segunda-feira, 6 de junho de 2011

O EXEMPLO DA MÚSICA

A arte é a mais elevada demonstração da capacidade humana de produzir beleza. De entre as diversas manifestações artísticas a música é, nos dias de hoje, talvez aquela que mais democrática e eficazmente contribui para a formação da juventude, contribuindo para que se obtenha uma sociedade melhor e mais educada. O seu papel na formação dos jovens está mais que provado. Ainda há dias uma professora do Secundário afirmava que, se havia algo em comum entre os seus alunos que aprendiam música no Conservatório, é que eram todos bons alunos e apresentavam ainda algo mais que os diferenciava dos outros: para além de um maior desenvolvimento da capacidade de raciocínio, aprenderam a fazer uma boa gestão do seu tempo já que, para além dos seus estudos obrigatórios, dedicam muito tempo ao estudo e prática do seu instrumento musical.
Coimbra possui, desde há 10 anos, uma formação profissional de música, a Orquestra Clássica do Centro. Poucas cidades portuguesas se podem orgulhar disso, sonho de muitas gerações de melómanos e amantes da música dita erudita. Desde há algum tempo, a Orquestra Clássica do Centro dinamizou ainda uma Orquestra Juvenil do Centro com mais de trinta músicos com mais de quinze anos de idade, alguns deles já com o Conservatório concluído e ainda um notável Coro que tem produzido interpretações de obras absolutamente extraordinárias só ao alcance de coros constituídos por músicos com grande formação musical. Mais do que uma orquestra, trata-se já do embrião de uma casa de música com formações diversas que lhe permitem ter capacidade de resposta para um reportório cada vez mais diversificado e exigente, motivo de mais orgulho ainda para a Cidade de Coimbra. A Orquestra Juvenil participará em breve num concerto em conjunto com a Orquestra Clássica, que será transmitido gravado e depois transmitidopela Antena2 da RDP, o que só por si atesta da sua qualidade já reconhecida fora de Coimbra.
A Associação Orquestra Clássica do Centro vive do protocolo com a Câmara Municipal de Coimbra que lhe garante cerca de um terço do seu orçamento anual, de alguns pequenos apoios mecenáticos e, fundamentalmente, do seu próprio trabalho isto é, de produzir concertos em Coimbra, na nossa Região e um pouco por todo o país, desde a Maia ao Algarve.
A Orquestra Clássica do Centro demonstra, com o seu trabalho, o que deve ser a centralidade de Coimbra, desde que assumida como um serviço. As políticas nacionais e mesmo regionais têm sistematicamente tentado reduzir Coimbra a ser apenas um dos pólos urbanos da Região Centro, o que no futuro favorece o "ensanduichamento" da nossa Região pelas metrópoles do Porto e de Lisboa. Nada nos pode mover contra as outras cidades da Região, mas essa é uma política perfeitamente errada, contrária a toda a História e mesmo à realidade visível. Coimbra não tem sabido ou mesmo tido vontade de se opor a estas políticas, talvez tolamente complexada com um passado que já foi. Pelo contrário, defendo que somos nós, em Coimbra, que temos que ir ter com os nossos vizinhos, mostrar-lhes as nossas capacidades e oferecer a partilha do que temos, com o que todos certamente ganharão, Coimbra, Região e o País.
Olhemos com atenção para esse trabalho que tem sido feito pela Orquestra Clássica do centro e tentemos todos ser capazes de o replicar nos mais diversos sectores. Coimbra merece.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Junho de 2011

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