As
respostas aos mais diversos problemas, desde as reformas de redefinição das
funções de soberania, às opções económicas e à adaptação do estado social às
novas circunstâncias decorrentes da mudança das pirâmides etárias e das nossas
possibilidades, deverão associar-se à União Europeia renovada que
obrigatoriamente vai sair da actual crise grega. Para que tal seja possível, os
futuros governos deverão ter em Belém alguém que, no topo da hierarquia do
Estado, perceba tudo isso e seja factor de união entre os portugueses.
A
escolha que os portugueses fizerem para a presidência da República será, assim,
crucial para o futuro do país. Não se poderá cair no caminho perigoso da
demagogia e do populismo, nem das propostas de quem entra facilmente na área de
actuação do governo ou dos tribunais. Deveremos exigir um conhecimento profundo
e sustentado do sistema político, dos seus fundamentos e das relações entre os
diversos órgãos de soberania com os seus pesos e balanços relativos, sem
esquecer a formação cultural e histórica que dá a percepção permanente das
razões do que vai sucedendo. Isto a nível nacional, mas também a nível europeu,
sem esquecer as relações com os PALOPS. Para os tempos que se aproximam, não
poderemos ter um presidente que, embora seja muito conhecedor de uma área
específica, ainda que essa área seja a da gestão, ou que seja muito preocupado
com problemas sérios como o da corrupção se fique por aí, porque essas questões
não se resolverão sem uma visão esclarecida e polivalente da sociedade. Não
poderemos ter na presidência alguém sensível ao canto das sereias que, perante
as visões fantasiadas e idílicas de amanhãs fantásticos, nos leve em três
tempos aos infernos das consequências trágicas das ideologias extremistas,
tenham elas a cor que tiverem. Nunca poderemos ter na presidência alguém que
não saiba os limites dos diversos poderes e que se vá imiscuir nas competências
dos outros poderes soberanos, principalmente nas áreas governativas, mas sim
alguém que seja capaz de, com o seu conselho avisado e a sua colaboração
discreta e inteligente, poder contribuir para uma sã e eficaz correlação de
poderes.
Precisamos
de quem seja capaz de falar com todos os partidos, mas que saiba de segurança profunda
dada pela experiência e conhecimento, que é ao centro político que se encontram
as soluções dos problemas do país, evitando experimentalismos perigosos. Alguém
que, falando com os partidos, seja capaz de estabelecer o necessário
distanciamento, tomando as suas decisões de forma isenta e independente, mesmo
do seu próprio partido de origem.
Dado
que antes das presidenciais ainda vamos ter eleições legislativas, os
potenciais candidatos que surgiram até agora dificilmente respondem globalmente
aos quesitos que acima coloquei, para além de serem pessoas estimáveis que
merecem o nosso respeito e consideração pessoais. A meu ver, de entre todos os
nomes que têm sido falados, duas pessoas estarão em condições para dar essa
resposta e aguardarão, naturalmente, o fim das próximas eleições para
anunciarem as suas candidaturas.
Qualquer uma delas, mais à esquerda e mais à
direita, poderá dar o seu contributo ao país da forma que me parece necessária.
Refiro-me a Marcelo Rebelo de Sousa e a Maria de Belém.
Pelo
que conheço das suas personalidades, a seriedade, capacidade de entrega ao país
e independência pessoal estão em ambos acima de qualquer suspeita. Qualquer um
deles saberá estar para lá das vontades e anseios de protagonismo ou mesmo de
obtenção de poder pelos cidadãos que legitimamente lhes derem o seu apoio.
Que
ambos trabalhem nos próximos tempos para que as suas candidaturas venham a ser
a realidade de que o país precisa e mesmo, por que anseia. E que, logo depois
das legislativas, mostrem ao país que há possibilidade de escolhas de altíssima
qualidade no país, bem acima das fracas prestações de muitos políticos que por
aí andam, tantas vezes levados ao colo por interesses inconfessáveis.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Julho de 2015
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