Lembro-me bem de, há já bastantes anos, o Diário de Coimbra ter publicado uma notícia sobre o desenvolvimento de um forno solar perfeitamente funcional e comercializável por um aluno liceal da nossa Cidade, chamado Pedro Saraiva. Coimbra tinha ali o primeiro contacto com a criatividade e capacidade empreendedora de alguém que se viria a tornar conhecido em todo o país. Devo fazer aqui uma declaração de interesses, dado que, embora muito mais tarde, vim a desenvolver não só uma grande admiração por Pedro Saraiva, mas também uma relação de amizade pessoal.
A carreira académica de Pedro Saraiva foi notável e não podia ser de maior sucesso. Licenciou-se brilhantemente em Engenharia Química na Universidade de Coimbra, podendo aqui prestar testemunho de uma conversa que tive sobre ele, enquanto aluno, com o professor de uma das cadeiras do seu curso e que me disse ter classificado o Pedro Saraiva com um vinte, sendo aliás o único vinte que deu na sua vida de professor universitário. Sendo ele próprio um cientista rigoroso e exigente mas justo, concluiu que aquele aluno sabia pelo menos tanto como ele sobre aquela matéria de química pelo que, em consciência, aquela era a única classificação que lhe poderia atribuir. Pedro Saraiva viajou depois para Boston nos Estados Unidos, para se doutorar com menos de trinta anos de idade no Massachusetts Institute of Technology (MIT) que é, como sabemos, uma das escolas de Ciências e Tecnologia mais prestigiadas do mundo, onde vários prémios Nobel são professores. Regressado à Universidade de Coimbra, onde hoje é Professor Catedrático, desenvolveu uma carreira como cientista e investigador na área da engenharia química, mas também nas áreas da qualidade, da inovação, do empreendedorismo, desenvolvimento de processos e sistemas e ainda de gestão. Entretanto, foi vice-reitor da Universidade, sabendo-se da sua acção profícua na ligação da investigação universitária ao mundo empresarial.
Ele próprio desenvolveu uma actividade empresarial intensa, provando que não se é empreendedor a falar sobre isso, mas a fazer, umas vezes com sucesso total, outra vezes falhando; a que acrescentou ainda uma permanente acção associativa nas áreas do empreendedorismo e vida empresarial
A certa altura da sua vida Pedro Saraiva dedicou-se à causa pública. Foi presidente da Comissão de Coordenação da Região Centro, função a que se dedicou com toda a sua capacidade e conhecimento.
Pedro Saraiva foi também Deputado à Assembleia da República durante dois mandatos, até à legislatura que agora termina. Durante este último mandato, calhou-lhe ser o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao BES. Todos tivemos oportunidade de ir observando as intervenções de algumas das personalidades chamadas a depor nessa CPI, percebendo-se a complexidade do caso e a dificuldade de, através das declarações contraditórias, umas ao ataque e outras à defesa, compreender como a dívida do BES foi circulando por um conglomerado de empresas. Mostrando a sua inteligência fulgurante e a sua memória prodigiosa, o Deputado Pedro Saraiva, de tal forma conseguiu deslindar aquele emaranhado, com total independência, mas também aplicando todos os seus conhecimentos matemáticos, de sistemas e de comportamento de processos complexos, que o relatório preliminar que produziu recebeu rasgados elogios de todos os grupos parlamentares, da esquerda à direita.
O Pedro Saraiva, tomo a liberdade de o tratar assim aqui, como aliás no dia-a-dia toda a gente que o conhece o faz é, apesar do que acima fica escrito e que é apenas uma pequena parte do que sobre ele poderia ser dito, uma pessoa humilde, nunca se lhe ouvindo qualquer manifestação de importância ou de superioridade. Não levanta a voz a ninguém, nunca o ouvi apresentar-se como professor da universidade e nunca mas mesmo nunca, como professor catedrático, nem sequer para fazer ver algum ponto de vista, ainda que com razão. À formação superior que recolheu numa das melhores universidades do mundo além da Universidade de Coimbra, alia de facto uma educação exemplar, assim brilhando também por aqui numa cidade que vive ainda hoje mergulhada numa doutorice tantas vezes bafienta.
No fim do seu mandato como Deputado que exerceu de forma brilhante, e antes das eleições para uma nova legislatura na qual não vai participar é-lhe devido, na sua terra, o reconhecimento pelo que fez que aqui, pela minha parte, deixo de forma simples. De facto penso que, se é verdade que o silêncio é muitas vezes de ouro, não é menos verdade que ficar calado é muitas vezes significado de medo e hipocrisia, deixando tantas vezes o terreno livre para que a mediocridade faça o seu caminho, o que se reflecte obrigatoriamente num futuro pior do que poderia e deveria ser.
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