Foram mais uma vez conhecidos os rankings nacionais das escolas. De novo, houve azo a que se fizessem imensas comparações entre os resultados obtidos.
Não nego o interesse de saber os resultados obtidos nos exames pelas diferentes escolas, antes pelo contrário. Há poucos dias, tive a oportunidade e o privilégio de assistir a um espectáculo de dança por alunos e alunas do Colégio Rainha Santa Isabel de Coimbra, um dos melhores classificados. Durante mais de duas horas, dezenas de jovens encantaram um Teatro Académico de Gil Vicente completamente cheio, num espectáculo significativamente chamado “EXISTO, LOGO DANÇO”. Este Colégio, refira-se, aparece bastante bem classificado nos rankings. É mesmo o quinto classificado na categoria Secundário do ranking SIC/Expresso, entre escolas públicas e privadas de todo o país, o que diz bem da excelência do seu ensino. Mas, ao ver aquelas dezenas de jovens a dançar, não pude deixar de me lembrar de diversos aspectos.
Em primeiro lugar, a formação educativa proporcionada àqueles e aquelas jovens vai muito para além do que dizem os rankings. O contacto com música de qualidade, a aprendizagem da dança, a capacidade de coordenar os movimentos com colegas, o esforço dispendido com tarefas que não contam para a sua classificação escolar pessoal, tudo isso não entra na classificação dos rankings. É um processo complexo que consiste em educar e não apenas instruir, que é aquilo que o nosso ensino obrigatório, particularmente o oficial, tende a privilegiar.
Por outro lado, há uma sensação de injustiça, dado que a esmagadora maioria dos jovens portugueses não tem qualquer acesso à formação cultural proporcionada por uma grande parte das instituições de ensino particulares.
O actual sistema de ensino, que em teoria está montado para democratizar a educação, está, na prática, a aprofundar o fosso entre as classes sociais. Ao impedir as famílias de escolher em liberdade e igualdade de acesso as escolas que preferem para os seus filhos e ao transformar as escolas oficiais em depósitos de jovens durante o dia, e simples fornecedoras de “competências” específicas, o Estado “puxa para baixo” a educação da maioria dos cidadãos de amanhã.
Muitos pais que desejam para os seus filhos um desenvolvimento educacional adequado, capaz de lhes fornecer “mundo” e cultura para além das tais competências para superarem os exames, vêem-se obrigados a pagar a educação dos seus filhos por três vezes: a primeira, pelos impostos que pagam o ensino oficial, a segunda pelas propinas do colégio, e a terceira pela poupança que proporcionam ao Estado ao retirarem-nos das escolas oficiais.
Estas e outras razões levam a que não surpreenda que nos rankings do ensino secundário a primeira escola pública surja apenas no 14.º lugar. Mas, como disse, isto até nem é o mais importante. O que verdadeiramente importa é tudo aquilo que está escondido por trás dos rankings e que os responsáveis políticos dos diversos partidos sistematicamente se recusam a ver. E isso não se resolve atirando dinheiro para cima do problema, como tem sido feito há muitos anos, antes avançando para reformas que coloquem a formação completa do aluno no centro das preocupações. A educação não deveria ser um luxo para apenas quem a pode pagar.
Publicado no Diário de Coimbra em 26 de Outubro de 2009
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