Viver na cidade é hoje a situação mais comum para a maioria da população. Tal facto deve-se a causas positivas, mas também a negativas. É bom, porque significa que um cada vez maior número de pessoas tem acesso a ofertas (de bens e serviços) que não estão disponíveis em zonas rurais, o que lhes possibilita um maior leque de escolhas profissionais, mas também culturais e de desenvolvimento pessoal.
Mas há aspectos negativos. Desde logo, porque a deslocação se faz primordialmente para as áreas metropolitanas, principalmente Lisboa, não se verificando um aumento populacional nas chamadas cidades médias. Esta situação de uma metrópole hiper-dimensionada relativamente ao resto do país significa que não se verifica um desenvolvimento harmonioso do país, o que origina problemas graves. Traz consigo um desenraizamento muito forte com uma acentuada falta de integração no contexto urbano e os inerentes problemas sub-urbanos de falta de segurança e instabilidade pessoal e familiar. Por outro lado, há um movimento de deslocação das populações do interior para o litoral, como já aqui salientei há poucas semanas. Na realidade, este fenómeno significa uma litoralização crescente da população portuguesa, da qual mais de 80% já vive nos concelhos do litoral e vizinhos, isto é, na prática, entre a costa e a A1.
Com a mudança das populações, as cidades têm que dar novas respostas, não sendo suficiente a gestão urbanística clássica, que se traduzia por um planeamento do território a régua e esquadro e pela aplicação de um grande número de normas muitas teóricas e com frequência desadaptadas da realidade.
Hoje em dia, é particularmente claro que as cidades competem entre si. Não só as populações com maiores recursos profissionais e financeiros podem escolher onde querem viver e exercer as suas actividades, como muitas empresas escolhem a localização para laborar que lhes é mais favorável. Isso depende do “ambiente económico” local, que tem a ver com acessibilidades, terrenos disponíveis e licenciamentos em tempo útil, mas também com a existência de mão-de-obra qualificada para a sua especificidade, existência de infra-estruturas urbanas para as famílias dos trabalhadores e a possibilidade de acesso a laboratórios de investigação de que eventualmente necessitem para a sua competitividade.
Evidentemente que as cidades deverão previamente ter o trabalho de detectar as suas linhas de força internas que lhes dão à partida vantagens comparativas e a capacidade de escolher os investimentos que, em termos de futuro, lhes amplifiquem essas vantagens. Isto é, para além de prepararem ofertas físicas adequadas, deverão ter uma visão estratégica do que são e daquilo que querem ser.
E o que querem ser passará obrigatoriamente pelos actuais vectores de desenvolvimento. De facto, é nas cidades que se juntam, num espaço limitado, capacidades produtivas, trocas de valor e acumulação de saber e criatividade que produz inovação.
Coimbra está neste caminho, bastando ter capacidade de observação crítica para se tirar esta conclusão. A actual atitude da Universidade, virada para o apoio à inovação criativa do ponto de vista económico bem como para o diálogo com as empresas, o investimento municipal massivo em espaços devidamente infraestruturados para acolhimento de empresas de base tecnológica (Coimbra iParque) e o aprofundamento do Plano Estratégico e de Urbanização mostram-no claramente.
Em épocas de crise generalizada, em que parece que todos ralham e todos têm razão, é ainda mais evidente a necessidade de visão estratégica que permita encontrar os caminhos que no futuro ditarão a diferença pela criação de riqueza e bem-estar. Isto tem muito a ver com capacidade de gerar consensos e unir esforços no Desenvolvimento da Cidade do século XXI.
Publicado no Diário de Coimbra em 4 de Janeiro de 2010
2 comentários:
Sr. Engenheiro pode informar-me quantas empresas estão no iParque de Coimbra, é que eu um dia destes passei por lá e não vi lá nenhuma!
Passar bem.
Os lotes do iParque estão todos entregues a empresas, à excepção de um de 2ha (na verdade, os 3 lotes grandes, 2 ha, 2ha e 3h, eram considerados lotes de médio prazo dada a sua dimensão). A construção inicia-se em breve, logo que as empresas tenham as escrituras feitas. O iParque só agora tem os terrenos na sua posse (escritura feita no dia 4 de Janeiro entre a CMC e o iParque - o atraso resultou do complexo processo de expropriação) e aguarda para 4a feira desta semana o alvará de loteamento. Só nessa altura pode fazer escrituras com as empresas, e autorizar que estas iniciem construção (elas terão ainda de licenciar os seus projectos).
Cumpts,
J. Norberto Pires
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