
Foi a vez de a Catedral de Santa Maria de Coimbra (Sé Velha) sofrer de abandono durante muito tempo.
A construção da Sé Velha terá tido início por volta de 1146, por decisão do nosso primeiro Rei D. Afonso Henriques, após a batalha de Ourique. Os trabalhos de construção terão ficado concluídos com as obras do claustro já no reinado de D. Afonso II no início do séc. XIII, mas D. Sancho I foi lá coroado em 1185. No mesmo local terão existido outros templos ao longo dos séculos, nomeadamente um visigótico.
Apesar da retirada do seu mobiliário e restantes alfaias que foram transferidas para a Sé Nova, a Sé Velha manteve alguns tesouros, nomeadamente os de pedra que não podiam ser transferidos e o seu magnífico retábulo-mor de Olivier de Gand que se mantém no seu local original sem ter sido removido há quinhentos anos, facto único em toda a Península Ibérica. Lá estão ainda os túmulos de D. Sesnando, de D. Vataça Lascaris que acompanhou D. Isabel de Aragão quando veio para Portugal a fim de se casar com D. Dinis e do bispo Bernudos, sucessor de Miguel Salomão, entre outros.

Desde 1772 que se mantém esta estranha situação de desconsideração pela antiga Sé de Coimbra, um dos templos românicos mais bem preservados entre nós e verdadeira jóia arquitectónica, artística e cultural de Coimbra. Nas últimas dezenas de anos, o seu Pároco, Monsenhor João Evangelista desenvolveu um esforço abnegado e esforçadíssimo contra muitos, entre os quais se encontram infelizmente antigos dignitários da Igreja, no sentido de se reconhecer a importância cultural e religiosa da Catedral de Santa Maria de Coimbra.
É com a maior satisfação que se constata que, finalmente, esse esforço é coroado de algum êxito. Por um lado, a Sé Velha foi incluída no projecto “Rota das Catedrais” portuguesas, o que permite o acesso a verbas que permitirão a recuperação de partes degradadas do monumento e que significa o reconhecimento da sua importância cultural pelo Estado Português. Por outro lado, o clero de Coimbra vai realizar em breve um encontro na Sé Velha, celebrando uma união oficial entre a Sé Nova e a Sé Velha como uma unidade cristã, o que nunca antes foi possível. Saúda-se este facto e cumprimenta-se o Monsenhor João Evangelista por nunca ter desistido de lutar pela “sua” Catedral, jóia maior de Coimbra que, sem a sua persistência, jazeria certamente como mais um conjunto de pedras mortas abandonado à simples passagem de turistas.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 14 de Fevereiro de 2011
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