jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
sábado, 30 de janeiro de 2010
Optimismo
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
MÚSICA INSTRUMENTAL
A música é produzida e chega aos nossos ouvidos através de instrumentos tocados pelos artistas. Mas a própria música pode ser também instrumento, por si mesma. Foi nesse sentido que, na passada quinta-feira, Coimbra pôde assistir a um concerto a favor das vítimas do terramoto do Haiti, pela Orquestra Clássica do Centro e os Antigos Orfeonistas, organizado com a colaboração dos Lions.
As grandes tragédias originam sempre movimentos espontâneos de solidariedade e o que sucedeu no Haiti há duas semanas é de facto uma grande tragédia. A nossa memória colectiva recorda de forma bem viva o terramoto de 1 de Novembro de 1755 em Lisboa. Os relatos que até nós chegaram revelam números de vítimas muito díspares, sendo o maior deles de 90.000 mortos. Pois bem, no Haiti terão morrido cerca de 200.000 pessoas, originando ainda mais de um milhão e meio de desalojados sem qualquer tecto. A comparação com o sucedido em Lisboa em 1755 serve bem para se ter uma ideia da magnitude da tragédia. Todos os movimentos de solidariedade são, portanto, bem vindos e mesmo necessários.
Um concerto numa cidade como Coimbra é apenas uma gota de água num oceano, mas tem um simbolismo marcante. Não vale apenas pela verba alcançada pela venda dos bilhetes, ou mesmo pelas dádivas conseguidas através de transferência para a conta bancária aberta para o efeito. A dádiva do trabalho dos organizadores e artistas é também significativa. Quer os músicos da Orquestra Clássica do Centro com a sua Directora Emília Martins e o seu Maestro Virgílio Caseiro, quer os Antigos Orfeonistas trabalharam e actuaram de forma inteiramente gratuita.
E não se pense que, apesar de ser um concerto solidário, tenha havido alguma espécie de condescendência na qualidade da música apresentada. Realço a excelência da prestação de Vladimir Omeltchenco, solista do Concerto nº 3 em Sol Maior para violino de Mozart que encheu os nossos sentidos de forma sublime. Recordo também, em particular, o coro dos Escravos Hebreus de Verdi, o Pai Nosso de Albert Hay Malotte e a Canção da Primavera de Zeca Afonso pelos Antigos Orfeonistas. Uma cidade que alberga estes valores culturais é de facto uma cidade especial.
Como já aqui referi anteriormente, a Orquestra Clássica do Centro vive apenas do apoio da Câmara Municipal e dos patrocínios que vai gerando, pela qualidade e quantidade do seu trabalho. Não recebe qualquer apoio do Estado, nem mesmo do Ministério da Cultura, ao contrário do que sucede, por exemplo, com a Orquestra Filarmonia das Beiras que merecendo certamente ser apoiada, tem um número inferior de músicos e realiza muito menos concertos por ano do que a Orquestra Clássica do Centro.
Ainda assim, a Orquestra Clássica do Centro manifesta-se sempre disponível para acções concretas de solidariedade como foi este o caso. As verdades, por muito duras que sejam, devem ser ditas. Nesta altura em que a Assembleia da República discute o Orçamento de Estado para 2010, aqui fica o repto aos deputados eleitos por Coimbra de todos os partidos, para que tomem a questão da Orquestra Clássica do Centro em mãos. A Cultura merece e a nossa região que beneficia do trabalho da OCC também. A circunstância de a actual responsável pelo Ministério da Cultura ser uma pianista clássica também deverá jogar a favor. Já agora, acrescento que a OCC ainda nem conseguiu verbas suficientes para comprar um bom piano. Boa oportunidade para ajudarmos todos, incluindo os senhores deputados.
domingo, 24 de janeiro de 2010
CHARPENTIER
Marc-Antoine Charpentier.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Celebridade
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Mensagem Especial do Presidente Wirfs sobre a Ajuda dos Leões ao Haiti
Prezados Leões de todo o mundo,
É com imensa tristeza que a atenção do mundo está voltada para os terremotos devastadores que assolaram o Haiti, deixando 1,5 milhão de desabrigados, até 200.000 mortos e inúmeros feridos e traumatizados. Serão necessários anos para que o país se recupere completamente, mas sabemos que os Leões estarão presentes em cada etapa do caminho.
