Assim termina um artigo recentemente publicado por um deputado socialista
que, a propósito de uma recente reunião do seu partido em Coimbra, resolveu envolver
a sua opinião sobre o significado político daquele encontro supostamente
unificador do partido Socialista em considerações sobre a cidade. Coimbra é
talvez, entre as cidades portuguesas, aquela que mais referenciais históricos
oferece para utilizar como fundo para a passagem de mensagens dos mais diversos
tipos e pelos mais variados autores.
O articulista informa melancolicamente que, não tendo estudado em Coimbra,
admira contudo as amizades profundas que ligam para a vida os que por cá
passaram. Faz ainda alguns comentários certeiros e outros menos justos para a
Cidade, mas que devemos olhar com atenção, porque quem observa de fora tem
normalmente uma visão mais abrangente, já que livre das pequenas coisas que o
dia-a-dia produz; tal como quem está entre as árvores não consegue abarcar a
visão da floresta como um todo.
O deputado lembra que Coimbra marca de facto pelo mistério, encanto e
sedução, evocando a magia das serenatas e a excelência na saúde, pelo elevado
nº e qualidade dos médicos; aponta com razão a aposta da Universidade em alguns
nichos de excelência. Mostra como é mau para a Cidade que a Académica seja
assumida como segundo clube de muita gente. Aponta a existência de algumas
empresas que são ponta de lança em áreas de extrema sofisticação.
Mas quem está de fora também é muito sujeito a preconceitos e ideias
formadas sem sentido, o que é o caso. É assim que não foge ao lugar-comum da
crítica ao “Portugal dos Pequenitos”, como se hoje o parque temático infantil
tivesse mais importância do que como local de diversão para os mais pequenos.
Tal como faz a ligação da Universidade a Salazar, o que já vai longe e não tem
no presente qualquer significado, para além do histórico que se refere, aliás,
a poucas dezenas de anos numa Universidade com mais de sete séculos de
existência. Que a Universidade de Coimbra tivesse sido a única em Portugal
durante séculos é uma questão nacional e não de Coimbra, além de que esse facto
teve certamente consequências positivas como a existência da língua nacional e
de um grande país uno como o Brasil. Apontar uma suposta decadência de Coimbra
ligada à marca da portugalidade faz hoje tanto sentido como esperar pelo
Desejado.
Claro que quem chega observa ainda aspectos que vêm do passado e dos quais
Coimbra tem que se livrar completamente, se quer ser cada vez mais progressiva
e aberta ao mundo. A chamada doutorice, doença que derrama da universidade para
a cidade, é uma pecha grave que tem consequências sociais e políticas
importantes. Hoje em dia nem tem muito a ver com a Universidade em si, bastando
para tal concluir, ver a forma como os últimos Reitores têm feito esforços para
estabelecer ligações de colaboração íntima com o governo da Cidade. Mas ainda é
possível ver com alguma frequência utilizar o título académico como forma de
afirmação pessoal em vez da capacidade de realização.
Outra observação certeira do deputado foi aquilo que chamou “revolução
alcoólica”. Na realidade, se há algo que Coimbra deveria alterar completamente
é a ligação das festas académicas ao consumo excessivo de álcool. E isso tem
que ser objecto da atenção de todas as entidades responsáveis da Cidade, e não
apenas das forças policiais da estrada, já que Coimbra não deseja certamente
passar a ser internacionalmente conhecida como a capital europeia da bebedeira!
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 Março 2013
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