financiamentos europeus. A continuar assim, prevê-se que dentro de poucos anos metade da população portuguesa viva nesta região, situação bem terceiro-mundista. A inexistência de Regiões leva a que seja o Governo nacional a definir as prioridades de investimentos apoiados por fundos comunitários, o que tem como consequência que o resto do país, verdadeiramente abaixo daquele limite, veja o grosso dos dinheiros europeus a serem canalizados para a capital.
Costumo dizer que, vista do resto do país, Lisboa parece um imenso buraco negro que tudo absorve: impostos, fundos europeus, investimentos, empresas, pessoas.
Claro que a consequência é a progressiva desertificação do interior, que, por sua vez, vai justificando o encerramento de serviços públicos por falta de utentes. Estamos num ciclo vicioso que só uma medida de excepção pode cortar, e essa medida é a regionalização, que pode efectivamente contrariar o modelo de desenvolvimento com origem no Terreiro do Paço.
Está mesmo por provar que as auto-estradas do interior do país, apresentadas como um veículo de promoção do desenvolvimento das regiões que atravessam, sirvam efectivamente esses fins. Provavelmente, investimentos públicos e apoios locais decididos a nível regional serviriam muito melhor essas populações do que auto-estradas com pouco ou nulo tráfego.
É preciso desmontar a ideia hoje muito difundida, ao contrário do que acontecia há vinte anos, de que “as CCDR’s deverão ser apenas, ao seu nível, responsáveis pela execução das políticas nacionais” isto é, decididas pelo centralismo lisboeta.
O Partido Socialista tem dito que nesta legislatura aguarda pela posição do Partido Social Democrata sobre este assunto. Isto é, numa altura em que mais uma vez o PSD se prepara para escolher uma nova liderança, a posição das candidaturas partidárias sobre a regionalização será muito importante.
Chegámos a uma altura da nossa vida colectiva em que as nossas escolhas pessoais terão de ser feitas perante opções concretas dos candidatos.
Por mim, quer em função do modelo de desenvolvimento nacional, quer atendendo aos interesses das diversas regiões e, em particular da Região Centro, as escolhas a fazer passarão obrigatoriamente por propostas concretas para o país, tendo à cabeça a questão da regionalização.
Publicado no Diário de Coimbra em 30 de Novembro de 2009