Assim como os Leões reagiram ao tsunami do sul da Ásia, ao furacão Katrina, ao terremoto de Sichuan na China e a outras catástrofes, eles estarão presentes juntamente com a LCIF para oferecer ajuda em curto e longo prazo, fornecendo socorro imediato agora, mas também trabalhando por tanto tempo quanto for necessário na reconstrução das comunidades, para restaurar esperança e apoiar aqueles afetados.
Se há uma coisa que diferencia os Leões dos membros de outras organizações prestadoras de serviços, é que assumimos um compromisso a longo prazo e trabalhamos dentro das comunidades afetadas, através dos sócios locais, para construir um futuro melhor. Os Leões haitianos são nossos irmãos e irmãs, integrantes da família internacional que é a nossa associação, e jamais os abandonaremos.
Como vocês provavelmente estão a par, os Leões já se mobilizaram rapidamente para oferecer assistência imediata, apesar dos desafios de coordenação que se apresentam. Da Suécia os Leões enviaram barracas para servir de abrigo; Leões canadenses, que já se encontravam em uma missão no Haiti quando ocorreu o primeiro tremor, forneceram os primeiros-socorros durante as primeiras horas e dias; e os Leões da região caribenha estão enviando socorro por terra e por mar. Além disto, um comitê de coordenação formado por Leões do Haiti, República Dominicana e países vizinhos está empenhado no planejamento dos próximos passos. O presidente da nossa fundação, Al Brandel, ex-presidente internacional imediato, viajará para lá para encontrá-los a partir de amanhã.
Naturalmente, a resposta dos Leões à iniciativa Levando Esperança ao Haiti da LCIF, que solicita doações, foi extraordinária. Em apenas alguns dias, já mobilizamos mais de US$350.000,00. No momento em que estiverem lendo este e-mail, tenho certeza que o valor será ainda maior, muito maior. Mas precisamos de muitos milhões de dólares se quisermos ajudar na reconstrução do país, dar abrigo aos desabrigados, reconstruir escolas para as crianças, reabilitar aqueles que ficaram deficientes e ajudar a consolar este povo tão tragicamente vitimado. Portanto, contribuam com tanto o quanto puderem.
Por fim, é com muita tristeza que comunico que dois Leões haitianos, da nossa família mundial, faleceram e outros Leões talvez tenha perdido familiares. Em nome de Leões de todas as partes e dos membros da nossa diretoria internacional, oferecemos nossas sinceras e profundas condolências às famílias dos Leões que sofreram tamanha perda.
À nossa família de Leões no Haiti, assumo o compromisso com vocês de que os Leões de todo o mundo estarão presentes hoje, amanhã, na próxima semana, próximo mês, próximo ano, ano após ano, e, enfatizo, por quanto tempo for necessário.
O Presidente da LCIF Brandel nos enviará notícias nos próximos dias. Neste meio tempo, confiram as últimas notícias da LCIF no Haiti, com informações de como vocês podem fazer uma doação pessoal online. Agradeço-lhes de antemão por toda a ajuda que possam prestar.
Com minha profunda consideração,
Eberhard J. Wirfs
Presidente Internacional
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Escutas
Pinto da Costa no You Tube. Muito bem. Mas fica aquela dúvida
terrível: a divulgação pública não será a demonstração da falência da
Justiça neste tipo de casos? O problema principal não será toda a
gente ficar a saber a verdade verdadeira sobre o futebol e a mãozinha
que tudo encobre?
A propósito de Sá Pinto
verdadeiramente "sportinguismo"?
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Almoço-debate da ACEGE
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Horror e heroísmo pessoal
Com cem anos de vida, morreu há poucos dias Miep Gies, a última pessoa que testemunhou directamente a vida de Anne Frank.
Anne Frank tornou-se um dos maiores símbolos do horror que foi a perseguição aos judeus levada a cabo por Hitler e os seus sequazes nazis, através dos seus diários publicados pela primeira vez em 1947. Todos nós sabemos com algum detalhe o que foi a Segunda Guerra Mundial, como começou, como decorreu e terminou, bem como o regime de terror levado a todos os países conquistados através da máquina de guerra alemã. Guerras são guerras, sempre as houve ao longo da História, e suspeito que muitas mais haverá enquanto existir humanidade.
Mas, enquanto decorria a 2.ª Grande Guerra, o regime nazi levava a cabo uma outra guerra subterrânea, de uma desumanidade absoluta, contra gente indefesa, que teve como consequência a eliminação de milhões de vidas humanas, uma a uma. Durante todos os dias que durou aquela guerra, a mortífera organização nazi, em particular as SS, prendia milhares de judeus por toda a Europa ocupada e transferia-os de comboio até uma das diversas instalações construídas no Leste, onde, de forma mecânica e sistemática, procediam a o seu assassínio em massa. Os documentos das SS da época mostram mesmo que os seus maiores problemas consistiam em organizar eficientemente e de forma escondida milhares de mortes por dia durante vários anos, e como se livrarem de tão grande número de cadáveres.
Da História da Segunda Guerra Mundial da autoria de Martin Gilbert - que faz a sua descrição dia a dia desde o primeiro ao último dia -, tiro a descrição de um dia ao acaso, 15 de Agosto de 1941: “A 15 de Agosto, na localidade vizinha de Rokiskis, teve início uma orgia de massacres que durou dois dias inteiros e na qual foram fuzilados 3200 judeus, juntamente com cinco comunistas lituanos, um polaco e um resistente”. Outro exemplo ao acaso: a 6 de Agosto de 1942, mais de mil judeus holandeses foram deportados da Holanda para Auschwitz, seguidos por outros 987 a 7 de Agosto e mais 559, três dias mais tarde; destes, mais de metade foram gaseados logo que chegaram ao campo. Os outros foram enviados para os barracões de Birkenau, tornando-se mão-de-obra escrava”.
Mas a humanidade é sempre capaz do melhor, mesmo em tempos de horror e barbárie. É por isso que o testemunho de Anne Frank é importante: na escuridão mais profunda aparece sempre uma luz de esperança.
Anne Frank e a sua família sobreviveram escondidos durante mais de dois anos, devido ao apoio de amigos que lhes levaram diariamente alimentos e livros. Miep Gies foi precisamente uma dessas pessoas, tendo encontrado e guardado as folhas escritas por Anne Frank durante o período em esteve escondida, e publicando-as após o fim da guerra.
Durante a 2.ª Grande Guerra, para além de Anne Frank, houve muitos outros exemplos de heroísmo vindo de pessoas simples como o Padre Kolbe, Edith Stein ou Etty Hillessum (de quem recomendo vivamente a leitura do Diário e das Cartas). São estas pessoas a demonstração viva de que a humanidade ainda vale a pena.
Publicado no Diário de Coimbra em 18 de Janeiro de 2009
domingo, 17 de janeiro de 2010
Cartaz da Paz
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Até que enfim
HAITI
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
"O saneamento de Marcelo"
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Cidades de ontem e de hoje
O ritmo frenético da construção civil que caracterizou as nossas últimas décadas deverá reduzir-se substancialmente. Os próprios instrumentos de ordenamento territorial deverão reflectir esta nova situação, pelo que os municípios deverão encarar os seus PDM’s de uma forma totalmente diferente, não fazendo sentido que se continue a prever um aumento da edificabilidade que multiplique por três ou por quatro o actual nº de habitações que já é mais do que suficiente para as necessidades.
Por outro lado, começa a colocar-se com muita acuidade a questão da reabilitação do edificado existente. Esta reabilitação abrange não só os Centros Históricos das cidades que os possuem como Coimbra, mas muitos edifícios construídos nas décadas de 50, 60 e mesmo 70 do século passado, quase sempre localizados no interior das cidades, bem servidos por infra-estruturas e apoios urbanos, como escolas, serviços de saúde, jardins, comércio de proximidade, transportes públicos, etc.
É comum, entre quem se dedica a estes assuntos, referir que em Portugal a relação entre construção nova e reabilitação é de 76%/24%, quando nos países da União Europeia essa relação média é de 47%/53%. Estes números reflectem bem o que tem sido a construção da habitação em Portugal e a profundidade das reformas que é necessário fazer neste sector. Não vale a pena estar aqui a apresentar as causas que levaram a esta situação que são sobejamente conhecidas, entre as quais avulta o financiamento das Autarquias, o congelamento das rendas, a legislação urbanística e, em particular, a utilização da figura do loteamento, bem como a evolução das taxas de juro após o Euro e o regime de crédito para a construção por parte das entidades bancárias.
