A linguagem é uma ferramenta poderosa para a comunicação. Por vezes, a troca de uma pequena palavra dá todo um novo significado a uma expressão. Há poucos dias, numa tertúlia sobre a nossa Cidade, alguém interveio sobre o papel de Coimbra na região Centro e afirmou que Coimbra deve ser a capital na região. Na região e não da região, como se costuma dizer. E a alteração pode parecer puramente semântica, mas é significativa e traz consequências, se for levada à letra pelos responsáveis políticos da Cidade.
Significa que Coimbra deverá assumir-se verdadeiramente como capital, não pode ser apenas a primeira entre as outras, que o é, por razões históricas e geográficas. Por razões históricas, porque é a cidade portuguesa mais ligada à nacionalidade, desde a fundação até aos dias de hoje, com tudo o que isso significa de património material e imaterial. Durante muitos séculos Coimbra albergou a única Universidade portuguesa, o que teve consequências muitas vezes imprevisíveis e curiosas como a existência do Brasil como um único país ao contrário das colónias sul americanas de origem espanhola que se dividiram em muitos países independentes. As razões geográficas são evidentes, desde a localização central até à população residente, muito superior a todas as outras cidades da Região, das quais apenas Leiria também ultrapassa os cem mil habitantes concelhios.
Para que Coimbra seja capital na Região e não apenas a capital da região, tem que se assumir a si própria como tal. Em primeiro lugar tem que se organizar de acordo com as cidades que hoje se projectam no futuro. Não pode lamentar o que foi ou o que perdeu. Tem que olhar para si e perceber como se desenvolveu, como se foi reorganizando internamente e quais são as suas vantagens competitivas actuais. Coimbra já não é uma cidade com um único centro, ainda que histórico e riquíssimo em património, centro esse a necessitar de uma cara e extensa regeneração urbana, já suficientemente estudada e planeada. A habitação e as actividades económicas, incluindo o comércio e os serviços foram-se organizando em novas centralidades que formaram outros tantos centros urbanos. Vastas zonas foram abandonadas devido à evolução das actividades económicas, com ocupação de novas áreas mais bem adaptadas às novas necessidades. Gerir a Cidade com perspectiva estratégica, significa entender esta nova realidade e potenciar as conexões entre todos estes centros que existem, se interpenetram e devem funcionar como um todo harmonioso.
Mas Coimbra tem também que se virar para fora e assumir-se como a única cidade das Beiras com potencial e capacidade para dar a cara pela Região Centro. Hoje em dia uma capital não se pode impor pela força ou por decreto. Antes deve ter a humildade dos fortes, que é oferecer o que tem para apoiar os outros, dando assim mais força ao conjunto; isto não se deve passar ao nível de associações artificiais e redutoras de municípios de “baixo mondego” ou “pinhal litoral” ou das outras denominadas NUT III, e sim da Região Centro que é a que pode impedir o ensanduichar entre as grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Quem perceber isto e o levar à prática demonstrará verdadeira liderança. O actual presidente da Câmara de Coimbra, embora não tenha sido eleito como tal, mostra reunir todas as condições pessoais para o fazer, caso se candidate no próximo ano. Assim queira e consiga reunir equipas com os melhores, que conheçam a realidade concreta e tenham capacidade de propor as mudanças necessárias.
Coimbra precisa de se afirmar da forma que acima descrevi, interior e exteriormente. A Região Centro precisa de Coimbra para sair do torniquete de subdesenvolvimento relativo a que tem estado sujeita. Massa crítica humana há, com pessoas mais do que capazes, independentemente de inscrição em partidos. Que seja utilizada da melhor forma é o que se espera para um futuro que não existe ainda, mas que será fruto das escolhas do presente.
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