Nestes Encontros foi possível ouvir peças escritas propositadamente para guitarra e orquestra, incluindo uma peça inédita da autoria de Marina Pikoul, que transportam a guitarra portuguesa para o patamar de instrumento orquestral, para além da sua função mais clássica de acompanhamento de canções ou de participação em guitarradas. Será assim possível ouvir a guitarra portuguesa em todo o mundo, já que a existência de partituras permitirá a qualquer orquestra clássica incluir essas peças no seu repertório. Marina Pikoul que escreveu a lindíssima peça “Em Memória da Madrugada em Coimbra” é bem o exemplo de como, mesmo depois de uma carreira brilhante a nível de interpretação e composição, com prémios por todo o mundo a começar na sua própria terra, alguém sabe manter a humildade, sem se tentar impor a não ser pela qualidade do trabalho.
Os Encontros percorreram vários locais, desde o Pavilhão Centro de Portugal ao café Stª Cruz e ao Fado ao Centro no Quebra Costas. Foi assim que se chegou a diversos públicos, incluindo turistas e moradores da Baixa de Coimbra que, de forma entusiasmada aderiram aos espectáculos aí realizados.
Pelo meio, foi possível ver e participar numa acção inédita e altamente significativa pelo seu simbolismo. Duas tunas de estudantes, “As Mondeguinas” e a Tuna da Faculdade de Medicina dedicaram uma serenata a Francisco Martins, cultor da Guitarra de Coimbra e autor da famosa Canção da Primavera. Foi um momento de rara carga emotiva que demonstrou como a canção e a Guitarra de Coimbra têm ainda hoje um papel importante na vida dos estudantes da nossa Universidade, de como a juventude continua a ser generosa e solidária e de como há em Coimbra quem resista e honre os seus melhores.
De Bruxelas vieram dois músicos irmãos, Miguel e Philippe Raposo, que demonstraram como a guitarra portuguesa associada à clássica pode, partindo do repertório da música de Coimbra, atingir novas e surpreendentes sonoridades e emoções.
Nas próximas semanas Coimbra vai ter um conjunto de espectáculos musicais a que se dá o nome de Festival de Música de Coimbra. O único concerto orquestral previsto estará a cargo de uma orquestra constituída por alunos de uma escola profissional de Espinho. Em qualquer cidade com uma orquestra profissional residente, ainda por cima apoiada financeiramente pela Autarquia, a organização de um Festival de Música não deixaria de estar a cargo dessa entidade; em Coimbra, não só isso não acontece como, para o único concerto orquestral é chamada uma orquestra de uma escola. Não fora isto tudo apenas um pouco risível e apeteceria comentar Coimbra no seu pior; na realidade, trata-se apenas de algo para que a História se encarregará de encontrar rapidamente o seu lugar.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 29 de Outubro de 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário