segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

TURISMO EM COIMBRA


O tema do turismo em Coimbra tem sido abordado com alguma frequência nestas crónicas. A linha principal dessas intervenções tem-se relacionado com o chamado turismo cultural e surge na sequência da verificação empírica de várias características do turismo que nos visita. Essas ideias resultantes da observação directa e de alguma curiosidade pessoal, viram-se agora confirmadas no livro “A CIDADE E O TURISMO”, da autoria de Carlos Fortuna e mais quatro colegas que, de uma forma sistematizada, aborda os segmentos do turismo patrimonial e cultural.
Por esta obra ficamos agora a saber de ciência certa, e cito, que todos os anos mais de 200 mil turistas visitam a Universidade. Mas também que “o sector do turismo não tem um impacto económico muito forte na cidade”, que “o concelho de Coimbra revela francas dificuldades na fixação dos seus hóspedes e que a nossa cidade está mesmo em desvantagem no que respeita à fixação mais longa dos visitantes”, relativamente a outras cidades médias portuguesas. Verificou-se que quase metade dos turistas não passa qualquer noite na cidade, sendo de apenas 1,66 noites a estadia média dos que cá pernoitam e ainda que quase metade dos turistas gastam menos de 50 euros e apenas 28% entre 51 e 100 euros. Os autores salientam que “Coimbra… dotada de um património histórico, simbólico e monumental muito relevante, debate-se com uma série de problemas e constrangimentos de natureza estratégica e organizacional que têm condicionado o pleno aproveitamento do potencial existente.”
Isto é, a questão coloca-se no aproveitamento rentável do património existente legado pela História: temos “hardware” e falta-nos “software” como hoje se diz.
A Universidade é o principal pólo de atracção turística, o que se irá potenciar, caso tenha sucesso a candidatura a Património Mundial da Unesco, como se espera venha a suceder. Se o desfasamento de atractabilidade turística entre a Universidade e o resto da Cidade já é grande, será ainda maior se não houver engenho e arte para, rapidamente, se fazer frente a esse perigo real.
Uma das respostas está na passagem do turismo meramente patrimonial, essencialmente contemplativo, para o turismo cultural, que adiciona actividades artísticas à pedra dos monumentos. Espectáculos realizados nos monumentos, seja por grupos de teatro, seja por agrupamentos musicais nas suas diversas formas, criam ambientes novos, diferentes, muitas vezes de grande beleza, que têm obviamente um potencial económico muito relevante, se integrados numa política de turismo eficiente.
Isto mesmo tem sido provado pela Orquestra Clássica do Centro que, arrostando com algumas incompreensões, tem levado diversos tipos de música erudita aos mais variados monumentos da Cidade, sempre com agrado e mesmo por vezes espanto do público pela qualidade da prestação, como sucedeu ainda no passado dia 31 de Janeiro na Igreja do Mosteiro de Santa Clara-a.Nova, num concerto de excepcional brilho num ambiente de enorme valor simbólico para Coimbra.
Coimbra tem o património e tem produção cultural própria de altíssimo nível. Tem obviamente faltado a capacidade organizativa para juntar tudo numa oferta cultural que tem potencialidades para brilhar no cenário nacional.
Estamos num momento histórico de charneira, definido por várias circunstâncias, desde a candidatura à Unesco, à redefinição da organização administrativa do país, às mudanças económicas e sociais ligadas à política de habitação e regeneração urbana, às novas circunstâncias económicas europeias e à cada vez maior importância da política de cidades. Por aqui passa muito do nosso futuro colectivo.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Fevereiro de 2013

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