Como se dá a
circunstância de hoje ser o dia 11 de Março, aproveito a oportunidade para
recordar essa data. Na sequência do 25 de Abril e do 28 de Setembro, vivia-se
então o PREC, sendo presidente da República o General Costa Gomes e
primeiro-ministro o Coronel Vasco Gonçalves. Entre manifestações permanentes e lutas
mais ou menos escondidas entre PCP e extrema-esquerda pelo controlo do MFA, o
país vivia num sobressalto permanente, sem se perceber para que tipo de
“socialismo” se iria virar, já que fora disso parecia não haver nenhum caminho
possível. A certa altura começou a circular um boato sobre uma suposta “matança
da Páscoa” que estaria a ser preparada pelas forças extremistas de esquerda.
Tal bastou para que os spinolistas, afastados da decisão política a partir da
demissão de Spínola na sequência do 28 de Setembro, tentassem um golpe militar,
precisamente em 11 de Março de 1975. A derrota foi completa, tendo parte das
conversações entre os militares no terreno sido feitas em directo, diante das
câmaras de televisão e do microfone de Adelino Gomes, uma originalidade bem
portuguesa.
Poucos dias depois,
surgiam as nacionalizações em força, tendo o recém-formado Conselho da
Revolução tomado a decisão de nacionalizar a banca e os seguros em 14 de Março,
a que se seguiu boa parte da economia. Em pouco tempo o estado era proprietário
de mais de 1.300 empresas, incluindo hotéis, fábricas de transformação de
tomate, de cerveja e mesmo barbearias. No fim desse Verão, o Estado detinha o
controlo de 20% do PIB e as nacionalizações eram consideradas fundamentais para
a transição para uma sociedade socialista na Assembleia do MFA de 19 de Abril.
O que se seguiu é bem
conhecido. Pouco tempo depois, logo em 1978, estávamos a chamar o FMI pela
primeira vez, para nos ajudar perante o descalabro das contas públicas e da
economia. Esquecido o “caminho para o socialismo”, com todas as garantias
sociais na “Constituição mais avançada do mundo”, mas sem dinheiro para as
pagar, viemos lentamente a descambar até à actual situação em que temos a taxa
mais elevada de auto estradas por habitante da Europa, sem dinheiro para as pagar
e sem carros a passarem por lá. Sem produção, endividadíssimos, com contas
públicas deficitárias, com desemprego galopante, vemo-nos obrigados a vender os
anéis, isto é, os resquícios empresariais das nacionalizações de 75. E ainda temos
que ouvir os disparates de “historiadoras” que não conseguem outras saídas
senão voltar aos erros crassos das nacionalizações! Haja paciência.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 11 de Março de 2013
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