O que é facto é que existem milhares de fogos devolutos no interior das cidades, a necessitarem de reabilitação ou simples renovação. Estas habitações são em regra mais espaçosas do que os apartamentos novos e o seu preço após reabilitação, é claramente inferior às habitações novas. Em termos sociais, a reabilitação é também muito vantajosa dado que evita a ampliação exagerada de infra-estruturas com os custos actuais e futuros que isso acarreta. Os habitantes das zonas centrais das cidades perdem muito menos tempo em deslocações casa-trabalho o que é igualmente uma grande vantagem, para além de se potenciar a utilização de transportes públicos, tema importante face às actuais alterações climáticas. A reabilitação/recuperação dos prédios potencia igualmente o desenvolvimento do mercado do arrendamento, condição crucial para a qualidade de vida dos novos casais que necessitam de habitação e não podem ficar “amarrados” à mesma hipoteca bancária durante dezenas de anos.
Perante a situação descrita, sendo hoje Portugal um país que atravessa uma grave crise financeira e de crescimento e que vai durar certamente alguns anos, a reabilitação do edificado existente corresponde, muito para além de um embelezamento das nossas cidades, a uma necessidade económica imperiosa. O valor gerado na reabilitação das cidades é muito superior ao do investimento idêntico em construção nova na expansão das cidades. É tempo de o Estado assumir a sua quota-parte na responsabilidade da degradação do património imobiliário, comparticipando na sua reabilitação, o que terá ainda o efeito lateral de contribuir para a recuperação económica de uma forma socialmente muito mais justa e sustentada do que através de grandes obras.
Publicado no Diário de Coimbra em 11 de Janeiro de 2010
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
SCUTs
Serviço público
http://www.isp.pt/NR/exeres/019EEB91-E357-4A7C-8BD2-B62293701692.htm
A ESQUERDA TEM MEDO DO POVO?
Já sabíamos que as vanguardas se afastam muitas vezes do povo, agora que sequestrem todo um povo, sem sequer terem que recorrer a armas, isso já é novidade. Este tipo de atitudes dá normalmente maus resultados.
DESILUSÃO
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
As Cidades
Viver na cidade é hoje a situação mais comum para a maioria da população. Tal facto deve-se a causas positivas, mas também a negativas. É bom, porque significa que um cada vez maior número de pessoas tem acesso a ofertas (de bens e serviços) que não estão disponíveis em zonas rurais, o que lhes possibilita um maior leque de escolhas profissionais, mas também culturais e de desenvolvimento pessoal.
Mas há aspectos negativos. Desde logo, porque a deslocação se faz primordialmente para as áreas metropolitanas, principalmente Lisboa, não se verificando um aumento populacional nas chamadas cidades médias. Esta situação de uma metrópole hiper-dimensionada relativamente ao resto do país significa que não se verifica um desenvolvimento harmonioso do país, o que origina problemas graves. Traz consigo um desenraizamento muito forte com uma acentuada falta de integração no contexto urbano e os inerentes problemas sub-urbanos de falta de segurança e instabilidade pessoal e familiar. Por outro lado, há um movimento de deslocação das populações do interior para o litoral, como já aqui salientei há poucas semanas. Na realidade, este fenómeno significa uma litoralização crescente da população portuguesa, da qual mais de 80% já vive nos concelhos do litoral e vizinhos, isto é, na prática, entre a costa e a A1.
Com a mudança das populações, as cidades têm que dar novas respostas, não sendo suficiente a gestão urbanística clássica, que se traduzia por um planeamento do território a régua e esquadro e pela aplicação de um grande número de normas muitas teóricas e com frequência desadaptadas da realidade.
Hoje em dia, é particularmente claro que as cidades competem entre si. Não só as populações com maiores recursos profissionais e financeiros podem escolher onde querem viver e exercer as suas actividades, como muitas empresas escolhem a localização para laborar que lhes é mais favorável. Isso depende do “ambiente económico” local, que tem a ver com acessibilidades, terrenos disponíveis e licenciamentos em tempo útil, mas também com a existência de mão-de-obra qualificada para a sua especificidade, existência de infra-estruturas urbanas para as famílias dos trabalhadores e a possibilidade de acesso a laboratórios de investigação de que eventualmente necessitem para a sua competitividade.
Evidentemente que as cidades deverão previamente ter o trabalho de detectar as suas linhas de força internas que lhes dão à partida vantagens comparativas e a capacidade de escolher os investimentos que, em termos de futuro, lhes amplifiquem essas vantagens. Isto é, para além de prepararem ofertas físicas adequadas, deverão ter uma visão estratégica do que são e daquilo que querem ser.
E o que querem ser passará obrigatoriamente pelos actuais vectores de desenvolvimento. De facto, é nas cidades que se juntam, num espaço limitado, capacidades produtivas, trocas de valor e acumulação de saber e criatividade que produz inovação.
