Está finalmente terminado o extenuante ciclo eleitoral que se iniciou em Junho com as eleições para o Parlamento Europeu. As primeiras de uns longos três meses, parecem já ter ocorrido há muito tempo, face a tudo o que entretanto foi sucedendo.
Nas eleições legislativas, que verdadeiramente estabelecem o sucesso ou insucesso das lideranças partidárias, houve claros vencedores e perdedores.
Os vencedores são o PS e o CDS.
O CDS ganhou, porque subiu a sua votação e foi a terceira força política. Ocupa um lugar crucial, por servir de charneira e dispor da possibilidade de influenciar a evolução política do país.
O maior vencedor é, evidentemente, o Partido Socialista, porque ganhou as eleições. Objectivamente, a campanha que levou a cabo, goste-se ou não, foi de uma eficácia surpreendente. De uma posição algo frágil após as europeias, evoluiu para um resultado quase oito pontos acima do PSD. Claro que o resultado alcançado ficou longe da maioria absoluta; mas desenganem-se aqueles que pensam que, por essa razão, haverá novas eleições dentro de dois anos. No actual contexto, não deverá ser difícil ao Governo do PS obter apoios pontuais na Assembleia para as votações cruciais à sua sobrevivência.
Já o PSD perdeu as eleições, qualquer que seja a perspectiva por que se observem os seus resultados. Em primeiro lugar, apesar de ter conhecido quatro lideranças desde essa altura, o número de votos recolhidos pelo PSD não variou desde as eleições de 2005, o que diz muito da receptividade das suas mensagens.
Sabe-se que as campanhas eleitorais encerram em si vários aspectos que se devem conciliar da melhor maneira, para se obterem bons resultados. Em primeiro lugar, temos a mensagem. Depois, temos a transmissão da mensagem, isto é, os meios utilizados para a fazer chegar aos seus destinatários que são os eleitores. Por fim, temos a percepção da mensagem por parte desses mesmos eleitores, que os leva a definir o seu sentido de voto.
Se olharmos para a campanha do PSD, só podemos concluir que ela falhou em todos os aspectos.
A mensagem não demonstrou qualquer ousadia ambiciosa, propondo algumas mudanças na situação existente, mas sem o espírito reformista claro que muitos portugueses exigiam. Foi mesmo perceptível um receio de fugir à agenda política estabelecida pela esquerda.
Os meios utilizados foram de tal forma escassos e inconsequentes, que a certa altura muitas pessoas se interrogavam da vontade real do PSD em vencer as eleições. Pelo contrário, a campanha profissional do Partido Socialista parecia a certa altura uma orquestra em que os diversos intérpretes colocados em diversos palcos tocavam as pautas que lhes haviam sido distribuídas de forma aparentemente dissonante, mas que ao ouvinte distraído soava completamente afinada no seu conjunto.
E aqui chegamos ao ponto crucial, que é a percepção dos eleitores. Eu não sei se o eleitorado português decide sempre de forma inteligente, como afirmou a líder do PSD poucos dias antes das eleições. O que eu sei é que, em resultado das mensagens dos partidos, os eleitores deram a vitória ao PS, deixaram o PSD no mesmo nível de há cinco anos, colocaram o CDS em terceiro lugar e o PCP em último, depois do BE.
Observando com objectividade, verifica-se que a percepção que os portugueses tiveram das propostas do PSD foi muito negativa, o que se reflectiu no mau resultado alcançado. Que os dirigentes e demais militantes do PSD meditem bem sobre tudo isto, porque os portugueses merecem e essencialmente precisam de muito mais e melhor do PSD, que corre o risco real de se tornar um partido de Autarcas (excelentes, em muitos casos), sem ter no entanto respostas a nível de Governo do país.
Publicado no Diário de Coimbra em 12 de Outubro de 2009
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