Quando parte alguém que, pelo seu exemplo, foi farol de orientação para os outros concidadãos, é nossa obrigação parar um pouco e tomar consciência da importância que teve e de como, na sua área, contribuiu para que o mundo fosse um pouco melhor.
A frase acima citada é da autoria de Adriano Lucas e muitos colaboradores seus a terão ouvido ao longo dos muitos anos em que esteve à frente do Diário de Coimbra.
O Eng. Adriano Lucas, falecido há poucos dias era o Decano dos jornais portugueses. Dirigiu o Diário de Coimbra desde 1950, onde já antes colaborava com seu Pai, ainda muitos de nós não eram nascidos. Foi Director do jornal durante mais de duas décadas do Estado Novo e quase quatro décadas em Democracia. Em ambas as situações experimentou as pressões de quem tem problemas com a liberdade de imprensa.
Ao longo da sua vida, o Eng. Adriano Lucas exerceu funções de gestão, ao mais alto nível, de numerosas e importantes empresas de Coimbra. Mas voltou sempre àquilo que verdadeiramente mexia com ele: a imprensa. Continuou e fez crescer o Diário de Coimbra, mas fundou muitos outros jornais na região Centro. Para ele, era cristalino que sem uma imprensa livre, não há verdadeira Liberdade.
Para que uma imprensa seja livre, é necessário que esteja em condições de dizer não, quer ao poder político, quer às pressões económicas. Adriano Lucas sabia-o muito bem e toda a vida trabalhou para que os seus jornais fossem verdadeiramente livres, através do seu próprio sucesso empresarial.
Antes do 25 de Abril, sustentou do seu bolso as despesas de um jornal suspenso pelo poder político durante praticamente um ano, por causa da publicação de um conto que tinha um significado político evidente, na sequência do fim da 2ª Guerra Mundial; lemos o texto e o que à época foi considerado subversivo é hoje apenas irónico! Mas não se vergou. Depois do 25 de Abril, os disparates dos revolucionários levaram-no a criar um nome diferente para a edição de fim de semana do Diário de Coimbra. Foi assim que surgiu o “Domingo”. Mas não deixou de publicar o jornal: não faltava mais nada, que não o pudesse fazer.
O Eng. Adriano Lucas não se fechou no mundo dos seus jornais. Participou de forma activa e mesmo decisiva na elaboração da primeira Lei de Imprensa que houve em Portugal depois do 25 de Abril, tendo sido membro do Conselho de Imprensa, enquanto este existiu.
Era assim, com toda a simplicidade, que aos ataques à liberdade de imprensa, reagia com frontalidade, viessem esses ataques de onde viessem. Verdadeiro espírito de liberdade, exemplo para todos nós, particularmente nos dias de hoje em que a subserviência ao partido, à igreja, ao patrão, à entidade oficial que coloca anúncios ou mesmo aos reguladores do politicamente correcto tentam condicionar a liberdade de imprensa, quase sempre por meios pouco transparentes.
Que este singelo artigo, escrito por um beneficiário da liberdade de opinião que o Eng. Adriano Lucas defendia, sirva para que os jovens percebam como um espírito liberal, bem-formado, com consciência e rectidão, sem grandes alardes, pode ser tão ou mais importante para a sociedade e para todos nós do que muitos daqueles que todos os dias enchem as televisões e jornais com um brilho muitas vezes artificial que desaparece à primeira dificuldade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Março de 2011
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