O tema do turismo em
Coimbra tem sido abordado com alguma frequência nestas crónicas. A linha
principal dessas intervenções tem-se relacionado com o chamado turismo cultural
e surge na sequência da verificação empírica de várias características do
turismo que nos visita. Essas ideias resultantes da observação directa e de alguma
curiosidade pessoal, viram-se agora confirmadas no livro “A CIDADE E O
TURISMO”, da autoria de Carlos Fortuna e mais quatro colegas que, de uma forma
sistematizada, aborda os segmentos do turismo patrimonial e cultural.
Por esta obra ficamos
agora a saber de ciência certa, e cito, que todos os anos mais de 200 mil
turistas visitam a Universidade. Mas também que “o sector do turismo não tem um
impacto económico muito forte na cidade”, que “o concelho de Coimbra revela
francas dificuldades na fixação dos seus hóspedes e que a nossa cidade está
mesmo em desvantagem no que respeita à fixação mais longa dos visitantes”,
relativamente a outras cidades médias portuguesas. Verificou-se que quase
metade dos turistas não passa qualquer noite na cidade, sendo de apenas 1,66
noites a estadia média dos que cá pernoitam e ainda que quase metade dos
turistas gastam menos de 50 euros e apenas 28% entre 51 e 100 euros. Os autores
salientam que “Coimbra… dotada de um património histórico, simbólico e
monumental muito relevante, debate-se com uma série de problemas e
constrangimentos de natureza estratégica e organizacional que têm condicionado
o pleno aproveitamento do potencial existente.”
Isto é, a questão
coloca-se no aproveitamento rentável do património existente legado pela
História: temos “hardware” e falta-nos “software” como hoje se diz.
A Universidade é o
principal pólo de atracção turística, o que se irá potenciar, caso tenha
sucesso a candidatura a Património Mundial da Unesco, como se espera venha a
suceder. Se o desfasamento de atractabilidade turística entre a Universidade e
o resto da Cidade já é grande, será ainda maior se não houver engenho e arte
para, rapidamente, se fazer frente a esse perigo real.
Uma das respostas está
na passagem do turismo meramente patrimonial, essencialmente contemplativo,
para o turismo cultural, que adiciona actividades artísticas à pedra dos
monumentos. Espectáculos realizados nos monumentos, seja por grupos de teatro,
seja por agrupamentos musicais nas suas diversas formas, criam ambientes novos,
diferentes, muitas vezes de grande beleza, que têm obviamente um potencial económico
muito relevante, se integrados numa política de turismo eficiente.
Isto mesmo tem sido
provado pela Orquestra Clássica do Centro que, arrostando com algumas
incompreensões, tem levado diversos tipos de música erudita aos mais variados
monumentos da Cidade, sempre com agrado e mesmo por vezes espanto do público
pela qualidade da prestação, como sucedeu ainda no passado dia 31 de Janeiro na
Igreja do Mosteiro de Santa Clara-a.Nova, num concerto de excepcional brilho
num ambiente de enorme valor simbólico para Coimbra.
Coimbra tem o património
e tem produção cultural própria de altíssimo nível. Tem obviamente faltado a
capacidade organizativa para juntar tudo numa oferta cultural que tem
potencialidades para brilhar no cenário nacional.
Estamos num momento
histórico de charneira, definido por várias circunstâncias, desde a candidatura
à Unesco, à redefinição da organização administrativa do país, às mudanças
económicas e sociais ligadas à política de habitação e regeneração urbana, às
novas circunstâncias económicas europeias e à cada vez maior importância da
política de cidades. Por aqui passa muito do nosso futuro colectivo.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Fevereiro de 2013
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