A sinistralidade
automóvel é um problema gravíssimo pelo sofrimento e custos sociais e
económicos que provoca às famílias atingidas e à sociedade em geral. É
conhecido o conjunto de factores que podem estar associados aos acidentes de
viação, em conjunto ou por si só: as características da via e do veículo e
ainda do próprio condutor, para além da envolvente, como as condições
meteorológicas.
Nos últimos dez ou
quinze anos, a sinistralidade automóvel em Portugal conheceu uma diminuição
assinalável. Tal deveu-se a uma melhoria radical das nossas estradas, a um
rejuvenescimento do parque automóvel e também, por certo, a um policiamento
mais eficaz com vista, essencialmente, a descer a velocidade habitual de
circulação dos automobilistas portugueses.
Contudo, a partir
de 2014/2015 verificou-se uma inversão na tendência de melhoria da nossa
sinistralidade automóvel. Relativamente a 2014, no ano de 2015 registaram-se
mais 5.569 acidentes rodoviários num total de 122.800, um acréscimo de quase
5%, que provocaram 478 mortos.
Têm sido apontadas
várias razões para tal facto, nomeadamente ligadas a alguma retoma económica que
provoca um aumento de viaturas em circulação nas estradas o que, no entanto,
explicará apenas uma pequena parte do problema. Sucede que o aumento da
sinistralidade nos últimos dois ou três anos se tem vindo a verificar em todo o
mundo e, em particular, na Europa e nos EUA, pelo que haverá razões comuns,
para além do circunstancialismo deste ou daquele país.
Dado que as
estradas são as mesmas e os veículos automóveis são cada vez mais seguros, as
causas para o aumento do número de acidentes residirão certamente no
comportamento dos condutores. Os especialistas apontam uma razão essencial para
o actual aumento da sinistralidade e tem a ver com a utilização de meios de
comunicação dentro do carro. Todos nós, que diariamente nos deslocamos na
cidade verificamos que, na realidade, é enorme o número de condutores que, com
a maior descontracção, conduzem enquanto seguram o telemóvel junto ao ouvido com
uma das mãos. Apesar da existência de inúmeros sistemas que permitem falar ao
telefone mantendo as mãos livres, penso que não exagerei se disser que, na
maioria dos casos não são utilizados, seja por razões de privacidade na
conversa, seja por qualquer outro motivo ligado à opção pelo sistema mais
fácil, que é pegar no telefone. Mas o problema não se restringe às chamadas. O
telefone é hoje uma ferramenta de comunicação potente, que permite ler e enviar
mensagens escritas, fazer o mesmo com e-mails e comunicar através das redes
sociais. Para além da distracção causada pelos telefonemas, o desvio do olhar da
estrada para o aparelho potencia de forma terrível o surgimento de acidente e é
precisamente isso que se verifica actualmente em todo o mundo. O número de
acidentes não aumenta nas auto estradas e sim em meio urbano ou sub-urbano
onde, por a velocidade ser inferior, os condutores tendem a baixar a defesa na
condução e se distraem mais facilmente.
Não por acaso,
surgem cada vez mais notícias de que o desenvolvimento da indústria automóvel
está prestes a seguir no caminho dos veículo que circularão sem intervenção de
condutor. A enorme capacidade da informática nos dias de hoje, a possibilidade
de utilizar sensores que analisam o meio ambiente de forma mais completa que as
pessoas e a possibilidade de interligação automática entre veículos e entre
eles e as infraestruturas viárias está a permitir o surgimento de viaturas que
se conduzem por elas mesmas. Para além dos milhares de veículos experimentais
da Google que circulam na Califórnia, há marcas que já oferecem a possibilidade
de condução completamente automática em auto-estradas com velocidade até 130
Km/h. A vontade ou necessidade de as pessoas estarem permanentemente conectadas
leva a que prescindam da condução em favor dessa situação, o que está a levar a
indústria automóvel a tentar encontrar novas soluções que estão já a mostrar um
futuro rodoviário completamente diferente daquele que conhecemos até hoje.
Acresce uma maior consciencialização da tremenda tragédia dos mortos e
incapacitados por acidentes rodoviários, situação que se considera cada vez
mais inaceitável.
Os automatismos dos
veículos automóveis já estão aí há alguns anos, em praticamente todos os
segmentos, dos mais económicos aos mais sofisticados. Muitos dos condutores não
se aperceberão disso e a esmagadora maioria nem perceberá o seu funcionamento,
mas os veículos têm hoje diversos sistemas que funcionam independentemente da
vontade ou da acção dos condutores. Desde o ABS até sistemas de detecção automática
de peões, de leitura de sinalização rodoviária e de detecção de vias até aos
sistemas electrónicos de controlo de estabilidade e de tração, o caminho tem
sido o de aumentar a segurança activa e passiva dos veículos, para além das
capacidades dos condutores.
O próximo passo, em
grande parte ditado pelos comportamentos actuais dos condutores, será o da
auto-condução generalizada dos veículos. E não deverá estar tão longe como o
leitor possa imaginar.
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