A
Queima das Fitas é uma festa de estudantes que voltou a ser o maior
acontecimento festivo anual de Coimbra o que, só por essa razão, é motivo mais
que suficiente para ser apoiado por toda a Cidade. É talvez o momento de maior
entrosamento da Cidade com a sua Universidade. Recordo aqui aqueles dias em
que, cinco anos decorridos sobre o 25 de Abril, a Academia decidiu finalmente
que já não se justificava a manutenção do “luto académico” e a Queima foi
recuperada. Perante as reacções antagónicas de uma parte restrita da academia,
foi a própria Cidade, através do seu povo que subiu a Sá da Bandeira até à
Associação Académica, e deu toda a força à recuperação da festa, numa manifestação
histórica de unidade coimbrã.
Após
trinta e tal anos de realização ininterrupta da Queima das Fitas, hoje em dia
copiada em muitas cidades do país, há aspectos que deveriam ser reconsiderados
para que a festa seja, mais que uma festa dos estudantes, um certame de que a
Cidade goste ainda mais, de que se orgulhe e que lhe traga valor cultural,
turístico e económico. Algumas coisas têm melhorado ao longo dos anos. A
realização do Cortejo ao Domingo é uma delas. O esforço dos serviços camarários
em proceder a lavagens e limpezas das ruas logo após a passagem do Cortejo é
outra. A preocupação que este ano a Câmara e os organizadores manifestaram com
o ruído é de louvar; não é aceitável que alguns cidadãos de Coimbra tenham que
se “exilar” noutros locais ou que se encharquem em drogas para dormir durante a
semana da Queima.
Dada
a dimensão das “noites no parque”, a transferência de local foi positiva,
porque o Parque Manuel Braga era insuficiente; é, no entanto, chegado o tempo
de melhorar decisivamente as condições do chamado Queimódromo. O piso é
completamente inadequado para este efeito, quer haja ou não chuva. Aquele palco
que lá foi colocado há anos serve apenas para um tipo de espectáculos e mal. Deveria
ser retirado e substituído por uma concha que permita outra variedade de
espectáculos, de qualquer tipo de música, incluindo a clássica e jazz durante
todo o ano, com condições mínimas de conforto e segurança, quer para os artistas
quer para os espectadores; o enquadramento magnífico do Rio e da Cidade
merecem-no.
Uma
questão delicada tem a ver com o consumo excessivo de álcool. Alguns guias
turísticos internacionais desaconselham já a vinda a Coimbra na semana da
Queima das Fitas. Como motivo apontam as desagradáveis situações provocadas
pelo generalizado consumo de álcool que, de facto, pouca alegria provocam e
imenso nojo causam a quem as testemunha. O consumo de cerveja em Coimbra por
esses dias bate todos os recordes e transforma a festa dos estudantes na de
maior consumo da bebida em toda a Europa. Este ano foi-se mesmo ao exagero de colocar
quiosques na rua para venda de cerveja, numa concorrência desleal com os
estabelecimentos de porta aberta que pagam os seus impostos durante todo o ano
e que também vendem cerveja, os quais foram claramente prejudicados.
Ao
fim deste tempo, é possível detectar algum cansaço perante esta festa que se
vai repetindo, sem grandes novidades nem originalidades de ano para ano, para
além dos participantes que se vão renovando pela própria razão de ser da
Queima. Sendo a Queima das Fitas a maior festa da Cidade, seria de toda a
conveniência que a sua organização envolvesse outras entidades, para além dos estudantes
da Comissão Central, o que lhe daria outra dimensão. Claro que, em primeiro
lugar, é uma festa de estudantes, cabendo-lhes definir os programas e actividades.
Mas é demasiado importante para Coimbra para que tudo isto não seja feito em
colaboração com os responsáveis pela gestão da Cidade, seja a Câmara, sejam o
Turismo, a Associação de Hotelaria e Restauração ou a Agência de Comerciantes
da Baixa. Todos ganhariam com essa nova postura que permitiria uma oferta mais
variada e de maior qualidade, colocando Coimbra no roteiro dos melhores
festivais europeus.
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