Se a internet, as comunicações e a localização geográfica por satélites
entraram na vida do cidadão comum para a alterar por completo, a influência que
têm hoje noutros aspectos da comunidade internacional é cada dia mais
avassaladora e aumenta a cada dia que passa.
Para além dos nossos desejos, a guerra é uma das constantes da História do
Homem. Ainda que em determinado momento não seja possível apontar um local da
Terra em que esteja a decorrer um conflito armado declarado, mesmo assim a
organização de Forças Armadas é uma constante, tal como o é o desenvolvimento
contínuo de novas armas e novas formas de combater um inimigo.
As novas tecnologias trouxeram duas novas armas que estão já a mudar a
maneira de fazer a guerra: os drones e a ciberguerra.
Os drones não são mais do que veículos aéreos tele-comandados, isto é, sem tripulantes
a bordo. Claro que são apenas detidos pelos países mais desenvolvidos
tecnologicamente, mas a sua utilização tem sido cada vez mais intensa em
determinados teatros de operações, como sejam o Afeganistão, o Paquistão e o
Yemen, além de outros mais próximos de nós mas com maior grau de secretismo.
Possuem sensores ultrassofisticados que varrem o terreno de forma contínua e
silenciosa, permitindo aos respectivos controladores verificar o que se passa,
detectar alvos inimigos e eliminá-los, enquanto estão sentadosem total
segurança a mover um joystick em frente de monitores a milhares de quilómetros
de distância. Tudo isto sem colocar em risco a vida de pilotos e restantes
tripulantes de aviões clássicos e usando equipamento muitíssimo mais barato.
Já a ciberguerra faz-se sem a utilização de qualquer arma clássica, mas o
seu papel e importância têm sido crescentes. Nas últimas semanas os jornais
deram nota da descoberta de um novo vírus informático chamado Flame, tendo sido
notória a falta de informação credível sobre o assunto. As últimas notícias davam
conta de que alguém tinha dado ordem ao vírus para se autodestruir não deixando
qualquer rasto nos sistemas informáticos infectados. Entretanto, os
especialistas russos que o detectaram lá foram dizendo que se tratava de um
vírus muito mais poderoso e complexo do que qualquer outro anteriormente
conhecido e que estaria instalado em países do Médio Oriente, prestando
informações sobre todo o conteúdo dos computadores atacados. Logo a comunidade
informática se lembrou de outro vírus aparecido há dois anos chamado Stuxnet,
que invadiu as fábricas de purificação de urânio do Irão, tendo destruído
milhares de centrifugadoras. Pelos vistos os códigos de programação dos dois
vírus têm aspectos comuns que provam que houve, pelo menos, contacto entre os
respectivos programadores. O Flame é extremamente complexo e sofisticado,
podendo ser considerado uma arma cibernética concebida especificamente para
ciber-espionagem e só pode ter sido desenvolvido por uma equipa de
programadores a trabalhar durante meses e nunca por uma única pessoa. Isto é,
trata-se de uma arma desenvolvida por algum país ou mesmo através de colaboração
de países, com alvos hostis comuns.
Já neste mês de Maio, o Secretário da Defesa americano Leon Panetta aprovou
uma nova rede organizacional que deverá ser o primeiro passo para a
estandartização de ciber-operações militares. A nova organização define Ciber
Centros Conjuntos e um Ciber Comando (CYBERCOM). Os objectivos desta nova super
estrutura militar americana são simultaneamente defensivos e ofensivos, pelo
que no futuro terá uma importância capital nas forças armadas americanas.
Chegados a este ponto, o leitor não pense que pode ficar descansado por esta
guerra cibernética se passar longe, estando portanto livre de ser afectado por
ela. Na realidade, todo e qualquer computador ligado à internet é um possível
alvo de utilização indevida por desconhecidos. Para além dos hackers que
permanentemente vasculham a net à procura dos dados bancários dos incautos e
dos motores de busca e redes sociais que fornecem os dados dos utentes com
intuitos comerciais, certamente não por acaso, a Google anunciou a semana
passada que avisará os utentes do seu Gmail que sejam alvos de ataques de
vigilância por parte de Estados. Pelos vistos, jornalistas, trabalhadores de
ONG’s, estudantes, académicos e outros em vários países, já receberam avisos
desses.
Como se costuma dizer, pode-se não acreditar em bruxas, mas que as há, há,
pelo que todo o cuidado com a internet é pouco.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Junho de 2012
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