Foi publicado há poucos dias o resultado de mais um inquérito sobre as
cidades com maior qualidade de vida. Claro que este tipo de inquéritos, feitos
através de perguntas a um reduzido número de moradores de cada uma delas tem um
valor estatístico reduzido, até pela complexidade de análise dos 11 critérios
utilizados, verificando-se pequena variação para o inquérito realizado pela
mesma associação há cinco anos. É provável que o crónico espírito crítico dos
conimbricenses relativamente à sua cidade se reflicta também nestes resultados,
ao contrário de outras cidades em que os seus moradores são genericamente
benevolentes relativamente às suas falhas. Curiosamente, em inquéritos do mesmo
tipo levados a cabo por outros promotores, por exemplo o jornal Expresso, as
cidades que no inquérito da DECO aparecem no final, são nesse caso as primeiras
da lista, casos de Lisboa e Porto. E alguma razão haverá para isso, tendo em
conta a fuga de populações do interior para essas metrópoles, valorizando as
pessoas na prática, a maior possibilidade de ter emprego relativamente a
poderem dormir de janelas abertas. Já a nossa cidade, Coimbra, mantém-se
sensivelmente na mesma classificação relativamente há cinco anos, semelhante
aliás, à anterior classificação do Expresso, isto é, sempre no terço superior
do conjunto.
As muitas vantagens comparativas de Coimbra são históricas e bem
conhecidas, não sendo necessário sequer referir as que advêm da localização
central no país e boas ligações ao litoral e a Norte e a Sul, o que não se
verifica, infelizmente em relação ao interior. As áreas da saúde e do ensino
superior são, desde há muito, aquelas que colocam Coimbra na frente de todos os
rankings. Outras há em que a potencialidade é enorme, mas exigem capacidade de
iniciativa e de conjugação de esforços da parte dos decisores públicos na
Cidade, para que passem a ser realidade concreta.
A indústria tradicional de Coimbra foi-se há muito, estando agora a ser
substituída por novas actividades de ponta, da área da tenologia intimamente
ligada à investigação científica; a mão de obra barata dos operários é agora
substituída pelos programadores e investigadores, com grandes repercussões
sociais e económicas. Mesmo a área industrial de fabrico de medicamentos é
paulatinamente substituída pela produção de processos de fabrico, vendidos com
grande valor acrescentado em todas as partes do mundo.
O património histórico de Coimbra é riquíssimo e conhecido por todo o
mundo. A classificação da Unesco será uma alavanca poderosíssima na atracção de
turismo. O turismo é precisamente uma das áreas económicas que deverá ser
trabalhada a sério por Coimbra e apoiada publicamente, havendo pelo menos duas
vertentes a decidir de imediato: colocar toda gente a trabalhar para o mesmo
lado, acabando com divisões artificiais e estabelecer uma ligação forte com a
cultura. O turismo cultural é hoje uma actividade económica de grande valor a
nível europeu, mas não se compadece com amadorismos nem boas intenções. Tem que
ser olhado como isso mesmo: actividade económica com tudo o que lhe é inerente,
desde o levantamento de oportunidades e estudo exaustivo da procura
internacional com definição do público-alvo, estabelecimento de planos de
negócios, escolha de oferta e montagem do produto, até ao necessário
financiamento. Mas não se pense que esta revolução no turismo de Coimbra se
poderá fazer através de serviços públicos, camarários ou outros, que têm um
orçamento anual para gastar e se esquecem de facturar. Deverão ser apoiados
outros actores, privados ou associativos, com provas dadas na gestão, que sejam
capazes de casar cultura com turismo, já que hoje em dia praticamente ninguém
viaja apenas para ver pedras, por mais bonitas e antigas que elas sejam.
Com muita facilidade Coimbra poderá passar a um patamar superior nesta
área, com grandes vantagens para todos os agentes económicos envolvidos e
consequente subida nos rankings de cidades. Relembro, por exemplo, o que já
aqui escrevi várias vezes: a ligação histórica de Coimbra com a História de
toda a 1ª Dinastia, desde o estabelecimento da primeira capital do Reino até às
cortes de Coimbra que escolheram D. João I, passando pelos amores trágicos de
Inês e Pedro, é um “euromilhões” que aguarda apenas quem jogue nele. Assim haja
vontade e capacidade para ultrapassar atavismos e hábitos bolorentos que tantas
vezes impendem Coimbra de ser ainda melhor.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 2 de Julho de 2012
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