Coimbra está neste caminho, bastando ter capacidade de observação crítica para se tirar esta conclusão. A actual atitude da Universidade, virada para o apoio à inovação criativa do ponto de vista económico bem como para o diálogo com as empresas, o investimento municipal massivo em espaços devidamente infraestruturados para acolhimento de empresas de base tecnológica (Coimbra iParque) e o aprofundamento do Plano Estratégico e de Urbanização mostram-no claramente.
Em épocas de crise generalizada, em que parece que todos ralham e todos têm razão, é ainda mais evidente a necessidade de visão estratégica que permita encontrar os caminhos que no futuro ditarão a diferença pela criação de riqueza e bem-estar. Isto tem muito a ver com capacidade de gerar consensos e unir esforços no Desenvolvimento da Cidade do século XXI.
Publicado no Diário de Coimbra em 4 de Janeiro de 2010
domingo, 3 de janeiro de 2010
Gripe A
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
PAÍS A DUAS VELOCIDADES
Fala-se muito por aí da necessidade de escolher um novo modelo de desenvolvimento para Portugal, como se tivéssemos um. Na verdade, o que hoje temos é o resultado da soma de voluntarismos governamentais diversos e da tomada do Estado por interesses corporativos e grupos de pressão.
Uma das características deste estado de coisas é uma evidente falta de coerência espacial e temporal do suposto modelo de desenvolvimento. Os voluntarismos descoordenados levaram a que se verifique uma coexistência de vários ritmos no mesmo espaço geográfico, isto é, realidades dentro de um mesmo país a circular a velocidades muito diferentes. Vemos essa disparidade nas nossas estradas, para dar um exemplo simples do quotidiano para todos os cidadãos. A melhoria da rede viária e a evolução tecnológica dos automóveis não foi acompanhada por uma adequada preparação da formação de grande número dos automobilistas. Como resultado, assiste-se permanentemente a situações que se poderiam considerar caricatas, se não fossem sempre potencialmente perigosas pelo meio em que se verificam: automobilistas que entram em sentido contrário nas auto-estradas, que param no meio da via sem qualquer sinalização, que andam perdidos pelas rotundas, etc.
Mas, de vez em quando, situações muito mais graves vêm denunciar o tal país a várias velocidades. Há poucos dias, um deslizamento de terras encerrou ao trânsito uma auto-estrada junto de Lisboa, a chamada CREL, provocando uma situação que se prevê durar várias semanas. A empreitada é simples: estima-se que seja necessário retirar de 500 a 600 mil metros cúbicos de terras, o que está a ser feito por 60 camiões a trabalhar 24 horas por dia. Isto é, enquanto uma moderna infra-estrutura era aberta à circulação viária, assegurando o escoamento de mais de 40.000 veículos por dia, ao lado foi-se fazendo um aterro sem qualquer controlo. O tal outro país, meio subterrâneo e eventualmente clandestino embora à vista de toda a gente, mais uma vez invadiu e ocupou espaço do país que circula à velocidade europeia.
A troca pública de acusações e de atribuição de responsabilidades entre as diversas entidades envolvidas é lamentável, pondo a nu as fragilidades do Estado perante as “espertezas” de alguns. E não se diga que a culpa é da falta de regulamentações: a execução de aterros é das actividades mais exaustivamente reguladas, e existem diversas entidades com competências sobre a matéria. Evidentemente que quem não tem culpa nenhuma são os automobilistas, que se vêem privados da utilização de uma estrada importante e diariamente arcam com mais custos em tempo e distância percorrida entre as suas casas e o trabalho.
Claro que se pode olhar para este caso como apenas mais uma consequência de um inverno rigoroso, como alguns tentam "vender" o sucedido. Não nos deixemos enganar. Há um país subterrâneo que vive e muitas vezes sobrevive sob uma capa fina de modernidade que se rompe à menor contrariedade: não nos esqueçamos da ponte de Entre-os Rios, desastre que acabou por não ter quaisquer responsáveis.
Com estes exemplos, uma pessoa fica a pensar que, realmente, mais valia sermos capazes de construir um país coerente e sem desfasamentos físicos e temporais, embora eventualmente a uma velocidade um pouco mais baixa, mas em segurança, isto é, em que as infra-estruturas construídas são fiáveis, não passíveis de invasões externas e com custos de manutenção perfeitamente garantidos durante toda a sua vida útil