terça-feira, 14 de julho de 2015

Escolher Presidente




Daqui a cerca de seis meses escolheremos quem será presidente da República durante os próximos dez anos dado que, atendendo ao histórico, quem for eleito (ou eleita) pelos portugueses no início de 2016 sê-lo-á de novo muito provavelmente cinco anos depois para um segundo mandato. Se os últimos anos foram importantes pela difícil situação económica e social decorrente da crise continuada que desembocou no resgate de que acabamos de sair, os próximos serão decisivos para o nosso futuro colectivo a médio e longo prazos.
As respostas aos mais diversos problemas, desde as reformas de redefinição das funções de soberania, às opções económicas e à adaptação do estado social às novas circunstâncias decorrentes da mudança das pirâmides etárias e das nossas possibilidades, deverão associar-se à União Europeia renovada que obrigatoriamente vai sair da actual crise grega. Para que tal seja possível, os futuros governos deverão ter em Belém alguém que, no topo da hierarquia do Estado, perceba tudo isso e seja factor de união entre os portugueses.
A escolha que os portugueses fizerem para a presidência da República será, assim, crucial para o futuro do país. Não se poderá cair no caminho perigoso da demagogia e do populismo, nem das propostas de quem entra facilmente na área de actuação do governo ou dos tribunais. Deveremos exigir um conhecimento profundo e sustentado do sistema político, dos seus fundamentos e das relações entre os diversos órgãos de soberania com os seus pesos e balanços relativos, sem esquecer a formação cultural e histórica que dá a percepção permanente das razões do que vai sucedendo. Isto a nível nacional, mas também a nível europeu, sem esquecer as relações com os PALOPS. Para os tempos que se aproximam, não poderemos ter um presidente que, embora seja muito conhecedor de uma área específica, ainda que essa área seja a da gestão, ou que seja muito preocupado com problemas sérios como o da corrupção se fique por aí, porque essas questões não se resolverão sem uma visão esclarecida e polivalente da sociedade. Não poderemos ter na presidência alguém sensível ao canto das sereias que, perante as visões fantasiadas e idílicas de amanhãs fantásticos, nos leve em três tempos aos infernos das consequências trágicas das ideologias extremistas, tenham elas a cor que tiverem. Nunca poderemos ter na presidência alguém que não saiba os limites dos diversos poderes e que se vá imiscuir nas competências dos outros poderes soberanos, principalmente nas áreas governativas, mas sim alguém que seja capaz de, com o seu conselho avisado e a sua colaboração discreta e inteligente, poder contribuir para uma sã e eficaz correlação de poderes.
Precisamos de quem seja capaz de falar com todos os partidos, mas que saiba de segurança profunda dada pela experiência e conhecimento, que é ao centro político que se encontram as soluções dos problemas do país, evitando experimentalismos perigosos. Alguém que, falando com os partidos, seja capaz de estabelecer o necessário distanciamento, tomando as suas decisões de forma isenta e independente, mesmo do seu próprio partido de origem.
Dado que antes das presidenciais ainda vamos ter eleições legislativas, os potenciais candidatos que surgiram até agora dificilmente respondem globalmente aos quesitos que acima coloquei, para além de serem pessoas estimáveis que merecem o nosso respeito e consideração pessoais. A meu ver, de entre todos os nomes que têm sido falados, duas pessoas estarão em condições para dar essa resposta e aguardarão, naturalmente, o fim das próximas eleições para anunciarem as suas candidaturas. 
Qualquer uma delas, mais à esquerda e mais à direita, poderá dar o seu contributo ao país da forma que me parece necessária. Refiro-me a Marcelo Rebelo de Sousa e a Maria de Belém.
Pelo que conheço das suas personalidades, a seriedade, capacidade de entrega ao país e independência pessoal estão em ambos acima de qualquer suspeita. Qualquer um deles saberá estar para lá das vontades e anseios de protagonismo ou mesmo de obtenção de poder pelos cidadãos que legitimamente lhes derem o seu apoio.
Que ambos trabalhem nos próximos tempos para que as suas candidaturas venham a ser a realidade de que o país precisa e mesmo, por que anseia. E que, logo depois das legislativas, mostrem ao país que há possibilidade de escolhas de altíssima qualidade no país, bem acima das fracas prestações de muitos políticos que por aí andam, tantas vezes levados ao colo por interesses inconfessáveis.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Julho de 2015


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