Há menos de um ano o
presidente do banco central da Finlândia propôs a separação da banca de
investimentos da banca comercial, para que esta não cubra as falhas daquela. Na
semana passada, a Alemanha seguiu os passos que a França já deu nesse sentido e
aprovou essa separação para os grandes bancos, esperando-se que o Reino Unido
venha a fazer o mesmo em breve. No entanto, o governo alemão foi mais longe. De
facto, a nova lei prevê ainda que os dirigentes dos bancos ou seguradoras que
tenham provocado perdas em consequência da assunção de riscos não considerados
poderão sofrer penas de prisão. Os países europeus, começam finalmente a reagir
aos problemas resultantes de alguma actividade da banca. Mercê dos
desenvolvimentos tecnológicos, da globalização e de uma regulação desadequada a
estes novos tempos, a banca tem mostrado grandes debilidades perante a actuação
de responsáveis que se aproveitam de facilidades que não deveriam existir.
Relembra-se o sucedido, só desde 2008, com o Credit Suisse Group, com o Lehman
Brothers, a UBS, e mais recentemente, o JPMorgan Chase e o Barclays Bank e as
acusações de manipulação da LIBOR, para só referir os casos mais conspícuos.
Entre nós, os banqueiros
também teimam em não sair das primeiras páginas dos jornais e, é preciso
dizê-lo, nunca pelas melhores razões. Os comentários de banqueiros e outros
milionários sobre a pobreza ou austeridade, com a maior das sinceridades, não
são coisa que deva fazer perder um minuto das nossas vidas. Já as fugas aos
impostos e negociatas mais ou menos escondidas para fugir ao fisco interessam
directamente a todos os que cumprem as suas obrigações fiscais, que são a
grande maioria dos portugueses. Como dizem respeito a todos os portugueses as
situações que se passaram na banca, casos do BCP e do BPN. Se no BCP foram
usados dinheiros públicos da CGD para comprar capital e meter uma administração
“amiga” com os prejuízos no banco que estão à vista de todos, no BPN a
nacionalização feita há mais de quatro anos serviu para que todos nós estejamos
a pagar aquilo que os gestores do banco por lá fizeram. Continua tudo sem ser
devidamente esclarecido, sabendo-se no entanto que, dos setecentos milhões
referidos pelo antigo ministro das Finanças quando decretou a nacionalização, o
prejuízo vai hoje em mais de 4 mil milhões de euros, havendo quem diga que
possa vir a subir aos 7 mil milhões. Como a solução para o BPN foi a
nacionalização do banco, são todos os contribuintes que estão a pagar o
desastre, chamemos-lhe assim, já que o prejuízo de muitos foi certamente o
benefício de alguns, que mais cedo ou mais tarde terão que responder
publicamente pelos seus actos e pelas suas omissões. O que aliás já deveria
estar a suceder, para a saúde do próprio regime. Às vezes é mesmo obrigatório
não vacilar perante o poder do dinheiro.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 11 de Fevereiro de 2013
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