O que é a ética? Pergunta de
difícil resposta, embora, neste início do século XXI se fale de ética por tudo
o que é sítio. Talvez porque se sente muita falta dela. Procurando respostas simples
verificamos, desde logo, que o termo vem do grego “ethos” que significa
“costume”; É, portanto, algo que não é de agora, mas que vem de há muito e se
mantém actual nos dias hoje, o que desde logo atesta a sua importância na vida
da sociedade. Segundo os dicionários, ética é a “parte da filosofia que estuda
os fundamentos da moral”, ou muito simplesmente “um conjunto de regras de
conduta”. O dicionário não nos facilita muito a vida: de facto; se por um lado
nos atira para a moral, termo que vem do latim “mores” e que significa também
“costumes”, por outro lado remete-nos para a conduta, o que tem a ver com a acção,
isto é, a prática de vida. Ser ético, portanto, será verdadeiramente aquilo que
importa, o que não é fácil, dadas as diferentes fontes de moral que ao longo
dos séculos se foram sucedendo desde os tempos da ética filosófica de
Aristóteles, assistindo-se hoje à coexistência de muitas delas e mesmo á
recuperação de algumas que se julgava perdidas. Talvez resida aí uma das razões
principais do actual desnorte nesta matéria.
E o que é a corrupção?
Socorrendo-nos de um dicionário, ficamos mais uma vez quase na ignorância, já
que o seu significado aponta para “depravação, suborno, alteração” ou mesmo
“sedução”. Mas neste caso da corrupção, ao contrário da ética, acontece sempre
algo de concreto e bem material e não filosófico, pelo que se encontra
completamente identificada na lei, que tipifica mesmo os diversos tipos de
corrupção, que vão do suborno à extorsão e ao peculato, passando pelo
nepotismo. Claro que em Portugal é mais fácil sentir o cheiro da corrupção do
que prová-la, pelo menos quando há políticos envolvidos.
É cada vez mais frequente
ouvir-se discorrer sobre ética e corrupção, associando-lhe a política. Na
verdade, ouve-se tantos políticos falar em ética, que quando isso acontece fico
logo desconfiado, principalmente quanto mais alto falam e quanto mais
assertivos são sobre o assunto. E os anos que já levo por cá e a experiência de
vida aconselham de facto a ser prudente ao ouvir a palavra ética,
principalmente quando associada a política e negócios. Há por aí fazedores de
opinião de alto gabarito e muita “ciência económica” que vendem a necessidade
da ética nos negócios quando até se sabe terem já sido corruptos em alto grau.
Por outro lado, é comum ouvir-se
dizer que “a minha ética é a lei da República”, mais uma vez quase sempre por
políticos no activo. Triste de quem confina a sua vivência à observância da lei.
Será que se pode em verdade dizer que se não infrinjo a lei, sou ético? Ou que
apresentar credencial de nunca ter sido condenado por corrupção significa o
mesmo? Claro que não. O sistema de valores vai muito para além das leis; aliás,
se as leis abarcassem todo o comportamento humano estaríamos na ditadura total
e não seríamos mais que autómatos.
Voltando ao velho Aristóteles, “Toda
a teoria da conduta tem de ser apenas um esquema e não um sistema exacto…e os
temas de conduta e comportamento não têm em si nada de fixo e invariável. E se
isto é verdade na teoria geral da ética, ainda é menos possível a precisão
exacta ao tratar de casos particulares de conduta…os próprios agentes têm de
considerar o que é conveniente nas circunstâncias de cada ocasião”. Isto é,
ao contrário do que alguns profissionais do julgamento popular pretendem, nada
disto é fácil.
Claro que a ignorância
generalizada e a falta de cultura associadas à miscelânea de códigos de valores
da nossa civilização leva a que se perca o fundamental e se eleja mesmo o
sucesso económico obtido seja de que forma for, como o critério essencial de
consideração social. Mas atrás do tempo, tempo vem, e a História está carregada
de fases confusas como a actual. E os que pensam que a História acabou estão
redondamente enganados, como é já possível detectar em sinais fáceis de
percepcionar por muita gente, menos pelos economistas que hoje dominam a nossa
vida e apenas tratam de números e olham para o futuro como a continuação das
séries do passado.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 de Maio de 2012
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