segunda-feira, 11 de março de 2013

11 DE MARÇO

Há poucos dias tive a oportunidade de assistir a uma entrevista televisiva de uma senhora que se apresentava como historiadora e que foi amplamente distribuída pela internet. Durante algum tempo foi debitando os comentários habituais sobre a austeridade, sobre o neo-liberalismo, sobre a venda ao desbarato das grandes empresas públicas aos estrangeiros, sobre a indignação, etc. O habitual. Questionada sobre quais as saídas alternativas à troika, já que só por nós não nos conseguimos financiar para o país viver o simples dia-a-dia, saiu-se com a recordação das nacionalizações de 1975 que, segundo a historiadora, até deram bom resultado.
Como se dá a circunstância de hoje ser o dia 11 de Março, aproveito a oportunidade para recordar essa data. Na sequência do 25 de Abril e do 28 de Setembro, vivia-se então o PREC, sendo presidente da República o General Costa Gomes e primeiro-ministro o Coronel Vasco Gonçalves. Entre manifestações permanentes e lutas mais ou menos escondidas entre PCP e extrema-esquerda pelo controlo do MFA, o país vivia num sobressalto permanente, sem se perceber para que tipo de “socialismo” se iria virar, já que fora disso parecia não haver nenhum caminho possível. A certa altura começou a circular um boato sobre uma suposta “matança da Páscoa” que estaria a ser preparada pelas forças extremistas de esquerda. Tal bastou para que os spinolistas, afastados da decisão política a partir da demissão de Spínola na sequência do 28 de Setembro, tentassem um golpe militar, precisamente em 11 de Março de 1975. A derrota foi completa, tendo parte das conversações entre os militares no terreno sido feitas em directo, diante das câmaras de televisão e do microfone de Adelino Gomes, uma originalidade bem portuguesa.
Poucos dias depois, surgiam as nacionalizações em força, tendo o recém-formado Conselho da Revolução tomado a decisão de nacionalizar a banca e os seguros em 14 de Março, a que se seguiu boa parte da economia. Em pouco tempo o estado era proprietário de mais de 1.300 empresas, incluindo hotéis, fábricas de transformação de tomate, de cerveja e mesmo barbearias. No fim desse Verão, o Estado detinha o controlo de 20% do PIB e as nacionalizações eram consideradas fundamentais para a transição para uma sociedade socialista na Assembleia do MFA de 19 de Abril.
O que se seguiu é bem conhecido. Pouco tempo depois, logo em 1978, estávamos a chamar o FMI pela primeira vez, para nos ajudar perante o descalabro das contas públicas e da economia. Esquecido o “caminho para o socialismo”, com todas as garantias sociais na “Constituição mais avançada do mundo”, mas sem dinheiro para as pagar, viemos lentamente a descambar até à actual situação em que temos a taxa mais elevada de auto estradas por habitante da Europa, sem dinheiro para as pagar e sem carros a passarem por lá. Sem produção, endividadíssimos, com contas públicas deficitárias, com desemprego galopante, vemo-nos obrigados a vender os anéis, isto é, os resquícios empresariais das nacionalizações de 75. E ainda temos que ouvir os disparates de “historiadoras” que não conseguem outras saídas senão voltar aos erros crassos das nacionalizações! Haja paciência.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 11 de Março de 2013

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