A chamada operação
“lava-jato” leva já dois anos e promete não deixar pedra sobre pedra na
política brasileira, fazendo lembrar o que sucedeu em Itália com a operação
“mãos limpas” na década de 1990. Depois de ter descoberto as ligações entre as
maiores construtoras do Brasil, a Odebrecht, a Andrade Gutierrez e a Camargo
Correa e os principais dirigentes do Partido dos Trabalhadores tendo como placa
giratória a Petrobras, a Justiça brasileira chegou finalmente ao ex-presidente
Lula da Silva, não há muito tempo doutorado Honoris Causa pela Universidade de Coimbra,
recorde-se. A partir daqui, se antes já eram perceptíveis as manobras políticas
para travar a Justiça, passou a assistir-se a algo inimaginável num país
democrático, com a tentativa de nomear Lula da Silva para o Governo, com o
objectivo confesso de o subtrair aos juízes.
Para se perceber o
que se passa no Brasil, não se pode deixar de referir a actual situação
económica do país. Quando Fernando Henriques Cardoso entregou a presidência a
Lula da Silva em Janeiro de 2003, o Brasil tinha sofrido uma completa reforma
económica a partir do “Plano real”, que havia retirado o país de uma década
terrível do ponto de vista económico, colocando o Brasil na senda do crescimento.
Lula teve a inteligência de prosseguir com a política económica de Fernando H
Cardoso com um bom crescimento, enquanto criava uma série de programas para
reduzir a pobreza do país, como o Bolsa Família e Fome Zero. A sucessora Dilma
Rousseff veio, no entanto, a mostrar-se de uma grande incapacidade para
garantir que o Brasil continuasse no bom caminho, em termos económicos.
Em 2015 a
economia retraiu 3,8% e neste momento a economia desacelera há sete trimestres
consecutivos. O consumo caiu 4%. O investimento cai pelo segundo ano
consecutivo, acumulando actualmente 18%. O desemprego está a crescer, com 1,5
milhões novos desempregados em 2015, estimando-se para este ano que esse número
suba aos 2 milhões. De acordo com os analistas internacionais, a redução do PIB
per capita em 2015 e 2016 poderá ser superior a 10%, sem se prever sequer que
em 2017 possa recuperar, antes pelo contrário. Neste caso, o Brasil estará a
passar pela pior crise desde 1901, altura em que teve 3 anos sucessivos de
recessão. A inflação em 2105 foi de 11%, o que traz receios de descontrolo,
perante o estado geral da economia. A dívida pública deverá crescer 11 pontos
em apenas dois anos, não havendo sinais de o governo de Dilma pretender diminuir
o défice das contas públicas.
A razão
das gigantescas manifestações contra a política da Presidente Dilma reside
nesta trágica situação da economia brasileira.
Neste
contexto, a descoberta de que as elites governativas participaram num
gigantesco esquema de corrupção que lhes garantiu enormes fortunas, só poderia
criar as condições propícias à revolta das classes mais atingidas, isto é, as
classes médias. A atitude da Presidente Dilma tentando subtrair Lula à Justiça para
obstruir a sua acção é de uma imprevidência inacreditável, para dizer o mínimo.
Entre nós
espanta que, em vez de se discutirem os problemas como a situação económica do
Brasil e a corrupção ao mais alto nível, se troquem os factores e se acuse a
Justiça brasileira de perseguição a políticos, no caso precisamente com a mesma
orientação ideológica. Ao arranjarem desculpas ideológicas para os corruptos, transformando-os
em perseguidos em vez dos gangsters que na verdade são, apenas nos fazem pensar
no que fariam se o poder lhes fosse parar às mãos.
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