O nosso velho continente foi
palco de inúmeras guerras ao longo dos séculos que seguiram ao desaparecimento
do império romano. Umas devidas a invasões por outros povos ou civilizações,
outras pelo estabelecimento das nações e respectivas fronteiras. Recordo, como
mais conspícuas, as guerras conhecidas como dos sete, dos trinta e dos cem
anos. No início do século XIX havia já alguma estabilização de fronteiras, mas a
Revolução Francesa veio abanar a antiga ordem baseada nas tradicionais familias
reinantes das casas reais. Na sua sequência, Napoleão quis unificar a Europa,
através da sua conquista pela força dos seus exércitos. Não o conseguiu. Cem
anos depois, a Europa viu-se de novo em guerra pelas velhas razões, naquela que
ficou conhecida como I Guerra Mundial, que ditou o fim dos velhos impérios e
estabeleceu uma nova ordem mundial. Não passou muito tempo até que uma segunda
guerra mundial tivesse origem na Europa a partir da vontade de conquista da
Europa pelo regime nazi alemão.
Depois da II Grande Guerra que
acabou em 1945, os países da chamada Europa Ocidental decidiram encetar um
caminho de cooperação que ultrapassasse definitivamente as velhas querelas
europeias e criasse as condições para uma paz, enfim duradoura. Foi assim que,
logo em 1949, as nações da Europa Ocidental criaram o “Conselho da Europa”,
tendo em 1950 Robert Shuman apresentado um plano que veio, no ano seguinte, a
concretizar-se no Tratado Comum, subscrito pelos seis países fundadores da
Comunidade Europeia: Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e
Países Baixos. De início, tratava-se apenas de colocar as indústrias pesadas do
carvão e do aço desses países sob uma autoridade comum, assim se evitando que
qualquer um deles pudesse fabricar armas contra outros membros da comunidade.
O
êxito desta iniciativa levou os seis países membros a aprofundar a sua
cooperação económica, assinando em Março de 1957 o Tratado de Roma que criou a
Comunidade Económica Europeia, conhecida como “mercado comum”, visando a livre
circulação de pessoas, mercadorias e serviços entre os países membros. O sucesso da CEE levou a que
outros países desejassem pertencer-lhe e daí, os sucessivos alargamentos. Em
1973 aderiram a Dinamarca, a Irlanda e o Reino Unido. Em 1981 aderiu a Grécia e
em 1986 foi a vez da Espanha e de Portugal. Em 1995, entraram a Áustria, a Finlândia e a Suécia. Já no novo século
entraram mais doze países, tendo a nova União Europeia passado a abranger boa
parte da antiga Europa de Leste, tendo 27 Estados Membros e pedidos de mais 3
Estados para entrar.
Os sucessivos alargamentos levaram a um aprofundamento
político da EU, que passou a ter um papel muito para além do puramente
económico do seu início. Logo em 1979, os cidadãos europeus passaram a eleger
directamente os deputados do Parlamento Europeu. Em 1986 foi assinado o Acto
Único Europeu, com o objectivo de criar o “Mercado Único” concluído em 1993,
ano do Tratado de Maastricht. Em 1999 foi assinado o Tratado de Amesterdão e
abriu-se caminho aos acordos de Shengen que permitem aos europeus viajar dentro
de toda a União sem necessidade de mostrar passaporte. Em 2009 entrou em vigor
o Tratado de Lisboa que dotou a EU de instituições mais adaptadas às suas novas
dimensões e competências. Em 1 de Janeiro de 2002 foi introduzido o Euro nos
países aderentes à chamada Zona Euro. De referir que para entrarem na Zona Euro
os países se comprometem a cumprir condições específicas relativamente a
défices orçamentais e dívida pública.
Aquilo que a força das armas tentou impor por duas vezes em menos de cento
e cinquenta anos foi conseguido pela cooperação pacífica entre as nações
europeias, com o sucesso extraordinário de ainda conseguir paz nas fronteiras
europeias durante um período record da História.
Claro que a construção da unidade europeia não tem sido fácil no seu já
longo caminho. Desde o início que extremistas de ambos os lados do espectro
político se lhe opõem com todas as forças. É verdade que tem havido países que
mostram ter grande dificuldade em cumprir as regras, nomeadamente orçamentais,
mas a solidariedade europeia não tem sido palavra vã. Claro que não se pode
esperar que a maioria dos países que cumprem as regras aceites estejam
dispostos a pagar eternamente pelos desvios de poucos. Por isso, esta União
Europeia é democrática. Quem quiser sair, pode fazê-lo não correndo o perigo de
sofrer uma invasão militar, como sucedia em outros pactos políticos há poucas
dezenas de anos.
Aquilo que a União Europeia já conseguiu é demasiado valioso para todos os
europeus, especialmente aqueles que, como Portugal, sofreram atrasos sociais,
políticos e económicos durante séculos de afastamento da Europa. O que se pede,
ou mesmo exige aos líderes políticos, é que pensem no futuro dos portugueses e
se coloquem ao seu serviço, em vez de se preocuparem apenas com os seus ganhos
particulares imediatos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 30 de Março 2015
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