O novo ano escolar está aí à porta. Traz consigo novidades e alegrias para os jovens estudantes, mas também alguns problemas para os pais. A compra dos manuais escolares é sempre um momento difícil, ainda mais em tempos de dificuldades económicas agravadas, este ano alargadas a muitas famílias que não puderam dispor dos subsídios de férias que têm tido a função supletiva de financiar essa despesa familiar. Se para os pais desempregados a situação é genericamente desesperada, para muitos outros pais o mês de Setembro vai ser também muito difícil.
A questão dos manuais escolares tem em Portugal diversas vertentes que não têm sido devidamente equacionadas e muito menos resolvidas.
Começa pela evolução dos livros ao longo das últimas dezenas de anos. O seu tamanho, peso e claro, o seu custo, cresceram de uma forma inacreditável. Mesmo este ano, com taxas de crescimento do PIB bem negativas e em que todas as famílias perdem dinheiro, os editores conseguiram a proeza de aumentar o preço dos livros.
Não me vou alongar pela faceta pedagógica da organização dos conteúdos. Convido apenas os pais a tentarem perceber as mesmas matérias que estudaram no seu tempo. Se conseguirem organizar-se pelos esquemas, citações e distribuição das matérias importantes pelo meio do que é acessório, terão muita sorte. Fica-se com a ideia de que as crianças de hoje terão que ser muito mais inteligentes para obterem bons resultados, porque tudo parece programado para que o estudo seja mais um jogo do que trabalho sério, que obrigatoriamente terá sempre de incluir memorização. Por outro lado, o manual da matéria nunca é suficiente, vindo sempre acompanhado de outros livros de apoio que é necessário comprar, porque funcionam em conjunto com o manual principal.
Os livros escolares são hoje verdadeiramente um luxo e autêntico desperdício, pela quantidade de papel utilizado, pela profusão da utilização de gráficos e fotografias a cores desnecessários e até pela superfície de papel não utilizado.
Acresce que todos os anos mudam, pelo que não se consegue fugir à despesa, ainda que haja irmãos com pouca diferença de idades.
Com tudo isto, o negócio da edição de livros escolares tornou-se uma verdadeira mina de ouro. Claro que o ministério da Educação, com os seus inúmeros serviços centralizadores dominados por teorias pedagógicas falsamente modernas está na base de tudo isto, não se conseguindo fugir à ideia de que foi tomado por dentro pelos interesses das editoras.
Os pais começaram a tentar reagir ao cerco que lhes foi montado, estando a surgir “bancos de livros escolares” um pouco por todo o país. É assim que os jornais noticiaram há poucos dias que “o banco de livros escolares de Coimbra já ajudou 75 famílias”. Perante tudo o que se passa, não é possível deixar de saudar o esforço e vontade de ajudar o próximo em dificuldades. Mas permitam-me: nesta questão dos livros escolares isto não é solução e não se pode ficar por aqui.
O ministério da Educação tem o dever de arrepiar caminho e modificar a estrutura do manual escolar de alto a baixo, em função da aprendizagem, dos interesses dos alunos e economia familiar e não da maximização dos proveitos das editoras, que é o que se passa hoje, ou vamos todos concluir que quem foi eleito para mandar na Educação não quer ou não tem poder para mudar o estado de coisas. Aliás já vai tarde, porque neste ano escolar que agora começa deveriam ter sido dados sinais sérios nesse sentido, até pela emergência social da situação actual.
As escolas também têm responsabilidades nesta área. Em vez de serem os pais a organizar “bancos de livros escolares”, devem elas próprias organizar-se para que os livros utilizados num ano possam ser reutilizados no ano seguinte.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 20 de Agosto de 2012
1 comentário:
Já existe um manual escolar gratuito e de qualidade (passe o auto-elogio):
http://www.nonius.blogspot.pt/2012/05/o-novo-manual-escolar-niualeph12-para-o.html
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