Mudam-se os Tempos,
Mudam-se as Vontades
Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Peço que me perdoem o atrevimento de começar a minha singela crónica desta
semana citando o nosso maior poeta, mas às vezes sabe bem voltar à simplicidade
do génio.
Há poucos dias, um amigo cá da nossa Cidade que não tem nada a provar na
vida quer pessoal, quer profissionalmente porque transformou uma pequena
empresa de Coimbra num conglomerado que actua em vários países da Europa, na
Ásia e na América dizia-me, a propósito destas minha pequenas e despretensiosas
crónicas semanais, que eu não desistia de querer mudar o mundo. Agradeci a
amizade mas neguei qualquer propósito meu nesse sentido. No entanto, aquela
frase fez-me pensar. O leitor não sabe, mas esta é a minha crónica semanal nº
347 publicada no Diário de Coimbra. Em 347 semanas vivemos 58.246 horas isto é,
3.497.760 minutos. Não é inocentemente que refiro o nº de minutos e não o nº de
anos decorridos. É que se vivemos de facto, sem meramente deixar passar o
tempo, vivemos aquele número gigantesco de minutos e todos sabemos como às
vezes um simples minuto demora a passar. Tempo suficiente para ver partir
pessoas queridas que em nós deixam feridas que nunca sararão, tempo para ver
filhos voar para as suas vidas próprias, tempo para ver netos a encher-nos o
coração, tempo para ver aquelas linhas do monitor ao lado da cama do hospital a
ficarem horizontais e ter a graça de acordar com vontade de viver plenamente e
agarrar de novo o futuro nas mãos, custe o que custar.
Fui reler a minha primeira crónica desta série e lá encontrei alguma
ingenuidade, mas também as linhas fundamentais do que tenho escrito desde
então: nunca atacar ninguém em concreto, criticar situações e propor soluções.
Também lá citei alguém que nos ensina que não devemos ser optimistas nem
pessimistas e sim optimizadores: isto não é um mero jogo de palavras e sim todo
um programa de acção e corresponde àquilo que tenho tentado fazer.
De novo digo: não tento mudar o mundo, embora às vezes apeteça. Quem muda o
mundo, para além das guerras e revoluções que se sabe como começam mas não como
acabam, são os artistas, os cientistas e todos os anónimos que deixam o mundo
um pouco melhor do que o encontraram. Como pessoa comum, tento apenas dar o meu
melhor, participar em reformas necessárias e ser cidadão a tempo inteiro,
tentando perceber o mundo e lembrando-me de Álvaro de Campos quando escrevia
que “o Teorema do Binómio é tão belo como a Vénus de Milo, o que há pouca gente
para dar por isso”.
Esta foi uma crónica diferente do habitual. Mas como costumo afirmar que
aquilo que deixamos por dizer não existe, tenho que agradecer ao Amigo que, com
um simples e simpático comentário, me levou esta semana por territórios que,
sem ele, teriam o destino de não existir.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 9 de Julho de 2012
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