segunda-feira, 2 de março de 2015

RADICALIZOU-SE (?)



Confesso que estou farto desta conversa: o terrorista tal foi radicalizado na mesquita tal em Londres, Nova Iorque ou Berlim não interessa; o assassino não sei quantos foi radicalizado por se sentir perseguido pela polícia; jovens rapazes ou raparigas sempre ligados à internet nos seus quartos, radicalizaram-se e resolveram ir juntar-se ao dito estado islâmico na Síria. As notícias em si criaram uma imagem que se substituiu à realidade. Se formos procurar o significado de “radical” encontraremos que é aquele que regressou às origens, à raiz, por oposição à modernidade, o que não sucede com nenhum dos jovens ocidentais que resolve ir juntar-se ao dito estado islâmico. Será, no entanto, isso sim, o que acontece com os religiosos islamitas que adoptaram o fundamentalismo religioso, pretendendo que toda a sociedade obedeça à sua lei religiosa, em substituição das leis civis e que, de uma forma ou de outra, encontram um discurso que, pelo engano, consegue cativar jovens em processo de dificuldade de afirmação.
Contam, para atingirem os seus objectivos, com a paralisação provocada por processos de auto-culpabilização ou relativismo do ocidente não islamita ou mesmo cristão e a verdade é que têm conseguido até agora levar a sua avante, como se pode ver pela própria linguagem com que são referenciados na comunicação social.
Mas basta de complexos de culpa histórica. Claro que há umas centenas de anos houve a Inquisição e há mil anos houve as Cruzadas. Mas também houve a Revolução Francesa, origem do moderno liberalismo, que inventou a guilhotina e em menos de dez anos cortou a cabeça a mais pessoas do que as Inquisições conseguiram matar durante séculos. E, antes das Cruzadas, foram os próprios muçulmanos que, a golpes de cimitarras, instauraram um império/califado desde a Arábia até à Península Ibérica. 

Apesar de tudo isto, o Ocidente desenvolveu uma civilização de direitos humanos e de respeito pelas minorias como nunca houve antes. Uma civilização que respeita o passado e o seu legado histórico, social, mas também patrimonial e que deseja que os seus descendentes venham igualmente a desfrutar desse mesmo legado em liberdade.
O que se passa no dito estado islâmico é a negação de todo um património civilizacional da humanidade e é assim que tem de ser denunciado e combatido.
O auto denominado “estado islâmico” adoptou práticas infames e autenticamente selvagens contra todos os que define como inimigos do Islão. Pior ainda, tornou as suas acções contra pessoas tais como lapidações, decapitações com facas pequenas, flagelações, queima de prisioneiros em jaulas, lançamentos de pessoas do alto de prédios, assassínios na rua, crucificações, execuções colectivas de dezenas ou centenas de pessoas etc. em actos de propaganda, pela sua filmagem e publicação na internet, algo que nunca antes havia sido feito.
Nos últimos dias, aos crimes contra pessoas resolveram acrescentar a destruição de património histórico-cultural da humanidade. Assim, queimaram milhares de livros e manuscritos raros da biblioteca de Mossul, fazendo uma fogueira com livros culturais, científicos, infantis e religiosos. Destruíram ainda uma igreja e o teatro da universidade local. Não contentes, destruíram ainda estátuas com valor incalculável para a História da Humanidade e, como habitualmente, filmaram tudo e publicaram na internet, explicando que Maomé fez o mesmo no seu tempo e que ele próprio enterrou ídolos com as suas mãos, dando-lhes o exemplo para o que devem fazer.
A barbárie continua à solta. Para se financiar, o dito “estado islâmico” retira para vender órgãos aos seus prisioneiros, que a seguir enterra em valas comuns.
Para além de uns bombardeamentos aéreos de meia dúzia de países directamente afectados, normalmente pelo homicídio em directo de cidadãos seus, não se vê a comunidade internacional a tomar medidas para acabar com este estado de coisas. Designadamente, a ONU, o que está a fazer? Na verdade, a notória incapacidade internacional para lidar com o chamado “estado islâmico” montado por umas escassas dezenas de milhares de homens impressiona tanto como a sua barbárie.

Sem comentários: